
Nas entrevistas que nunca fiz, esta semana temos connosco o ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, que passou a ser o vigésimo terceiro arguido no âmbito do processo que investiga o roubo de armas em Tancos. Ou seja, desde o ex-ministro da Defesa ao chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, o assalto a Tancos já fez mais baixas que dez anos de comissões no Afeganistão, Bósnia ou do que entre os recrutas da Instrução Básica do regimento de Comandos da Carregueira. Como se sente como vigésimo terceiro?
Sou um empenhado defensor do Estado de Direito, pelo que não tecerei quaisquer considerações sobre o processo enquanto estiver em segredo de justiça, como é o caso.
Desde que não guardem o processo de Tancos em Tancos não deve haver perigo dele desaparecer ou de deixar de estar em segredo de justiça.
O primeiro-ministro já disse que tem plena confiança em mim e isso chega-me.

É verdade, o primeiro-ministro, António Costa, continua a defender o senhor da forma com que nós gostávamos que fosse defendida a segurança do paiol de Tancos. Provavelmente, a seguir, o PM vai propor que seja o atual governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, a ir tomar conta do paiol de Tancos.
Eu acho que esta minha condição de arguido é absolutamente inexplicável tendo em conta os factos relativos ao meu envolvimento no processo, que foram apenas de tutela política.
Absolutamente inexplicável é a principal característica do assalto a Tancos. O crime em Portugal tem momentos dignos de um sketch. Por exemplo, são vinte e três arguidos mas foi apenas um sujeito que assaltou Tancos. Impressionante. Carregou e descarregou aquele armamento todo sem ajuda e só com um carrinho de mão. Se fosse possível dava-me imenso jeito esse senhor para ir comigo ao Ikea.
Esta história está muito mal contada.
Sim, especialmente da sua parte. Está na altura de ir buscar a Comissão de Camarate para resolver este Caso de Tancos. Segundo li, o Ministério Público quer que a investigação a Tancos seja considerada de especial complexidade. Ao contrário do assalto, que foi do mais fácil que há.
Não posso falar mais sobre este assunto. O que posso dizer é que o primeiro sistema de sensores de vigilância foi instalado nos anos 1990 mas, menos de uma década depois, já tinha sido desativado por se ter tornado ineficiente.
Ou seja, desde mil novecentos e noventa e tal que aquilo não estava a funcionar em condições. Provavelmente a última pessoa que alertou para o estado das vedações, das fechaduras e das câmaras de vigilância do paiol de Tancos foi o Fernando Pessa. Acabou a mostrar uma vedação com um buraco e, de boina de paraquedista, disse, “E esta, hein?”.