Não há duas peças iguais, não há coleção encaixada em estações frias ou quentes, não há vestidos de vez única. Únicos só os tecidos, importados de Itália, com destaque para a organza, a lã e a seda natural. O conceito de Davii, criador do Brasil a viver no Porto há cinco anos, é o de que “cada peça de roupa é um lego. A ideia é divertirmo-nos com ela. É inviável comprar para vestir só uma vez. A roupa não é para guardar. É para misturar, adaptar e usar até rasgar”.
Entrar na sua loja-ateliê, no número 358 da Rua Duque da Terceira, é “uma experiência”. Ele é o criador mas também é o vendedor e o assessor de imagem. “Gosto de conhecer pessoalmente as clientes, de perceber o seu perfil, de sentar e conversar, de convidar a provar tudo.” Por isso, apesar de a porta estar aberta, prefere que se marque horário. “É uma loja, mas não é convencional.”
Davii não é uma estreia no mundo internacional da moda, desenha roupa há quase 25 anos, exporta para Itália, França (Paris) e Brasil (São Paulo). E, no ano passado, participou na Veneza Fashion Week. Mas em Portugal, no mês em que a sua marca homónima celebra o primeiro aniversário – está registada Davii, com dois “i”, numa espécie de “homenagem ao número 11, que é forte porque é indivisível” –, estreia-se no Portugal Fashion, com uma instalação inspirada no deserto.
“Desenho roupa para fazer as pessoas sonharem. Gosto de peças volumosas, transparentes, que denunciem a silhueta (sempre aconselho meia fio 40, grossa, escura) e inspirem a fantasia e o lado lúdico da vida.” A mulher para quem cria – sempre de madrugada, quando a cidade está parada e em silêncio – “é sofisticada, decidida, forte, segura, sabe o que quer e é dona da sua história. Gosta de ser notada mas sem ter os holofotes em cima dela”.
Todas as peças deste designer que decidiu ficar a viver no Porto depois de ter feito a caminhada de Santiago de Compostela, e que se inspira “no comportamento social para construir contos de fadas”, são feitas à mão, numeradas e classificadas. “Faço uma fotografia, guardo e coloco numa ficha. Sei sempre para onde foi cada vestido meu”, assegura. No dia em que recebeu a “Notícias Magazine”, completou 41 anos. E revelou ser autodidata.
“Aprendi a cortar e a costurar sozinho. Não gosto de fazer moldes, gosto de ir trabalhando o tecido, tentando sempre fazer a peça o mais limpa e polida possível. Ou seja, com dois cortes no máximo.” É isso que lhes dá fluidez e a sensação de que a qualquer momento podem voar. Davii, cujo verdadeiro nome é Fabiano, diz privilegiar isso, “coleções intemporais, sustentáveis e divertidas e leves.”