Greta Thunberg: a desobediente civil

Foto: Morris Mac Matzen/Reuters

Greta Thunberg prefere a ação ao discurso. Em meados de agosto de 2018, assentou arraiais nas escadas do parlamento sueco, em Estocolmo, todos os dias, durante o horário escolar. Quem por ali passava, parava para conversar com a grevista, elogiar o esforço, oferecer-lhe alimentos.

A greve às aulas como forma de luta contra as políticas que provocam alterações climáticas deu origem ao movimento Fridays for Future – todas as sextas-feiras, Thunberg regressa às escadas do Riksdagen, iniciativa que se tornou viral, com jornadas de luta em vários países. Uma nova está agendada para 15 de março.

Entre as “teen” mais influentes do planeta, ao lado por exemplo da ativista e feminista americana Marley Dias, 14 anos, rosto da campanha #1000BlackGirlBooks, ou da atriz ugandesa Madina Nalwango, 17 anos, protagonista de Queen of Katwe, da Disney, as palavras desta rapariga de ação são, também, armas.

“É o sofrimento de muitos que paga pelos luxos de poucos”, disse na Cimeira do Clima das Nações Unidas, em dezembro de 2018. “Estamos a ficar sem desculpas e sem tempo. Viemos aqui para que vocês saibam que a mudança está a chegar quer vocês gostem ou não. O poder é do povo.”

Compra apenas o necessário, consome o essencial. Não come carne, cultiva vegetais numa horta familiar, vive numa casa amiga do ambiente. Desloca-se diariamente de bicicleta e o carro elétrico familiar é usado apenas quando não há alternativa. Não anda de avião. Filha de um ator e de uma conhecida cantora de ópera, foi-lhe diagnosticado, assim como a irmã mais nova, Beata, síndrome de Asperger.

Os pais reconhecem o potencial da diferença neurológica, sobretudo a invulgar capacidade de concentração. “Eu posso fazer a mesma coisa por horas”, disse à “The New Yorker”. Com oito anos percebeu os perigos ambientais – nunca mais abandonou a causa. Sobretudo as alterações climáticas.

“Da minha experiência pelas escolas, é talvez a preocupação mais recorrente entre os jovens”, diz Heloísa Apolónia. Compreensível, para a deputada de Os Verdes : “Esta geração está a ‘levar’ sobretudo com os fenómenos extremos e daí darem-lhes tanta importância”.

Pode uma ação individual fazer a diferença? Para Beatriz Goulart Pinheiro, 24 anos, estudante de engenharia ambiental da Ecolojovem (plataforma de Os Verdes), “as ações individuais não serão consequentes se não se tornarem em ações coletivas. O pensamento e a ação não podem ser individualizados”.

Carlos Teixeira, biólogo e dirigente do Livre, sublinha que “as iniciativas individuais e as coletivas são fundamentais”. Considerando estarmos perante uma “questão civilizacional e de solidariedade geracional”, ressalva “o trabalho fantástico de muitos jovens em todo o Mundo, incluindo nos EUA, onde a questão está mais polarizada”.

Greta Thunberg pergunta: “Há quem diga que devia estar na escola: mas por que razão hei de preparar-me para um futuro que pode não existir?”. Roga: “Quero que vocês sintam o medo que sinto todos os dias”. E avisa: “Perante coisas erradas posso ficar muito zangada”.