“Eu sou bué simples, as pessoas é que complicam”

Notícias Magazine

O nosso convidado das entrevistas que nunca fiz desta semana é Conan Osíris, que tem dado que falar após a participação na primeira eliminatória do Festival da Canção 2019. Olá, Conan. Antes de mais, deixa-me agradecer-te, ando a convencer o meu filho para pôr um aparelho nos dentes e ele diz que não porque lá na escola o chateiam e graças à tua performance ultrapassou esse problema.
Yeah, fixe, os putos são fixes, bué.

Tenho de confessar que não sou teu fã, ainda que ache que a tua música é de longe a melhor para nos representar no Festival da Eurovisão.
Fixe, és fixe, bué.

Ilustração: Mafalda Neves

Mas confesso que os teus fãs me irritam um bocado. Leio as tuas letras e acho que aquilo tem piada mas é um bocado como se estivéssemos a jogar ao Scrabble depois de fumar dez charros.
Ya, curto essa definição, bro.

Mas, para os teus fãs, é como se fosses um hiper-intelectual e nós pessoas simples que não percebemos que és um Fernando Pessoa do Cacém. Eles dizem coisas do género “leiam uma de várias interpretações, antes de dizerem que a letra não faz qualquer sentido”. É como se estivesse a fórmula da Coca-cola escondida na letra do “Celulitite”.
Eu sou bué simples, as pessoas é que complicam.

Eu escrevi no Twitter que, para mim, a tua atuação não tinha nada de original. São dois gajos bêbedos a ir para casa vindos da noite do Bairro Alto. Um já não se aguenta em pé, e vai aos tombos, o outro vem meio a chorar, com voz arrastada, a dizer que partiu o telemóvel. Um clássico. Quem nunca.
Ya, é bué isso.

Mas fui logo atacado por uma turba. As pessoas estão malucas. A pior coisa que nos aconteceu foi ter vencido o Festival Eurovisão da Canção. A malta dá demasiada importância àquilo. Quando eu era pequeno, as pessoas escreviam as votações do júri reunido no Jornal O Barrete em Almeirim como se estivessem a apontar os números do Euromilhões. Eram tempos diferentes, não havia mais nada na TV. Depois começámos a entrar em fases estranhas, como quando o Armando Gama ganhou o festival a tocar piano enquanto equilibrava um esquilo morto em cima da cabeça.
Eu curto Armando Gama. Parece uma alcunha de cigano.

Depois tivemos a Maria Guinot com uma música que causava depressão em hamsters e matava rolas. Tivemos uns Da Vinci que romperam barreiras, pois foram o primeiro grupo a vencer o festival com visíveis cáries dentárias. E ainda a Adelaide Ferreira, cujo refrão da canção consistia em pisarem-lhe um pé.
Essa era fixe.

Eu confesso que estou farto do Eurofestival e tenho a opinião de que devia ganhar sempre a Austrália. Coitados, nós ainda vemos aquilo à hora do jantar, mas eles madrugam para ver a Eurovisão. Só por isso mereciam vencer.