Estreitos são os caminhos desta fé

Em Santa Leocádia de Geraz do Lima (Viana do Castelo), ninguém quer ver o padre Adão Lima assumir a paróquia. (Foto: Igor Martins/Global Imagens) )

Santa Leocádia de Geraz do Lima, paróquia cravada numa paisagem verdejante de Viana do Castelo, vive, por estes dias, numa espécie de paradoxo de fé. Há uma igreja, imponente, milenar. Mas as portas estão fechadas. Há uma população crente, religiosa, toda devoção. Porém, não há missa. Há dois padres nas bocas do povo. Todavia, nenhum na paróquia.

Porque um, adorado como santo, morreu após 60 anos de dedicação à terra. Quanto ao outro, o povo foge da ideia de o ter como o diabo da cruz. Há até um mistério. Não é de fé, mas tem qualquer coisa de insondável. Tem a ver com as chaves da igreja que os paroquianos juram não saber onde estão, mas que, qual milagre divino, aparecem para abrir o templo sempre que é preciso fazer um funeral. E o calvário segue. Sem ato de contrição à vista e um renovado mandamento. “Enquanto a diocese insistir em não dialogar connosco, e em nomear o padre Adão Lima, preferimos que a Igreja continue fechada.”

A igreja de Santa Leocádia de Geraz do Lima está fechada desde abril. (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

A profissão de fé é de Agostinho Lima, 49 anos, porta-voz do movimento popular que contesta a nomeação do padre Adão. O imbróglio, esse, nasceu ainda em março, com o falecimento do padre João Cunha, que conduziu a paróquia durante 60 anos (até falecer, já nonagenário). Adensou-se três meses depois, quando a imprensa local deu conta de que o o próximo pároco de Santa Leocádia seria Adão Lima, padre de 63 anos que atualmente tem a seu cargo as paróquias de Deão e Subportela, ali bem perto.

Só que a notícia não teve a bênção das gentes de Geraz. Só desdém. “É um padre materialista, que força as pessoas a contribuir, muito pouco diplomata”, acusa Agostinho. A indignação agiganta-se face à devoção ao antecessor. “Era um padre acarinhado, respeitado pelo povo, uma pessoa compreensiva.”

O rastilho da revolta arde há meses. Meses de reuniões infrutíferas com representantes da diocese (nunca o bispo, D. Anacleto Oliveira, ainda que lhe tenha sido solicitado uma audiência) e de ações de protesto. Em junho, houve até uma manifestação silenciosa, que juntou cerca de 500 pessoas. Mas não deu em nada. Por isso, em agosto, o movimento de que Agostinho Lima é porta-voz optou por fazer chegar o desagrado aos vários órgãos da Igreja. A missiva seguiu para a diocese, para o patriarcado de Lisboa, até para a Cúria Romana.

Nela, os paroquianos condensam as queixas. Que a diocese nomeou o padre Adão sem “dar qualquer conhecimento aos órgãos da Igreja no ativo”. E que se recusam a receber uma pessoa que apelidam de “autoritária, sem diálogo, com grandes sinais de riqueza exterior e distante da população”. Num dos pontos da carta, vão mesmo mais longe, defendendo que o comportamento do pároco em causa não está “em conformidade com a palavra de Deus”. Mas a resposta continua por chegar.

População de Santa Leocádia de Geraz do Lima promete continuar a lutar contra a nomeação do padre Adão Lima (Igor Martins/Global Imagens)

Está um dia sufocante em Geraz. Na torre sineira da igreja paroquial da terra, um grande relógio, branco, ponteiros cinzentos, vai contando as horas de uma tarde de sexta-feira pachorrenta, ainda verão. Meia dúzia de gatos-pingados a conversar num pequeno muro quebram a acalmia sepulcral que ladeia o templo. “A única coisa que ainda funciona é o relógio. Pelo menos, continua a dar horas.” Fernando Barros, 78 anos, é o primeiro a vociferar a indignação.

“A questão aqui nem é a pessoa que querem pôr cá, é a falta de diálogo. Nós não aceitamos imposições. Pelos vistos ele disse lá na freguesia dele que vem para cá e nos mete a todos na linha. Tem azar. Nós nem comboio cá temos…”, atira, com humor e sem papas na língua. Manuel Pires, 74 anos, é mais fatalista: “Se o padre Adão Lima vier para cá é para acabar com a religião”.

