Falta de apetite? Escute os sinais do estômago. No limite, é possível viver sem ele

Foto: Leonel de Castro/Global Imagens

A cada hora que passa, um português morre vítima de cancro digestivo. Quando o estômago não está bem, há vários sinais de alarme.

O cancro do estômago tem uma alta incidência no nosso país e a taxa de mortalidade é bastante preocupante. É a terceira causa de morte por cancro e o quinto tumor mais frequente em Portugal. É mais frequente no género masculino e tem uma incidência elevada com cerca de três mil casos por ano.

Quais os sinais de alarme? “Falta de apetite, enfartamento ou saciedade precoce, vómitos, dificuldade em engolir e perda de peso involuntária”, adianta à NM Marília Cravo, diretora do serviço de Gastrenterologia do Hospital Beatriz Ângelo (HBA), em Loures. A azia e aquela sensação de enfartamento, o estômago muito pesado, são sintomas muito frequentes e, por isso, não devem causar alarme. No entanto, não devem ser desvalorizados se se mantiverem durante semanas e meses, sobretudo se esses sintomas andarem de braço dado com uma perda de peso.

É um cancro que se espalha para outros órgãos, como a maioria dos cancros. “Em fases avançadas pode metastizar para o fígado, pulmões ou outros órgãos”, refere a médica. O diagnóstico faz-se por endoscopia alta. O tratamento curativo é a cirurgia com ou sem quimioterapia associada.

Na verdade, e nos limites dos limites, é possível viver sem estômago com as devidas adaptações. “A principal consequência é a perda de peso mas com adaptações alimentares tende a estabilizar. Pode ser necessário suplementar com ferro ou vitamina B12, mas é perfeitamente compatível com uma vida normal”, garante Marília Cravo.

Com o cancro do estômago, Portugal conta com o maior número de mortes por cancro da União Europeia e é o sexto país a nível mundial

Falando de prevenção, uma área fundamental. O cancro do estômago surge essencialmente por uma questão alimentar ou o organismo e os seus múltiplos mecanismos também têm responsabilidades nesta matéria? “Para além de fatores ambientais (alimentação rica em fruta e legumes, pobre em sal) há também fatores genéticos (história familiar) envolvidos. De entre os fatores etiológicos mais importantes temos a considerar a infeção por uma bactéria – Helicobacter pylori”, adianta a especialista. A infeção é muito prevalente na população em geral, em cerca de 50%, mas menos de 0,5% da população terá um cancro. “No entanto, está recomendada a erradicação desta bactéria na grande maioria dos portadores”, sublinha.

Este sábado, dia 26, realiza-se a Reunião Monotemática da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG), no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Um encontro científico dirigido a especialistas na área da saúde com o intuito de analisar as diversas abordagens terapêuticas para o tratamento dos cinco tipos de cancros digestivo: estômago, pâncreas, fígado, esófago, cólon e reto. Nessa reunião, serão simuladas consultas multidisciplinares com profissionais que tratam a doença oncológica de forma concertada.

Há três conferências no programa. Uma com o professor Henrique de Barros, que abordará o tema da epidemiologia. Outra a cargo do professor Bruno Santos Silva, autoridade nacional e internacional em imunoterapia. E uma outra com Fátima Carneiro, eleita a melhor patologista mundial no ano passado e que lidera um grupo de investigação sobre o cancro gástrico. “O que há de novo no cancro gástrico” é o mote da sua intervenção.

Relativamente aos cinco tipos de cancro digestivos, é muito importante que a população conheça os fatores de risco e os sintomas precoces. O excesso de peso, aliado aos abusos alimentares e ao sedentarismo, é um fator de risco para muitas dessas doenças. A diabetes e o refluxo crónico são, por exemplo, condições predisponentes para o cancro do pâncreas e do esófago. O abuso do álcool e tabaco está também associado a muitos desses cancros. E, por isso, há sintomas que não podem ser ignorados: dificuldade em engolir, falta de apetite e emagrecimento involuntário, dificuldade em controlar uma diabetes pré-existente, alteração recente mas mantida dos hábitos intestinais com diarreia ou obstipação e perdas de sangue. Estas queixas devem significar marcação de consulta médica sem perder tempo.