Consoar sem sujar a cozinha

Tentáculo de polvo gigante faz parte do menu cozinhado em casa pelos chefs da Supper Stars (Foto: Supper Stars)

Um Natal longe dos tachos, com mesa farta e tempo para descansar à lareira. De norte a sul há confeitarias e restaurantes que oferecem uma ajuda extra para acalmar a azáfama na ceia. E há um sem fim de pratos, com sugestões muito para lá do bacalhau cozido. Aliás, há sítios em que o pescado não é a primeira opção. Privilegiam-se as carnes e trocam-se as batatas por puré de castanhas e arroz.

Já os doces pouco fogem ao convencional. No banquete, a iguaria do abade de Priscos tem lugar cativo. É um pudim com raízes em Braga que leva toucinho, gemas de ovos, limão, canela, açúcar e vinho do Porto. Sem saltar um passo na receita, a Doçaria Cruz da Pedra, na cidade dos arcebispos, comercializa mais de mil unidades na quadra natalícia. Somam-se os pudins que saem para revenda. Aberto desde 1922, o negócio passou de geração em geração. Ao leme está Manuel Almeida, de 33 anos.

Entre as memórias de infância estão os dias intensos que antecediam a consoada. O trabalho árduo para dar resposta às encomendas mantém-se até hoje. Na confeitaria, o pudim, de textura aveludada, sofreu uma redução na quantidade de açúcar. Ao sabor do progresso.

Lombo de porco assado com farinheira ou legumes é uma especialidade natalícia do Terraço do Marquês, em Lisboa. (Foto: Gonçalo Villaverde/Global Imagens)

“Com o frigorífico, os doces não precisam da mesma quantidade de açúcar para conservar. Além disso, o próprio cliente também acaba por pedir menos açúcar. Ao reduzir, conseguimos surpreender a maioria das pessoas e desmistificar esta associação do pudim a uma bomba calórica.” Manuel Almeida gaba os dotes culinários do criador do pudim: “O abade era conhecido como um excelente cozinheiro. E não fazia segredo das receitas”.

Pudim abade de Priscos em versão individual, fabricado na Doçaria Cruz da Pedra, em Braga. (Foto: Paulo Jorge Magalhães/Global Imagens)

Pela porta 156 da Rua Beato Miguel de Carvalho saem também os pastéis dos remédios e os formigos, um doce do Minho. De resto, na montra, há um pouco de tudo: rabanadas, bolo-rei, sonhos e pão de ló. De fora vêm produtos típicos de outras regiões. É o caso do pão de ló de Ovar. “Não fazemos imitações. Procuramos os originais”, sublinha.

Sete horas de peru

Gulosices à parte, nos restaurantes também se esboçam os menus para a ceia. No Porto, a confeitaria Tavi já estreou o livro de encomendas. A maioria dos clientes é da Invicta e, por uma questão de qualidade, normalmente não se admitem mais de 20 encomendas de peru, a especialidade da casa, com recheio de vitela e frutos secos. Quando solicitado, sai bacalhau com natas ou broa.

Há ainda esparregado, puré de castanhas e arroz grego. Em contagem decrescente para a ceia, todos os pares de mãos são bem-vindos. “É um peru que demora cerca de sete horas a assar”, conta Carla Silva, responsável de produção. Na doçaria, a procura recai principalmente sobre o bolo-rei, mas o fondant de chocolate, confecionado sem farinha, também é um candidato para degustar no Natal.

 

(Foto: Paulo Jorge Magalhães/Global Imagens)

Rumo à capital, o bacalhau é rei. Da carta do Terraço do Marquês constam ainda o peru, o lombo de porco e o galo capão. Casam bem com arroz árabe ou batata assada com alecrim.

A refeição bate à porta na manhã do dia 24. A entrega, feita pelo estafeta, adiciona um custo de cinco euros.