O grupo vai dirimindo argumentos, quase sempre críticas à postura do padre Adão Lima. Queixam-se, por exemplo, de que o pároco se recusa a fazer funerais ao domingo. E recusam ter um padre que venha “picar o ponto”. Acusam-no ainda de exigir dinheiro sempre que quer fazer obras nas paróquias.

“Manda meter uma carta na caixa do correio com os valores, que variam consoante as posses das pessoas”, aponta Fernando, que não refreia o descontentamento.

“Virem-nos dizer que querem fazer uma obra e que temos que contribuir com tanto? No meu dinheiro ninguém manda”, avisa, antes de acrescentar, brincalhão: “Só a minha mulher”.

Manuel também não se fica. As críticas ao bispo e a outras altas figuras da diocese saem quase a eito. “Eles pensam que estamos na Idade Média. Alguém tem de lhes dizer que estamos no século XXI. E estamos prontos para tudo.” Por estas e por outras, Agostinho Lima, o porta-voz do movimento, já perdeu parte da fé. “Acredito em Deus, mas não na Igreja. Acho que só se Deus vier à Terra é que volto a acreditar.”

Como não há prognósticos para que tal aconteça, o grupo foca-se em levar a luta até às últimas consequências. “Também enviámos a carta para o Vaticano. E se for preciso vamos lá entregar a carta em mão.” Certo é que, até ao fecho desta edição, as cartas enviadas continuavam sem resposta. A “Notícias Magazine” tentou obter uma reação junto da diocese de Viana do Castelo, mas a política do silêncio imperou.

Cartazes, aplausos e uma petição

A poucos quilómetros dali, em Caminha, as paróquias de Lanhelas, Seixas e Vilar de Mouros também têm deixado as orelhas do bispo a ferver. Em causa o carinho pelo padre Ricardo Esteves, 36 anos, responsável pelas três paróquias há cerca de uma década. Tempo suficiente para granjear a afeição do povo. Ultimamente, também a indignação. É que ninguém quer perder o “padre motard” (ou o “padre sexy”, na versão mais pop da coisa).

Ricardo Esteves foge à imagem convencional de padre (Rui Manuel Fonseca / Global Imagens)

A nomeação ainda não foi oficializada, mas o bispo já avisou o padre Ricardo de que contava com ele para deixar Caminha e assumir três paróquias em Valença.
A população é que não está pelos ajustes. Jovialidade estampada no rosto, frequentador diário do ginásio, outrora rosto de um catálogo de moda e sempre disposto a integrar-se na vida social das paróquias, Ricardo Esteves foge à imagem do padre convencional.

De resto, garantem os paroquianos, não se fica pelas aparências. Nos últimos anos, não só chamou mais gente à missa (jovens, sobretudo) como dinamizou atividades sociais. A equipa de futebol de Lanhelas, por exemplo, onde chegou a jogar. Ou o Grupo de Jovens de Seixas, fundado há pouco mais de um ano e a que ainda hoje preside. “A ideia partiu dele. É um grupo que dinamiza eventos, para juntar a comunidade. Noites de fados, festas de Carnaval, de Halloween, caminhadas. E o padre Ricardo faz questão de dar um caráter solidário às iniciativas”, destaca Cidália Aldeia, parte integrante do grupo de jovens e fã assumida da genica do padre Ricardo.

“É um excelente comunicador. Gosta de estar no meio das pessoas e de se misturar. É inteligente e simples ao mesmo tempo. Acaba por cativar pessoas de todas as idades”, elogia.

Por isso, Cidália foi uma das dinamizadoras de várias ações de protesto. Na segunda semana de agosto foi criada uma petição pública, na Internet, apelando ao bispo para que optasse pela permanência do padre Ricardo. Em pouco mais de 30 horas, a petição juntou mais de 300 subscritores. Hoje, já ultrapassou os mil. Dias depois, houve cartazes, aplausos e gente aos magotes para receber o pároco na chegada à igreja de Seixas.

