Elsa Logarinho: A bioquímica que descobriu o gene da juventude

Foto: Pedro Granadeiro/Global Imagens

Texto de Sara Dias Oliveira

A descoberta do gene FoxM1 é um grande avanço no conhecimento científico mundial. Ao ativar esse gene, a divisão celular decorre sem erros, a bom ritmo, e rejuvenesce células velhas. A bioquímica que estuda o envelhecimento das células e do seu material genético está no centro da pesquisa. A equipa de Elsa Logarinho, do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) e do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), no Porto, filmou células vivas da pele de um bebé e de um octogenário. Explorou mecanismos que levam ao envelhecimento das células e que podem ser modelados para desenvolver terapêuticas antienvelhecimento. “O grande passo é conseguir trabalhar esta longevidade com saúde, com ausência das doenças do envelhecimento.” “É uma ideia arrojada”, admite. Mas a criatividade acompanha-lhe os dias.

À medida que os anos passam, a capacidade regenerativa altera-se, a divisão celular perde fidelidade e frequência. “O envelhecimento é um estado de inflamação crónico. Os erros que acontecem durante a divisão de células velhas desencadeiam o aparecimento das células ‘zombie’, que causam o envelhecimento.” São células com defeitos, que param de se dividir. Para a bioquímica, de 46 anos, que ganhou o Prémio Pfizer em Investigação Básica em 2011, por um estudo sobre um mecanismo de divisão descontrolada das células, é importante “questionar o que não se sabe e o que se sabe”. “Questionar tudo”, defende.

Elsa Logarinho, 46 anos, deixou a carreira académica e optou pela vida científica. Gosta do desafio das questões

A vontade de experimentar surgiu cedo, ainda na escola primária, gostava de perceber mistérios pelos próprios meios. Chegou a apanhar uma vespa que ferveu e dissecou para lhe extrair o ferrão, que queria analisar de perto. No liceu, vacilou entre ciência e arte, sobretudo arquitetura. No 9.º ano, tirou as dúvidas numa visita ao departamento de genética humana do Hospital de São João, no Porto. Ficou fascinada com os cromossomas. E decidiu.

Licenciou-se em Bioquímica na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, doutorou-se em Ciências Biomédicas no ICBAS – Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, com uma passagem pelo EMBL – European Molecular Biology Laboratory, na Alemanha. Deu aulas na Universidade do Minho, em Braga, durante sete anos. Deixou a carreira académica, optou pela vida científica. “Queria fazer investigação a tempo inteiro. Adoro o desafio de uma questão, gosto dessa adrenalina.” É determinada e garante que ao ensinar continua a aprender. E uma nova descoberta é sempre um imenso prazer.