“Há muitos homens que não sabem bem qual é o trabalho das suas mulheres”

Notícias Magazine

Hoje nas nossas entrevistas que nunca fiz temos João Ruivo. Conhecido por ser marido da secretária de Estado da Cultura, Ângela Ferreira, e exatamente por isso ter sido nomeado de modo formal e exonerado no mesmo dia. Foi a primeira vez que o senhor que imprime o “Diário da República” teve de fazer uma errata. Senhor João Ruivo como foi essa experiência de passar pelo Governo durante 20 minutos?
Eu fui nomeado técnico especialista pela secretária de Estado do Desenvolvimento Regional mas, depois, quando a minha mulher chegou a casa, disse-me que ela era secretária de Estado da Cultura e tive de me demitir. Já não me lembrava. Sabe que há muitos homens que não sabem bem qual é o trabalho das suas mulheres. Elas vão lá para o sítio onde elas trabalham e nós não fazemos muitas perguntas.

Não deve ter sido fácil tomar essa decisão.
Não foi não. Estivemos quase a divorciar-nos.

Ilustração: Mafalda Neves

Para tentarem manter os dois o cargo?
Não, por causa da discussão de quem é que se demitia. Acabámos por tirar à sorte. Saiu cara e eu tinha dito coroa.

Raios, você não tem sorte ao jogo nem ao amor.
Mas em compensação vai fazer o meu prato favorito todas as quintas durante um mês.

Bem bom, e apesar de tudo ainda conta para o currículo. Ainda foi técnico especialista da secretária de Estado do Desenvolvimento Regional durante quase meia hora.
Pois, só é pena não dar direito a uma pensão.

Mas há aqui uma coisa que não bate certo, porque uma fonte do Ministério do Planeamento, e cito, “confirmou a saída de João Ruivo a pedido deste, e negando que a exoneração esteja relacionada com o facto de ser marido da secretária de Estado da Cultura”.
Isso é porque essa fonte do Ministério do Planeamento é um primo meu e não quis ser chato.

Deixa-me cá fazer o ponto de situação. Houve o caso de Pedro Nuno Santos e de Ana Catarina Gamboa. Da ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, casada com o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita. Da Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, filha do ministro do Trabalho e da Segurança Social… Fiquei cansado, parece o resumo de uma telenovela da TVI. Só falta haver secretários de Estado gémeos. E contando consigo esta já é a terceira demissão no Governo, no âmbito do chamado “Family Gate”.
Eu prefiro chamar-lhe “Family GoT”. No fundo são famílias como o “Game of Thrones” e aos poucos e poucos vão caindo uns e outros.

Pois. O meu receio é que, com tanta gente da mesma família, se alguém morre, este Governo cai se começarem a discutir as partilhas.