Diabetes e coração andam de mãos dadas. E não é por boas razões

Obesidade, diabetes pior compensada, idades mais avançadas ou outras patologias são fatores que acumulam riscos para os doentes diabéticos

Texto de Sara Dias Oliveira

As doenças cardiovasculares afetam os diabéticos. Ponto final. A relação desta doença crónica com as patologias que atacam o coração, as complicações que daí advêm, o peso na qualidade de vida dos pacientes e cuidadores, e até no próprio Serviço Nacional de Saúde (SNS), são assuntos sérios. Até porque a prevalência da diabetes tem vindo a aumentar nos últimos anos, o que realça a importância de diagnosticar e tratar a doença de forma adequada.

“Num quadro aparente de diminuição da curva de mortalidade para as doenças cardiovasculares, a obesidade e a diabetes assumem um papel primordial. É necessário diagnosticar precocemente a diabetes e começar a tratar as pessoas que apresentam valores de pré-diabetes”, refere à NM José Manuel Boavida, endocrinologista e presidente da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP). “Tratar agressivamente a diabetes e outros fatores de risco é fundamental, assim como detetar precocemente a doença aterosclerótica e a doença renal. Os avanços no tratamento permitem hoje abrir uma janela de esperança neste campo”, acrescenta.

A diabetes afeta mais de um milhão de portugueses e 30% dos internamentos por acidente vascular cerebral (AVC) são em pessoas com diabetes

Quase um terço dos internamentos por enfarte agudo do miocárdio acontece em pessoas com diabetes. Pedro Matos, cardiologista da APDP, lembra que a maleita continua a aumentar, apesar de todos os esforços e estratégias, e a doença cardiovascular é a principal causa de morte entre os adultos diabéticos. “Existem vários fatores que promovem a doença aterosclerótica e a progressão da miocardiopatia diabética. Fatores relacionados com o controlo glicémico e com o controlo dos vários fatores de risco cardiovascular, como a dislipidemia, a hipertensão arterial, o tabagismo, entre outros”, sublinha.

Todos estes fatores potenciam o aparecimento da doença cardiovascular. “Para reduzirmos as taxas de complicações é necessário intervir na educação da pessoa com diabetes de forma a otimizar a sua adesão à terapêutica”, defende Pedro Matos. José Manuel Boavida avisa que a convergência das várias especialidades é crucial. “Médicos de família, endocrinologistas, internistas, cardiologistas e nefrologistas têm uma grande tarefa em mãos: diminuir a morbilidade e a mortalidade cardiovascular através de um tratamento atempado e eficaz da diabetes.”

Em 2014, a diabetes representou cerca de oito anos e meio de vida perdida por cada óbito por diabetes na população com menos de 70 anos

Nos dias 22 e 23 de março, fala-se de tudo isto no 2.º Encontro “O Coração da Diabetes”, que tem lugar na Fundação Engenheiro António de Almeida, no Porto. A iniciativa, da APDP, tem um programa com base em cinco sessões temáticas. Obesidade, síndrome metabólico, doença metabólica e doença cardiovascular. Aterosclerose, aterotrombose, inflamação e doença metabólica. As diferentes vertentes da diabetes. Prevenção e diagnóstico. Insuficiência cardíaca.

O objetivo não é só debater os temas mais importantes, mas também os menos conhecidos, com cerca de 200 especialistas de diferentes áreas. Os assuntos a abordar no encontro têm uma relação direta com a prática clínica, na procura de respostas para as importantes questões que assolam médicos e doentes na gestão da diabetes e das complicações associadas. Com este encontro, a APDP pretende reforçar a sua intervenção nas diferentes vertentes da doença.