Paroquianos de Seixas convocaram concentração pacífica para exigir a permanência do padre Ricardo Esteves (Rui Manuel Fonseca / Global Imagens)

A mensagem era clara. “Fica”, pôde ler-se. “Nós temos consciência de que não podemos ficar com o padre Ricardo a vida toda, nem seria justo para ele”, assente Cidália. “O que nos magoou foi ser algo tão inesperado. Precisávamos de mais tempo para nos habituarmos à ideia, para poder ser uma transição com mais tranquilidade. Mas não quisemos pôr em causa a autoridade do bispo.”

Os elogios ao padre Ricardo estendem-se a todas as faixas etárias. “É um padre educado e bom rapaz, que tem puxado muito pela mocidade. Porque é que a gente há de querer caras novas?”, questiona Silvério, 82 anos. É tempo das festas de Lanhelas e ele é dos primeiros a chegar à capela onde o pároco se prepara para celebrar missa. Maria Isabel Rocha, 79 anos, também puxa dos galões quando toca a falar do padre Ricardo. “É muito bom padre. Não é pedinchão e tem feito muito pela freguesia.” Sara Cruz e João Aldeia, um casal jovem, elencam outras qualidades.

“Quando alguém quer desabafar está disponível. Anda sempre muito ocupado, mas tem sempre uma palavra. Gostávamos que ficasse, mas se o bispo manda…” Depois da indignação inicial, o conformismo parece estar a ganhar terreno. “Isto são coisas normais, sempre foi assim. Devemos acolher bem o novo padre, sem pensamentos ruins”, defende Joaquim Cunha, que também vem para a missa.

Os paroquianos de Seixas afixaram várias tarjas com a mensagem “Fica” (Rui Manuel Fonseca / Global Imagens)

Pouco depois, chega o homem de quem se fala. Audi A5 preto, bronzeado evidente, t-shirt salmão muito justa a fazer sobressair os peitorais cheios, calças de ganga e sapatilhas. Pedimos-lhe que comente o caso, mas, simpaticamente, explica que prefere não o fazer, para não alimentar mais polémicas. Fica, por isso, o que disse ao JN em agosto, aquando dos cartazes e dos aplausos em Seixas.

“Já sabia que um dia isto tinha de acontecer. Sempre disse ao senhor bispo, desde o dia da minha ordenação, que estava disponível para a mudança, mas não estava à espera que fosse desta forma, num período tão curto e limitado.” Na altura, garantiu ainda que acataria a decisão do bispo, mas mostrou-se esperançado na ideia de o superior reconsiderar. Até ao fecho desta edição, a nomeação do pároco ainda não tinha sido oficializada.

O cânone 1748 do Código do Direito Canónico prevê que um padre possa ser transferido “se o bem das almas ou a necessidade ou a utilidade da Igreja o exigirem”, sendo, raras exceções, nomeado por tempo indeterminado. De resto, qualquer decisão a propósito da rotatividade, ou da falta dela, fica invariavelmente nas mãos de cada bispo diocesano.

O pároco pode, se bem entender, apresentar as razões que o levam a não concordar, mas, em última instância, resta-lhe apenas acatar a decisão (até porque, aquando da ordenação, todos os padres juram obediência ao seu bispo).

Um histórico cheio de casos. E um que resiste

Agradar ao povo é que já são contas de outro rosário. Por isso, ao longo dos anos, não têm faltado casos em que a saída dos padres em funções e a chegada de novos párocos tem dado pano para mangas. Aconteceu em Fafe, por exemplo, no ano 2000, quando a população se revoltou com a saída do padre Peixoto Lopes.

Depois de uma manifestação junto à Igreja, com promessas de agressão ao então bispo de Braga, D. Jorge Ortiga, caso a decisão não fosse revertida, um grupo de 30 paroquianos foi mesmo em cortejo até ao Paço Episcopal de Braga, invadindo o hall de entrada. A indignação terá chegado ao Vaticano, com o próprio padre Peixoto Lopes a acusar a hierarquia da Igreja de bullying. O argumento da rotatividade permaneceu ainda assim.

