Carola Rackete: desafiadora humanitária

Foto: Till M. Egen/EPA-EFE

Texto de Alexandra Tavares-Teles

É branca, nasceu num país rico, tem o passaporte certo. É por esse motivo que, explicou Carola Rackete ao jornal italiano “La Repubblica”, tem o dever moral de ajudar os que não têm as mesmas oportunidades. Por isso, aportou sem autorização a Lampedusa, para salvar 42 migrantes africanos resgatados na costa da Líbia.

Foi na noite de 28 para 29 de junho que a capitã alemã, ao comando do navio humanitário Sea-Watch 3, desafiou Matteo Salvini. De extrema-direita, o ministro do Interior italiano chamou ao gesto humanitário ato criminoso. Pela entrada não autorizada naquelas águas com migrantes considerados ilegais, a lei italiana prevê multa pesada e confisco de navio.

Pelo embate, inadvertido, num barco da polícia marítima, a pena pode chegar a 13 anos de prisão. “A situação era dramática, o objetivo era apenas trazer pessoas exaustas e desesperadas para terra. Eu estava com medo”, declarou, em tom calmo, a capitã, mal foi detida. Em prisão domiciliária, foi libertada na última terça-feira.

Aos 31 anos, é, nas palavras da tripulação do Sea-Watch, “uma mulher prudente que não se coloca em primeiro plano”. Uma líder “autoconfiante, responsável e determinada”, consciente das consequências de suas decisões. Ekkehart Rackete, o pai, confirma. “Sabe o que está fazendo e é uma mulher forte”, disse ao diário italiano “Corriere della Sera”.

A família de Rackete vem da Baixa Saxónia. Depois de estudar ciências náuticas e proteção ambiental na Alemanha e em Inglaterra, a poliglota – fala cinco línguas estrangeiras, incluindo russo – navegou, sobretudo, no Ártico e na Antártida em trabalhos de pesquisa. “Sempre adorei as regiões polares porque elas são lindas e inspiradoras, mas trabalhar lá é triste porque pode ver-se o que os humanos estão a fazer no planeta”, afirmou recentemente.

Ao compromisso com o meio ambiente juntaram-se as preocupações sociais e o voluntariado na ONG alemã Sea-Watch. Em 2016, ofereceu-se para uma missão de resgate na Líbia; em 2017, tornou-se coordenadora de várias missões de resgate em navios e preparou o uso de aeronaves de busca. Lida, desde a primeira missão, com a tragédia dos refugiados no mar. Por eles, para os salvar, diz, está pronta para a ir para a cadeia.

“Nós, europeus, permitimos que nossos governos construíssem um muro no mar. Há uma sociedade civil que está a lutar contra isso e eu faço parte dela.” A voz não tremeu quando o capitão da ilha de Lampedusa negou a permissão para entrar nas águas territoriais italianas. “Chegaremos em duas horas”, respondeu a jovem capitã vinda do frio, com a força de quem está disposta a rasgar a linha proibida. Como quem rasga o gelo polar.

Cargo: Capitã do navio humanitário Sea-Watch 3
Nascimento: 08/05/1988 (31 anos)
Nacionalidade: alemã