“Duas jovens mulheres à espera de ver quem morre primeiro”

Alin Gragossian fez uns transplante de coração em janeiro de 2019 (D.R.)

A sabedoria popular apregoa que a felicidade de uns é sempre a tristeza de outros. A ideia ganha redobrado significado com a história de Alin e da mulher que lhe salvou a vida, recentemente contada pela BBC. Dois destinos que se cruzaram de forma milagrosa e fatídica. A morte de uma permitiu a sobrevivência da outra.

Alin Gragossian, americana de 31 anos, é uma médica interna, que trabalha em medicina de emergência e se está a especializar em cuidados intensivos. Só que, em janeiro deste ano, a emergência bateu à porta dela. E houve um coração que lhe salvou a vida.

Por isso, Alin não hesitou em escrever à família da dadora que lhe salvou a vida. Só não sabia se alguma vez a carta seria lida. Nos Estados Unidos, a informação sobre um dador de órgãos só é fornecida ao recetor se a família do dador pedir ou assentir o contacto. E a rede para a partilha de órgãos até incentiva o anonimato a todos.

Por isso, quando recebeu um telefonema do hospital a dizer que a família da mulher que lhe salvou a vida lhe tinha escrito uma carta, demorou a recompor-se. Assim que a leu, desfez-se em lágrimas.

“Obviamente já sabia que o meu dador era um ser humano, mas ler sobre ela tornou tudo tão real de repente. Cada linha que li deu-me arrepios. Tínhamos tanto em comum. Não passávamos de duas jovens mulheres, à espera de ver quem morria primeiro”, contou, assumindo-se emocionada com a descoberta da mulher “vibrante” cuja morte permitiu que ela vivesse.

Impedida de responder diretamente à família da dadora, que decidiu continuar no anonimato, Alin optou por fazer uma publicação nas redes sociais, na esperança de que a mensagem chegue a quem de direito.

“Eu tinha muito em comum contigo. Era mais do que o tipo de sangue. Provavelmente teríamos sido boas amigas. Em vez disso, os nossos caminhos cruzaram-se da mais estranha das maneiras. No último dia da tua vida, no primeiro dia da minha. No pior dia da tua vida, no melhor da minha”, escreveu.

Curiosamente, como médica a trabalhar na medicina de emergência, Alin estava habituada a ligar para as organizações que lidam com as doações depois de um paciente morrer. “Agora, percebo realmente o poder que esse telefonema pode ter.”