Outros casos há em que a indignação popular se volta contra os párocos no ativo. Seja porque recusam dar a comunhão a jovens com decotes (aconteceu em Valpaços, em 2011), porque se negam a presidir às cerimónias religiosas das festas (sucedeu em Mirandela, em 2013), porque recusam o enterro a habitantes que não pagam a côngrua (foi notícia em Mangualde, em 2015) ou até por se furtarem a participar nas cerimónias que antecipam o fecho do caixão (Penafiel, 2015).

Em 2016, a incompatibilidade entre o padre Fernando Ferros e a paróquia de Fonte de Angeão (Vagos) levou-o mesmo a pedir a saída da paróquia. Nos últimos anos, houve também problemas em Vale de Cambra, Terras de Bouro e Arcos de Valdevez.

Depois, há os que se tornaram emblemáticos e resistiram ao tempo. É o caso de Canelas, Vila Nova de Gaia, onde os paroquianos fiéis ao padre Roberto Carlos, afastado em condições nebulosas, lhe continuam a jurar devoção. De tal forma que, cinco anos depois, o padre, que continua sem paróquia atribuída e sem receber qualquer salário da Igreja, ainda celebra missa na terra, semanalmente.

Padre Roberto continua a celebrar missa em Canelas, mesmo tendo sido afastado pela diocese em 2014. (Igor Martins/Global Imagens)

Só não o faz na igreja paroquial. Antes, num armazém da zona industrial de Canelas, feito auditório improvisado, que serve de sede à associação Uma Comunidade Reage (UCR). Por sua vez, esta foi criada para albergar a Comunidade do Adro, assim designada por, durante um ano, se ter juntado no adro da igreja, em protesto pela saída do padre Roberto.

Do princípio. Era dia de São João quando, em 2014, durante a habitual missa na paróquia, o padre Roberto Carlos anunciou que, por ordem do bispo do Porto, na altura D. António Francisco, teria de deixar a paróquia. A notícia caiu como bomba na freguesia gaiense. Menos de uma semana depois, cerca de três mil pessoas concentraram-se numa vigília no adro da igreja de Canelas, empunhando velas e faixas com mensagens de apoio ao pároco. Nos meses que se seguiram, os contornos rocambolescos da história ganharam expressão.

O padre Roberto garantia que foi afastado por se ter recusado a compactuar com a compra de uma estátua para a igreja que custaria um balúrdio, a indignação do povo crescia e as reuniões do pároco com as altas figuras da diocese iam-se sucedendo, com alguns volte-faces pelo meio, mas sem fumo branco definitivo. A 2 de novembro, após episódios intrincados, como uma carta enviada ao bispo em que o padre Roberto mencionava um escândalo de abusos sexuais a menores ocorrido em 2003 – que acabaria por lhe valer um processo na justiça -, o pároco deixava definitivamente a diocese. Mas os protestos não esmoreceram.

Face aos episódios de violência registados na paróquia, o padre Albino, sucessor de Roberto Carlos, teve por diversas vezes de ser escoltado pela GNR, para entrar e sair da Igreja (Rui Oliveira/Global Imagens)

E o sucessor, Albino Reis, teve vida tão difícil que por várias vezes foi preciso a GNR intervir em Canelas. Numa delas, a 10 de novembro, o padre teve de ser escoltado pelas autoridades para chegar à igreja. As imagens abriram telejornais. Roberto Carlos prometeu não sair de Canelas enquanto não se fizesse justiça (mesmo quando a diocese o quis “compensar” com uma paróquia central, que ele acabaria por recusar) e a Comunidade do Adro jurou ser-lhe fiel. Cinco anos depois, os votos resistem.

Ainda não são dez da manhã de domingo e os fiéis já se vão acumulando junto à entrada de um dos armazéns da zona industrial de Canelas. Luzia Fernandes, 85 anos, tenta explicar o fascínio. “O padre Roberto é uma categoria. Continuo a vir a esta missa, porque não gosto de mais ninguém. Ele tem o dom da palavra. A gente parece que sai daqui com o coração a transbordar.” Clara Almeida, 76 anos, tem algo a acrescentar. Diz que já correu Mundo e nunca viu “uma missa assim”. “Quando ele saiu praticamente toda a gente chorou”, assegura.

