Como domesticar uma bexiga mal comportada?

Texto de Sara Dias Oliveira

Em 2015, Paula Guimarães fez uma histerectomia radical. Dois anos depois, sentiu que a bexiga já não se portava da mesma maneira. Sempre a correr para a casa de banho, aquele pensamento de que a bexiga poderia ter descaído com a operação, a sensação que talvez não houvesse qualquer sentido para o que se estava a passar. Tinha 54 anos.

“Em setembro de 2017, tive uma crise um bocado chata, uma crise de incontinência que só parou quando parou”, recorda. Estava na rua, numa das mais movimentadas de Lisboa, sentiu o chão fugir-lhe debaixo dos pés, começou a pensar que talvez tivesse de usar fraldas. Sentia-se perdida. A partir daí, consultas, exames, o diagnóstico de bexiga hiperativa. Viu a sua vida comprometida. “Não bebia água para não ter de ir à casa de banho, não dormia por causa daquela sensação de não chegar a tempo à casa de banho”, lembra.

Os fármacos foram descartados depois de um tratamento sem sucesso, e o médico falou-lhe na possibilidade de colocar uma espécie de pacemaker para que a bexiga se portasse como deve ser. Trata-se da neuromodulação sagrada, isto é, a estimulação das raízes nervosas sagradas, no fundo das costas, através de impulsos elétricos. Uma solução para quando as terapias comportamentais e os medicamentos falham.

Os vários tratamentos para a incontinência urinária têm taxas de sucesso que podem chegar aos 90%.

Paula Guimarães fez o implante do neuromodulador na base do nervo sacral. “E lá vim eu toda contente, mas o meu organismo resolveu pregar-me algumas partidas.” Foram necessárias três cirurgias para que tudo ficasse bem. Não era uma questão médica, era uma questão fisiológica. O seu corpo precisou de tempo para se adaptar a um mecanismo estranho. A diferença foi abismal. Paula Guimarães, 58 anos, do Porto, a trabalhar em Lisboa numa empresa que presta consultoria na área informática a nível nacional e internacional, voltou a ter uma vida normal. A bexiga deixou de ser um problema. “Sou uma mulher feliz.”

De 17 a 23 de junho, assinala-se a Semana Mundial da Continência. A incontinência urinária afeta cerca de 600 mil portugueses que vivem com o pensamento na casa de banho mais próxima, programam viagens com base na quantidade de vezes que têm de parar para urinar, nunca se sentem confortáveis onde quer que estejam. A vergonha e a falta de informação condicionam o dia-a-dia nas mais pequenas tarefas, afastam pessoas da vida social.

A incontinência urinária é mais frequente nas mulheres do que nos homens mas, em ambos os géneros, é muitas vezes ignorada ou olhada como algo normal com o avançar dos anos. De facto, a prevalência da doença aumenta com a idade, mas há tratamento. A neuromodulação sagrada, por exemplo, controla a bexiga e episódios de perda de urina, melhorando a qualidade de vida do doente. O tratamento é reversível e pode ser interrompido a qualquer momento ao desativar ou retirar o implante.

Este procedimento é minimamente invasivo. Na primeira fase, colocam-se os elétrodos e, após verificação dos resultados, o doente é sujeito a uma segunda intervenção, onde é introduzido o implante definitivo.