Diana Madeira: a cuidadora dos organismos marinhos

Por Ana Tulha

Há vivências aparentemente vulgares da nossa infância que podem ser premonitórias. No caso de Diana Madeira, foram as horas passadas na quinta do avô a observar tudo o que era animal e planta. Depois, foi juntar-lhe a afeição pelo mar, herdada do pai, oficial da Marinha. E o futuro já quase estava escrito.

Aos 31 anos, Diana Madeira é licenciada em Biologia, mestre em Ecologia Marinha, doutorada em Química Sustentável e está a caminho de ter um pós-doutoramento relacionado com alterações climáticas no meio marinho. Se dúvidas houvesse, o facto de ter sido distinguida com o prémio “Mulheres na Ciência”, em fevereiro, atesta o sucesso do percurso.

A distinção é tanto um reconhecimento como um incentivo à investigação que esta lisboeta de 31 anos tem vindo a conduzir no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro. Será que os organismos marinhos vão conseguir adaptar-se a um oceano cada vez mais pressionado pelas alterações climáticas e pela poluição? É esta a questão-base que tem norteado o trabalho de Diana Madeira.

Desde 2017 que a investigadora pretende perceber quais os mecanismos moleculares e celulares que os invertebrados marinhos induzem para responder a pressões ambientais e de que forma estes estão relacionados com parâmetros como a capacidade de sobrevivência e o sucesso reprodutivo. No caso desta investigação, há uma vantagem acrescida: um limite temporal alargado, o que permite estudar o que pode acontecer ao longo de várias gerações.

Ora, num tempo em que os sentidos da preocupação ambiental estão mais despertos do que nunca, a questão impõe-se: há boas notícias? Diana é cautelosa. “A expectativa é que, ao longo das gerações, os efeitos nefastos possam ser atenuados, pelo menos nas espécies que tenham mais tolerância. Poderão ter mecanismos que lhes permitam sobreviver.” Mas nada de otimismos excessivos. “É óbvio que tem de haver uma alteração dos comportamentos que temos, de forma a ser possível alguma sustentabilidade ambiental. Não basta esperar que os organismos se adaptem.”

Diana tem fé na mudança, até porque gosta de acreditar que também ela está a dar um pequeno contributo. “O meu objetivo, quando escolhi esta área, sempre foi melhorar o Mundo de alguma maneira. Por isso é que não me vejo a sair da ciência. Talvez esta seja a minha forma de melhorar alguma coisa no Mundo.”