Texto de Ana João Mamede
Após o desaparecimento e assassinato de Marta del Castillo, escrutinaram o rio Guadalquivir, apenas com a suspeita de que seria o local onde o corpo teria sido depositado. Submergiram em águas fecais à procura de Gabriel Cruz, de oito anos, assassinado pela madrasta. Removeram de um poço o cadáver de Diana Quer, estrangulada por um homem cuja tentativa de violação falhou. Neste momento, e sob os holofotes mediáticos, tentam resgatar Julen Jiménez, de dois anos, do fundo de um poço com mais de 100 metros de profundidade em Totalán, Málaga.
Estes são exemplos das tarefas dos 213 agentes que compõem os Grupos Especiais de Atividades Subaquáticas (GEAS). Dentro de água ou mesmo na lama, os especialistas da Guarda Civil espanhola procuram cadáveres, veículos, armas, pistas e provas de investigações criminais.
“Devolver o corpo de um ente querido é um sentimento agridoce”, diz o sargento Antonio Garcia, responsável por um GEAS na província de Alicante. “Sente-se satisfação quando se vê a família descansada, mas também tristeza.” O cabo Ángel Montero acrescenta: “Recuperar o corpo de uma criança, especialmente se se tiver filhos da mesma idade, é um momento muito difícil. Mesmo assim, temos a ‘recompensa’ de proporcionar conforto aos membros da família. Como uma mãe que nos enviou uma carta de agradecimento por resgatarmos o corpo do filho que morreu afogado numa gruta”.
“Recuperar o corpo de uma criança, especialmente se se tiver filhos da mesma idade, é um momento muito difícil.” (sargento Antonio Garcia)
Contudo, nem sempre é possível oferecer esse fecho de ciclo a uma família. É o caso de Marta del Castillo. Desde o desaparecimento da adolescente em 2009 que os GEAS têm procurado, o corpo da jovem em aterros sanitários, poços, trincheiras, minas abandonadas, fazendas e no rio Guadalquivir. Sem êxito.
Por outro lado, muitos devem a vida a estes heróis mergulhadores. Um deles é Xisco Gràcia, retirado ao fim de 60 horas de uma caverna a 40 metros de profundidade em Maiorca, há dois anos.
A equipa do sargento Antonio Garcia tem oito elementos, que se dividem em duas equipas de quatro. Dois mergulhadores submergem e dois restantes ficam na superfície em vigilância.
Fazer parte dos GEAS não é tarefa fácil. Muitos candidatos desistem durante os testes físicos e psicológicos. Ao fim de duas semanas de provas, a lista de aspirantes desce a pique. “O autocontrolo e a tranquilidade são essenciais quando nos movemos entre o lodo e os galhos à procura de um cadáver”, conta Jesús Garrido, agente com mais de 20 anos de serviço.
Salvar pessoas e resgatar corpos é o lado mais visível do trabalho dos GEAS, mas não é tudo o que fazem. Também se envolvem no combate ao terrorismo e ao tráfico de drogas, monitorizam reservas marinhas e áreas protegidas, e protegem património cultural e histórico submerso.