Elisa Ferreira: esta mulher é do Norte

Foto: Álvaro Isidoro/Global Imagens

Texto de Alexandra Tavares-Teles

Tinha já 40 anos quando a política lhe bateu à porta, em forma de provocação: “Você critica, critica, mas, na hora da verdade, não dá a cara”. Picada, Elisa Ferreira raramente se fica e, por isso, a estratégia de António Guterres, então a formar o XIII Governo Constitucional, resultou em pleno.

A professora universitária aceitaria o convite ministeriável (pasta do Ambiente) que começara por recusar, dando início a um percurso político cheio – ministra, deputada na Assembleia da República, eurodeputada e vice-governadora do Banco de Portugal. E, agora, num regresso a Bruxelas, comissária europeia.

“Foi uma boa jogada de Portugal”, diz Ana Gomes, jurista, companheira de partido. “Ela fará a diferença. É alguém que vai à luta pelos interesses de Portugal e da Europa, ao contrário de muitos cabeçorras que por lá andam.” Da amiga antiga salienta “a capacidade de persuasão”. “Por vezes, basta-lhe o sorriso e um imenso sentido de humor. Porém, também é muito capaz de dar a estocada.”

Orgulhosa de ser portuense e portista, Elisa Ferreira revê-se com agrado na expressão “mulher do Norte”. Uma mulher “determinada, muito séria, capaz de mexer em interesses muito instalados, que pensa no país e menos no partido”, salienta Ana Gomes. Vêm daí, no entender desta socialista, os anticorpos que a amiga tem no próprio partido. Sorri.

“Não esquecer que quando foi ministra do Ambiente (1995-1999) e Elisa teve um secretário de Estado imposto, um rapazinho que achava que mandava, chamado José Sócrates, e que ela teve de pôr na ordem algumas vezes.” Depois, como ministra do Planeamento (1999-2002), “fez o mesmo a outros”, revelando “muita competência política e estratégica”.

“A capacidade política não é o seu forte”, contrapõe o social-democrata Paulo Rangel. A relação com Elisa Ferreira é fria. Vem das autárquicas de 2009 – Elisa Ferreira, candidata à Câmara Municipal do Porto, haveria de perder para Rui Rio – a troca de palavras mais duras. “Desde aí, não nos damos nada bem.” Rangel elogia “a muita competência e a grande capacidade técnica”. Porém, “sendo a nomeação uma boa notícia para a Europa, é má para Portugal”. Explica: “O comissário tem uma função arbitral entre os contribuintes líquidos e os recetores líquidos, que é o nosso caso. Com esta nomeação, e tendo em conta os conflitos de interesses nesta área, vamos perder poder negocial”.

Protagonista de uma polémica enquanto vice-governadora do Banco de Portugal – o marido, Fernando Freire de Sousa, era vice-presidente da La Seda de Barcelona quando, em 2006, o grupo espanhol se envolveu com a Caixa Geral de Depósitos -, recusou pedir escusa das matérias relacionadas com a auditoria ao banco público. Não surpreendeu quem a conhece.

Tem apreço pelas artes e pela cozinha. “Há um ano, na quinta de Santo Tirso, comi umas papas de sarrabulho muito bem feitas”, lembra Ana Gomes. Com duas filhas e um neto, a economista é a primeira mulher portuguesa escolhida para o cargo de comissária europeia.

Cargo
Comissária europeia

Nascimento: 17/10/1955
(63 anos)

Nacionalidade:
Portuguesa (Porto)