
O colesterol é um inimigo silencioso que aumenta os riscos de problemas cardiovasculares, como enfartes e AVC. Saiba o que fazer para controlar essa molécula orgânica produzida pelo organismo.
Todos os anos, cerca de 35 mil portugueses morrem por doenças cardiovasculares, que continuam a ser a principal causa de morte e representam um terço de toda a mortalidade da população em Portugal. Colesterol elevado no sangue é um assunto muito sério, um perigo a rondar o coração e muitas outras partes do corpo, sendo por isso muito importante abordar o assunto e relembrar o que convém não esquecer. Comportamentos e estilos de vida pouco saudáveis, alimentação desequilibrada, obesidade, tabagismo, sedentarismo, e stress potenciam fatores de risco.
Primeira pergunta. O que é, de facto, o colesterol? “É uma molécula orgânica produzida pelo nosso organismo, que se encontra em circulação no sangue e na constituição da membrana das nossas células. É essencial à vida, em quantidade adequada”, explica à NM Inês Colaço, médica especialista em Medicina Interna no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte. Além do que o corpo produz, o colesterol também surge através da alimentação.
Colesterol é um fácil e habitual sinónimo de consequências negativas para a saúde. Tudo por causa de um processo que se chama aterosclerose e, com o passar do tempo, fatores como tabagismo, pressão arterial alta, diabetes, e o tal excesso de colesterol aceleram a degradação do sistema circulatório. O que é que acontece? “As paredes das artérias são lesadas, com formação de placas de ateroma com colesterol na sua constituição, que dificultam a passagem do sangue e a sua chegada aos órgãos”. E à medida que a obstrução se torna mais significativa, a insuficiência na irrigação dos tecidos manifesta-se em várias frentes. A nível cardíaco, angina e enfarte do miocárdio. Demência e acidente vascular cerebral (AVC) quando o sistema nervoso é afetado. Doença arterial periférica, com dor muscular, sobretudo nos gémeos, quando a pessoa caminha realizando esforço incompatível com a irrigação sanguínea dos músculos.
Evitar o sal, os açúcares simples, as gorduras saturadas. Privilegiar vegetais, frutas, grãos integrais, legumes, laticínios com baixo teor de gordura, aves sem pele, peixe e mariscos, e frutos secos
A grande questão é que o colesterol, na esmagadora maioria dos casos, não dá sinal, com exceção para os casos de doença genética, em que os valores são extraordinariamente elevados desde a infância, podendo até, como refere Inês Colaço, “encontrar-se depósitos de colesterol nas articulações ou junto aos olhos”. O colesterol, portanto, só é detetado em análises sanguíneas e com esse pedido em específico. “A generalidade das pessoas, sem história familiar de tais doenças e sem outros fatores de risco cardiovascular, tem indicação para fazer o rastreio da hipercolesterolemia a partir dos 40 anos. Nas restantes situações, deve ser realizado mais cedo, de acordo com a indicação médica”, adianta a médica.
Quanto mais alto, pior. Quanto mais baixo, melhor. Não restam grandes dúvidas. Quanto mais elevado for o nível de colesterol em circulação, maior e mais rápida será a sua acumulação nas paredes das artérias e mais precoce serão as suas manifestações. Aos doentes com maiores fatores de risco recomendam-se medidas mais exigentes. “Por outro lado, os estudos de eficácia terapêutica realizados na população ocidental levaram a que alguns indivíduos passassem a ter valores notavelmente baixos. No acompanhamento desses doentes, que já leva alguns anos, ainda não se identificaram consequências adversas de valores de colesterol demasiado baixos, como foi cogitado no passado. Até à data, admite-se que quanto mais baixo o colesterol, melhor”, refere.
Quem não é adepto de desporto deve, pelo menos, realizar uma caminhada rápida, sem interrupções, durante 30 minutos na maior parte dos dias da semana
Cuidados, há muitos. Um estilo de vida saudável recomenda-se a toda a gente, ainda mais a quem tem colesterol elevado. “Em primeiro lugar, os hábitos alimentares devem ser escrutinados e aperfeiçoados. O verdadeiro desafio é fazer perdurar estes hábitos no tempo”. Limitar as gorduras saturadas trans, doces, bebidas açucaradas e, de uma forma geral, as carnes vermelhas. Uma vida ativa também é essencial para evitar o excesso de peso e obesidade e as bebidas alcoólicas devem ser consumidas com moderação – duas bebidas por dia para os homens e uma para as mulheres. E o tabaco deve ser completamente banido, tanto por homens, como por mulheres.
As recomendações são válidas para todas as idades e sujeitas ao contexto de cada pessoa, nomeadamente no que diz respeito aos antecedentes de doença de cada uma. E os princípios devem ser incutidos em idade jovem. “Por um lado, torna-se mais simples a adoção de hábitos introduzidos nesta idade. Por outro lado, quanto mais tempo formos expostos a fatores nocivos como o excesso de colesterol, maior o dano acumulado à nossa saúde – assim, devemos encarar o cumprimento destas recomendações como uma ‘poupança’, de modo a preservar a nossa saúde o maior tempo possível”, sublinha. Seja como for, um acompanhamento médico regular é fundamental em qualquer caso.