No ano passado, o primeiro em que o serviço foi disponibilizado, a procura superou as expectativas. “Trabalhamos com lombo de bacalhau e temos muito cuidado com o sal, que é sempre usado de uma forma reduzida”, refere Miguel Moreira, proprietário do Terraço do Marquês. Prevê-se que a 20 de dezembro o restaurante feche ao público. Serão dias dedicados à produção e à separação de encomendas.

Chef ao domicílio

(Foto: Paulo Jorge Magalhães/Global Imagens)

Este ano, a comida de autor também pode ser um presente no estômago. Acede-se à plataforma online da Supper Stars, reserva-se uma data, seleciona-se a área geográfica, escolhe-se o chef e acertam-se agulhas quanto ao cardápio. Depois, é deixar o fogão nas mãos do profissional, que compra os ingredientes, prepara a comida, põe a mesa e, no fim, deixa a cozinha como a encontrou.

A refeição aparece feita a partir dos 100 euros por pessoa. “Basta abrir a porta e sentar-se”, resume Tiago Ribeiro, fundador do projeto. Pelo país há cerca de 50 chefs e três ou quatro dias antes do Natal “já começa a ser difícil encontrar um disponível”. Fora da quadra, os chefs cozinham nos mais variados momentos, desde a passagem de ano a jantares românticos, almoços de amigos e festas de empresas.

(Foto: Paulo Jorge Magalhães/Global Imagens)

“É uma experiência em que o cliente está a aproveitar o momento no conforto da casa. A consoada pode incluir de tudo, exceto se o cliente não quiser. Há chefs que levam toda a doçaria do Natal, outros têm outras propostas mais irreverentes”, detalha Tiago Ribeiro.

Entre as sugestões da Supper Stars encontram-se bacalhau com crosta de broa, cabrito assado, tentáculo de polvo gigante e peru com folhado de castanhas e cogumelos. Para adoçar o paladar há fritos de abóbora com nozes, sonhos e coscorões, pudim abade de Priscos, tronco de Natal e sonho de abóbora-menina.

(Foto: Paulo Jorge Magalhães/Global Imagens)

As sobremesas de Norte a Sul, com hora marcada

A Queijaria (Lisboa)

Queijos da Serra da Estrela, S. Jorge, Azeitão, Brie trufado, Stilton, Pecorino Trufado, Gorgonzola e outros, nacionais e internacionais

Encomendas até 14 de dezembro

Pão de Ló Flor de Liz (Ovar)

Pão de ló de Ovar, Senhor Chocolate, desmanchado de pão de ló

Encomendas até 10 de dezembro

Arcádia (Porto, Aveiro, Algarve, Coimbra, Viseu, Braga, Guimarães, Estoril, Cascais, Lisboa)

Sortido tradicional; bombons de vinho do Porto; bolas de Natal com pérolas de chocolate; três estojos de bonecos de chocolate de leite em forma de azevinho, bonecos de neve e pinheiros; cookies e bolachas de Natal, incluindo bolachas de bolo-rei e de gengibre

Encomendas até 23 de dezembro, limitadas ao stock

Pastelaria Flor de Aveiro (Aveiro)

Bolo-rei, bolo-rainha, bolo-rei escangalhado, bilharacos, sonhos, coscorões, broinha castelar, bolo Morgado do Bussaco by Flor de Aveiro, doçaria conventual e tradicional portuguesa

Encomendas até 22 de dezembro

Pastelaria Alcôa (Lisboa)

Delícia do convento, bolo-rei, bolo-rainha, rabanadas (recheadas com ovos ou maçã com passas), lampreia de ovos, tronco de Natal, coroa da abadessa, cornucópias, cheesecake, encharcada, doces conventuais

Encomendas até 17 de dezembro

A Ti Marquinhas (São Brás de Alportel)

Doce fino, lampreias de ovos, morgados, troncos de Natal, três delícias do Algarve (com figo, alfarroba e amêndoa), torta de batata-doce, torta de figo, torta de noz, segredo de figo, doce conventual, pudim do amor, torta de alfarroba com laranja, Dom Rodrigo, amêndoa bombom

Encomendas até 20 de dezembro