
Texto de Ana Tulha
Fattema e o marido chegaram da Líbia sem conhecer ninguém. Através do SPEAK, inscreveram-se para ensinar árabe, em troca de umas aulas de português. Entretanto, Fattema abriu um negócio, com uma inglesa que conheceu no grupo, e até foi contratada pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras para fazer traduções de árabe para português.
Valeria veio do México sem um único amigo. Contra a solidão dos dias, inscreveu-se no SPEAK. Como tutora e aprendiz. Tempos depois, seria ela própria a ajudar à expansão do projeto, levando-o para Aveiro. Famakan teve de trocar o Mali por Itália e a chegada foi tudo menos simples. Mas foi aprender italiano e acabou contratado por um hotel de Turim. São histórias de sucesso e integração que têm um denominador comum: o projeto SPEAK, liderado por Hugo Aguiar.
Mestre em Engenharia Informática, Hugo, 32 anos, natural de Leiria e residente em Lisboa, trabalhou durante vários anos na área das Tecnologias da Informação (com uma passagem pela Google), mas acabaria por se dedicar a tempo inteiro ao SPEAK, que ajudou a criar – no fundo, “um programa de partilha de conhecimentos linguísticos e culturais onde qualquer um se pode voluntariar para ensinar uma língua e cultura do seu conhecimento, em troca de participação como aluno de uma nova língua”.
Inicialmente incubado pela Associação Fazer Avançar, de Leiria, o SPEAK foi apresentado, já com a tecnologia que lhe está associada, em setembro de 2014. Foi também por essa altura que deixou de ser um projeto exclusivo de Leiria, para chegar a Coimbra e a Lisboa. Já o spin-off para empresa aconteceu em 2017. Depois, foi sempre a crescer. “Há pouco mais de um ano, criámos um modelo de franchising, que se chama ‘Leva o SPEAK para a tua cidade’, que nos permite aumentar mais rapidamente o impacto do programa”, explica Hugo.
Os números comprovam o sucesso. Hoje, o SPEAK está já em 16 cidades (nove em Portugal, sete no estrangeiro, incluindo Madrid, Berlim e Bruxelas), registando, até hoje, quase 9 mil participantes e mais de 14 mil horas de intercâmbios.
Depois, há as distinções. Além do segundo lugar num torneio de inovação social organizado pelo European Investment Bank e da inclusão numa seleção Google/Financial Times, relativa às organizações a manter debaixo de olho, o SPEAK disputará em maio a final internacional do concurso de empreendedorismo social Chivas Venture.
“Neste momento, estamos a tentar escalar o SPEAK e torná-lo o mais ágil e replicável possível”, aponta Hugo Aguiar. Os migrantes agradecem.