Dicas para um natal verde e sem complicações

Um Natal amigo do ambiente pode começar já, ou seja, no momento em que se sai de casa para comprar prendas e tudo o que é preciso para a época. Uma lista bem feitinha, com tudo anotado como deve ser, e uma estratégia geográfica pensada ao pormenor, com mapas e trajetos se necessário for, são fundamentais para tirar menos vezes o carro da garagem, usufruir mais do comércio tradicional e evitar perder tempo na estrada e em filas de trânsito.

É possível agrupar compras numa só saída e até combinar essas incursões natalícias com amigos e familiares. Recomenda-se o uso de transportes públicos ou ir a pé. Poupa-se em viagens, em combustível, em voltas e voltinhas. Poupam-se os nervos e ganham-se horas para outros preparativos. E há tanto para fazer nesta altura.

Uma árvore de Natal verdadeira, de carne e osso, que respira e tem raízes, é melhor do que uma artificial, normalmente feita de plástico pouco amigo da pegada ecológica. Uma árvore natural pode ser plantada num vaso na varanda, no jardim ou quintal de casa depois das festas acabarem. Com cartão reciclado ou com uma armação em madeira com restos de tecidos e botões também se constrói um belo e incomum pinheiro de Natal. Haja imaginação e materiais para reaproveitar. Tudo se transforma, tudo se aproveita.

Decorar a árvore pode ser um exercício criativo. Os pacotes de leite podem ser recortados em forma de anjos e estrelas com a parte prateada à vista. Postais de Natal antigos podem ser usados como enfeites. Papéis velhos cortados em argolas agrafadas umas às outras são um belo substituto das fitas mais tradicionais. E, se a ideia é ter pisca-pisca, as iluminações LED poupam energia (e não precisam de estar sempre ligadas à corrente, a ficha pode sair da tomada durante a madrugada ou quando não se está em casa).

As velas são uma opção decorativa, dão um toque especial e natalício e diminuem os custos energéticos. Velas amigas do ambiente, claro está, com cera de abelha ou cera de soja, por exemplo.

E se houver lareira na sala, evitem-se as acendalhas, as cascas secas de laranjas ou outros frutos aquecem e espalham um agradável cheiro frutado pelo ar.

“O mais sustentável é aquilo que já temos”, avisa Ana Milhazes Martins, socióloga e fundadora do Lixo Zero Portugal. Trocar decorações com amigos, para mudar e surpreender os miúdos lá de casa, é uma boa estratégia, na sua opinião. Renova-se e evita-se acumular. Tudo é possível em nome do respeito pela natureza.

Usar elementos naturais como pauzinhos de canela, flores de anis, plantas que podem ser transformadas temporariamente em pequenas árvores de Natal. Percorrer jardins e parques e apanhar, não arrancar, elementos que possam dar um ar natalício à casa, como pinhas, ramos de pinheiro, folhas, castanhas, avelãs. Frascos de iogurte podem ser castiçais natalícios e caixas velhas podem ser recipientes de bolachas para oferecer.

Embrulhos, tantos embrulhos, rolos e rolos de papel, quilómetros e quilómetros de fitas, laços e lacinhos. E as prendas que por fora tendem a ficar parecidas umas às outras, com padrões repetidos, com os desenhos do costume. Dourados, prateados, com os motivos da época. Porque não inovar, surpreender, e reaproveitar o que ficou sem uso?

“O mais sustentável é aquilo que já temos”
Ana Milhazes Martins
Socióloga e fundadora do Lixo Zero Portugal

Páginas de revistas e jornais, os folhetos de publicidade não endereçada que vão parar à caixa de correio, restos de panos, sacos de tecido reutilizáveis, linhas e cordéis perdidos, fitas de outros anos e de outros presentes. Um desenho de uma criança é um papel de embrulho personalizado e com dedicatória se for essa a vontade.

Ana Milhazes Martins aconselha uma caça ao tesouro na altura das prendas. Dá trabalho espalhar os presentes pela casa, mas é divertido e não é necessário papel de embrulho. E por que não oferecer experiências? Um concerto, uma viagem, aulas de surf, massagens, atividades que os mais pequenos adoram. Se forem brinquedos, que sejam de materiais sustentáveis e que estimulem a criatividade. “Brinquedos feitos de madeira, de croché, tentar evitar o plástico ao máximo.” E as conversas entre famílias ajudam a evitar repetições de prendas ou ofertas em excesso, gastos sem pés nem cabeça.

Há também as prendas faça você mesmo. Bolos, bolachas, biscoitos, compotas, licores, em recipientes de outros usos. Plantas distribuídas por vasos velhos pintados ou decorados como vasos novos. Cachecóis, camisolas, luvas tricotadas. Um colar feito com sementes ou uma pulseira de lã feita à mão. Uma pintura para quem perceber da arte. Se as prendas fazem parte da tradição que sejam pensadas, ponderadas, conscientes. Um pouco de pedagogia à volta do consumo exacerbado faz todo o sentido nesta época.

Decorar a árvore pode ser um exercício criativo. Os pacotes de leite podem ser recortados em forma de anjos e estrelas com parte prateada à vista.

Natal é, regra geral, sinónimo de abundância na mesa. “Na parte da alimentação, tentar sempre consumir local ou nacional, pelo menos, e não fazer comida a mais”, aconselha Ana Milhazes Martins. Mas, se sobrar, o que normalmente acontece, distribuir pelos familiares e contactar instituições que levam comida a quem precisa. O Natal também é partilhar.

E, no final de tudo, papel, muito papel espalhado pela casa. Que se guarde e aproveite o que der para outros natais ou para outras ocasiões (com papel de embrulho fazem-se objetos divertidos como máscaras, porta-canetas, flores de papel, por exemplo). O que não for possível deve ir para os respetivos ecopontos. Dúvidas? Embalagens de cartão no ecoponto azul, embalagens com mais plástico no ecoponto amarelo. As pilhas sempre no pilhão. E no momento das limpezas tudo limpinho com produtos biodegradáveis ou com recargas. O ambiente agradece e o Natal tem outra substância. Mais verde, mais amiga do planeta.