Agora já não há lágrimas. O padre Roberto nunca chegou a partir e a devoção renova-se a cada semana. Não na igreja. Mas no armazém, onde não falta uma cruz de grandes dimensões, atrás de um altar improvisado. Até um sino há… mesmo que tenha que ser projetado de um vídeo do YouTube. “Bom dia família”, saúda o pároco. Tem uma barba farta e comprida. “É um padre urbano, pós-moderno. Mas a inveja é uma coisa terrível”, lamenta José Almeida.

Todos os domingos, centenas de pessoas assistem à missa do padre Roberto, na sede da UCR (Igor Martins/Global Imagens)

Na plateia, que quase enche o armazém, vários rostos abrem-se em sorrisos. “Vimos aqui não porque somos obrigados, não porque somos escravos. O caminho é apertado.” Se, a princípio, se subentendem os recados, as críticas depressa se tornam descaradas. Roberto começa a ler uma notícia que dá conta da reunião de católicos ultraconservadores em Fátima e não esconde a revolta, tendo em conta que, em 2017, a UCR solicitou uma reunião no Santuário e lhes foi negada.

“Se o Santuário dá carta-branca a gente racista, está a alinhar em comportamentos sectários. A justificação é que são aceites todos os pedidos de cristãos. E nós somos o quê? Sou um padre da diocese, não um padre excomungado. É vergonhoso.” A plateia vai-lhe dando razão, quase ao jeito de um comício. “É verdade, é verdade.”

A uns quilómetros dali, na Igreja Paroquial de Canelas, outra missa, outro padre (Manuel Lopes, que recusa comentar o caso), outra afluência – no domingo em que a NM lá esteve, não havia mais do que meia centena de pessoas -, a mesma devoção. “Eu só vinha à missa de vez em quando. Mas quando começou esta guerra passei a vir todos os dias. A religião é adorar a Deus, não é adorar um homem. Aquele homem enfeitiça as pessoas”, sublinha Maria Albertina Ferreira, 53 anos.

A missa na paróquia junta bem menos gente do que a celebração feita na UCR (Pedro Granadeiro/Global Imagens)

Manuel dos Santos Ferreira, 83 anos, partilha do mesmo credo. “Ir à outra missa? Nem pensar. Eu nasci católico! Aquilo é um desgosto, é uma vergonha. São pessoas que estão doentes. Eu é que sei o que passei aqui”, acusa. Manuel refere-se aos tempos conturbados em que a Comunidade do Adro protestava junto à igreja. “Eles até podiam ter a razão deles, mas não se deve consentir que venham para aqui perturbar os outros, não é? E olhe que a dada altura até garrafas de plástico traziam”, recorda Ana Pereira, 80 anos.

Indiferentes às críticas, os muitos membros da UCR prometem não baixar os braços. “Claro que tenho esperança que ele volte [à paróquia], até pelos sinais que têm sido dados pelo bispo do Porto [D. Manuel Linda]”, garante Miguel Rangel, fundador e presidente da UCR. A mesma fé mantém o padre Roberto.

Ainda que insista que foi vítima de um “abuso de poder” e da “promiscuidade político-religiosa”, diz continuar à espera que se faça justiça. E que possa regressar à paróquia. “Continuo à espera que o novo bispo me ouça, porque ainda não ouviu.”

Questionada pela NM, a diocese do Porto garantiu não ter conhecimento do “centro de culto referido” e assegurou que “não está prevista qualquer mudança ou nova nomeação para a paróquia de Canelas”. Em resposta enviada à nossa publicação, a diocese aborda ainda a nomeação do padre Manuel Lopes, feita a 25 de julho de 2016.

“Com esta nomeação e por este título o considera seu especial colaborador e lhe assegura a confiança e auxílio indispensáveis ao bom desempenho da sua missão, esperando que os paroquianos o recebam como legítimo pastor, e o auxiliem no bom desempenho da sua missão, a ele se unindo pela oração e pela atividade apostólica.”

Entretanto, Canelas continua dividida, entre dois padres e duas missas. Em ambas se reza o mesmo credo. “Creio na Igreja una, santa, católica, apostólica.”

Nota – A resposta da diocese do Porto não consta da versão em papel, visto que não chegou em tempo útil.