Há uma bola de golfe que é um bombom para os peixes

Texto de Filomena Abreu

As balas, neste desporto de bolas, vêm de todos os lados. O golfe é acusado de ser caro. Elitista. Um grande consumidor de água. Espantalho de aves e poluidor de oceanos e rios. Acusações por vezes sustentadas. No que toca à contaminação das águas muito bem sustentadas.

Exemplos? Ainda há dois meses, no jornal espanhol “El País”, podia ler-se que, “segundo um artigo científico publicado no Boletim Marítimo de Poluição, o fundo marinho das costas dos Estados Unidos está repleto de centenas de milhares de bolas de golfe que, intencionalmente ou não, foram lançadas ao mar por alguns dos mais de 20 milhões de praticantes que o desporto tem no país.” Uma das autoras do estudo, Alex Webber, afirma que só ela e o pai, nos últimos três anos, recolheram 50 mil bolas do oceano, na Califórnia.

O seu desagrado juntou-se ao dos cientistas que, há uns anos, mergulharam no Lago Loch Ness, e, em vez do mítico monstro, acharam cem mil bolas. Motivos suficientes para levar a Federação Internacional de Golfe a empenhar-se em mudar as regras e fazer de tudo para impedir que as esferas fossem parar às águas.

Mas as normas são mais eficazes se contarem com a consciencialização ambiental, principalmente dos jogadores. Foi precisamente por causa disso que Albert Buscató, engenheiro agrónomo, teve uma ideia genial.

Em 2006, quando se encontrava nos Estados Unidos para melhorar o inglês, aproveitou para aperfeiçoar também o seu “swing” num campo em Manhattan. Quando as bolas iam para longe, batiam numa rede que as impedia de cair ao rio Hudson. Nesse tempo, já existiam bolas biodegradáveis, mas o empresário espanhol pensou em juntar-lhes algo especial. E se fosse possível jogar golfe em zonas aquáticas, sem preocupação com a contaminação ambiental e, ao mesmo tempo, alimentar os peixes?

A ideia rapidamente virou uma oportunidade de negócio. Criar bolas de uso único, 100% biodegradáveis, mais baratas e que seriam comidas por animais marinhos. Não havia nada assim no mercado com cerca de cinco mil patentes. O passo seguinte foi criar a empresa Albus Golf e desenvolver o projeto.

Objetivos: construir uma bola capaz de suportar o impacto de mais de mil quilos de um taco de golfe, sem amassar e sem se desfazer; garantir que assim que caísse à água começasse a biodecompor-se, como um cubo de açúcar, em 48 horas, revelando no seu interior uma espécie de bombom para os peixes. Quando conseguiu, em 2010, nasceram as ecobioballs.

Desde então, a empresa, com sede em Barcelona, já vendeu mais de 750 mil bolas para 53 países. Cada caixa de 100 unidades custa 98 euros, mais baratas do que as normais. Entre os clientes há hotéis próximos do mar nas Maldivas, nos Emirados Árabes, nas Caraíbas. Iates privados, cruzeiros e muitos particulares. As bolas não são oficiais. Por isso, os clubes não costumam comprá-las. Mesmo assim, com esta opção biodegradável, todos ganham. O ambiente, os jogadores e os peixes.

Curiosidades

Por que as bolas têm alvéolos

Para as ajudarem a impulsionar. No século XIX, quando surgiram as bolas de borracha, percebeu-se que, quanto maior o desgaste, maior distância atingiam. Os fabricantes passaram a furá-las com martelos pontiagudos. Em 1890, o revestimento foi padronizado e as bolas ficaram parecidas com as atuais, com até 500 alvéolos.

Espécie de ouro branco

Estima-se que, só nos EUA, 300 milhões de bolas sejam perdidas todos os anos. O que cria um mercado para aqueles que estão dispostos a recuperá-las. Algumas empresas são especializadas na caça deste objeto, uma espécie de ouro branco.

A água faz-lhes mal

As bolas normais, que passaram oito dias em água, foram posteriormente batidas menos cinco metros em média do que as bolas novas da mesma referência. Bolas que passaram três meses submersas em água viajam menos dez metros. Bolas mantidas em água durante seis meses alcançam 14 metros a menos.