Desfibrilhador: choques de vida

Texto de Pedro Emanuel Santos

São preciosos e o método mais eficaz de reverter uma paragem cardíaca que ameaça matar quem a sofre. Os desfibrilhadores, explica o INEM no seu site, permitem a “administração de choques elétricos ao coração parado, possibilitando que o ritmo cardíaco volte ao normal”. É preciso saber como utilizá-lo, claro, mas o procedimento está ao alcance de qualquer cidadão sem conhecimentos clínicos por aí além.

A origem dos desfibrilhadores remonta ao final do século XIX, quando os médicos suíços Jean-Louis Prévost e Frédéric Batelli, professores na Universidade de Genebra, inventaram um dispositivo elétrico com carga suficiente para reativar um coração. As primeiras experiências, em 1899, foram aplicadas em cães e tiveram resultados animadores, mas foi preciso esperar quase 50 anos, até 1947, para que um ser humano pudesse testemunhar os efeitos da revolucionária máquina salvadora.

Coube então ao americano Claude Beck, responsável pelo lançamento e desenvolvimento da especialidade em Cirurgia Cardiotorácica nas universidades dos Estados Unidos, demonstrar que os desfibrilhadores seriam alternativas fiáveis às tradicionais massagens cardíacas. Com a colaboração do engenheiro James Rand, responsável pela conceção técnica dos primeiros desfibrilhadores, Beck conseguiu provar que a nova prática aumentava a possibilidade de conseguir salvar pessoas em risco.

O primeiro paciente a sentir os efeitos da novidade foi um adolescente de 14 anos com um problema congénito que sofreu uma paragem cardíaca durante uma operação de coração aberto, e a quem Claude Beck aplicou choques elétricos que acabaram por o salvar de desfecho fatal.

A partir de então os desfibrilhadores, com evoluções pelo meio, tornaram-se frequentes nos meios hospitalares e clínicos. E passaram também a estar presentes em locais de grande movimento público, com Portugal a não fugir à regra. Em julho, o INEM anunciou que atualmente há 2 453 aparelhos licenciados no país, espalhados por pontos tão diversos como aeroportos, hotéis, hipermercados e casinos – a contabilidade não abrange os desfibrilhadores disponíveis em hospitais, centros de saúde e ambulâncias. Podem ser usados por qualquer cidadão, se possível com conhecimentos de primeiros socorros, antes da chegada de pessoal médico de emergência.

O número de desfibrilhadores sofreu um crescimento significativo, sobretudo se for tido em conta que em 2013 havia apenas 446 em todo o território nacional. No ano seguinte, passou a ser obrigatória por lei a presença destes equipamentos em espaços de dimensão relevante e, desde então, o número não tem parado de crescer. Para que choques de vida levem a melhor quando a morte parece inevitável.

Qualquer um pode usá-lo

Um desfibrilhador é composto por dois elétrodos que, colocados no peito do paciente, descarregam corrente elétrica direta ao coração, para que este seja devolvido à sua função e não páre de trabalhar. A aplicação dos elétrodos tem, obviamente, método e forma. Um deve ser colocado do lado direito do doente, junto ao ombro, o outro do lado esquerdo, abaixo do coração.

A carga elétrica utilizada é moderada e consoante a gravidade de cada caso, podendo ir dos 200 aos 360 joules nos adultos. Os chamados Desfibrilhadores Automáticos Externos têm a capacidade de fazer uma pequena mas decisiva avaliação do doente e assim calcular qual a carga a aplicar antes de se iniciarem as tentativas de reanimação.