Texto de Filipa Neto
É pequeno e até parece sem importância, mas, na verdade, mesmo estando a ficar fora de moda, continua a ser relevante para os poucos costureiros que ainda cosem à mão. A vida do dedal começou no tempo dos faraós e resiste 12 mil anos depois. De mão dada com a agulha. Para não magoar os dedos.
Os egípcios e os mesopotâmicos foram os primeiros a progredir na arte da costura. Rudimentar, como os dedais da altura, inicialmente feitos de couro ou madeira. Mais tarde, os romanos recorreram a ossos, a dentes de marfim ou a chifres de animais para o fabrico. Os anos foram passando e os dedais evoluindo.
O ferro, o latão, o aço, a prata ou o ouro passaram a ser as matérias-primas mais procuradas para o fabricar. A última acabou por ser adotada pelas damas da realeza, que exibiam com orgulho dedais decorados com pérolas e diamantes. Um luxo, para quem passava os tempos livres a bordar com delicados fios de ouro. Na China, para além de toda essa luxúria, havia ainda quem os guardasse em bolsas de madrepérola.
Ainda hoje, mais de cinco séculos volvidos, é famoso o conjunto de dedais, cravejados com pedras preciosas, que a rainha Elisabete I, de Inglaterra, ofereceu a uma das damas de companhia. Poucos anos depois, em 1693, também em Inglaterra, John Lofting, engenheiro e empresário holandês, construiu a primeira empresa de produção em série de dedais. A fábrica começou por ser instalada em Islington, mas acabou por se mudar para uma das margens do rio Tamisa, em Londres, onde passou a fabricar por ano mais de dois milhões de unidades em metal.
A democratização foi finalmente uma realidade. E de tal forma que, no século XVIII, o dedal ganhou tradição como presente de casamento. O noivo oferecia à futura esposa um exemplar em tons cinza. Desde então, mesmo depois de a tradição já não ser o que era, o dedal nunca foi esquecido, apesar da industrialização do fabrico de roupa lhe ter roubado protagonismo.
Não só pela beleza, mas também pela importante ajuda que dá a todos os que ainda trabalham na área da costura manual. Dedais com a parte superior fechada são mais usados por estilistas. Os alfaiates recorrem aos que possuem abertura na ponta, pois permitem maior facilidade na manipulação dos tecidos, em pregar botões, fazer casas e descoser.
Nem todos os iniciantes na arte da costura se familiarizam com o dedal. No entanto, quando o uso se torna habitual, acaba por ser tão indispensável como a tesoura e a própria agulha. Dizem os entendidos que ajuda a ganhar velocidade para alinhavar e bordar e que, em vez de apoiar a agulha no dedo e correr o risco de o picar, esta recebe o impulso ideal, proporcionando alinhamento e dimensão ao trabalho.
A introdução no mercado de tecidos cada vez mais finos acabou por também ajudar à redução do número de utilizadores do dedal. As agulhas passaram a ser manuseadas com maior facilidade. Atualmente, a maior parte é comercializada por colecionadores. Depois de 12 mil anos de vida, estão em vias de extinção. Contam-se pelos dedos.lm