Gaspar Varela: uma estranha forma de vida

Foto: Pedro Rocha/Global Imagens

Por Alexandra Tavares-Teles

Sabe que tem sobre si os holofotes, assume, “como sempre”, a responsabilidade, obriga-se “a dar o melhor”, não escala o céu – pelo contrário, tenta “ter sempre os pés bem assentes na terra”, e confia no futuro, quer dizer “a tocar guitarra e a produzir música para sempre”.

Muito entusiasmado com esta fase, está consciente da “grande oportunidade que é”, diz, por escrito, à “Notícias Magazine”, poucas horas depois do arranque da digressão “Madame X Tour”, de Madonna. A relação com a cantora “é pessoal”. Pouco mais pode dizer: apesar da empatia, que é pública, obrigações de reserva e privacidade constam do contrato assinado.

Bisneto de Celeste Rodrigues e sobrinho-bisneto de Amália, é redutor dizer de Gaspar que tem o talento no sangue. Tem, seguramente. Mas há muitas horas de trabalho, e de esforço, no caminho deste rapaz de 15 anos. De sofrimento. “Doze cordas de aço fazem da guitarra portuguesa um instrumento duro, muito violento, ainda mais para uma criança”, lembra a compositora e guitarrista Luísa Amaro.

Camané, que o conhece desde bebé, testemunha a inclinação precoce de Gaspar pelo fado e pela guitarra. Porém, acrescenta o fadista, “só nos dois últimos anos, anos em que cresceu muito, ficou claro que seria um guitarrista”. Com tudo para ser um dos grandes: “Sobretudo, com tempo e bom gosto, bem raríssimo e fundamental”.

De Nova Iorque, Diogo Varela Silva, regressa aos primeiros anos de paternidade: “A nossa obrigação foi dar-lhe, desde muito cedo, apoio. E criar-lhe as oportunidades”. Gaspar Varela aprendeu a tocar guitarra por causa da bisavó. Tinha 7 anos. Aos quatro, desdenhando os brinquedos, sonhava já acompanhar a fadista. Começou por improvisar com uma raqueta. Depois, numa guitarra de plástico. No dia do sexto aniversário, recebeu a primeira guitarra a sério, oferecida pelos pais. “Chorou de alegria, acho que foi o melhor presente de sempre”, recorda Diogo Varela Silva.

Teve o privilégio de ter sido embalado pela voz de Celeste. Apaixonou-se pelo fado. Fazia questão de assistir aos espetáculos da bisavó. Celeste, numa entrevista de 2015 à NM, não escondia o orgulho. Inclusivamente no nome escolhido pelo neto: “Acho melhor assim. Já eram Rodrigues a mais. Varela está bem. O bisavô era ator (Varela Silva), o pai, o meu neto Diogo, é ator e realizador, por isso, também está dentro do meio”.

A compositora e guitarrista Luísa Amaro fala de “um jovem com o Mundo à sua frente”. Ouviu-o pela primeira era ele ainda criança. “Surpreendeu-me a facilidade com que tocava. Tem umas mãos extraordinárias e uma técnica muito boa. Espero que seja muito feliz naquilo que faz.”

Diogo Varela Silva apercebeu-se do talento do filho mal este terminou a primeira aula com o professor Paulo Parreira. “Acabou a aula a tocar um fado inteiro – o Fado das Horas. ‘Passa o tempo de corrida/quando falas eu te escuto/nas horas da nossa vida/cada hora é um minuto’.” E porque o tempo é assim, mal acabe a digressão e os dias raros que está a viver (nesta semana, por exemplo, conheceu Spike Lee), começará a pensar no novo disco.

Cargo: Guitarrista
Nascimento: 26/09/2003 (15 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)