Pergunta: o que representa para este lisboeta, de 61 anos, gestor capaz de levar a cabo trabalhos hercúleos, resgatando da zona vermelha, em tempo recorde, empresas consideradas praticamente perdidas, o epíteto de melhor CEO da indústria automóvel? “Risco. Representa enorme risco”, responde de imediato Carlos Tavares.
À “Notícias Magazine”, o CEO da PSA Peugeot Citroën e futuro diretor-geral da entidade que resultará da fusão da PSA com a Fiat Chrysler explica porquê: “No mundo de hoje a notoriedade ou a fama acarretam um enorme risco, deixam-nos vulneráveis a vários tipos de ataque. A nós e à nossa família”.
Três filhas, quatro netos. Família construída em Paris, a cidade onde vive desde os 17 anos, acabado o liceu francês (é filho de uma professora de francês e de um funcionário de uma seguradora gaulesa), decidido a estudar engenharia mecânica na École Centrale Paris – contam-se entre muitos “centraliens” famosos Gustave Eiffel, Boris Vian, Armand Peugeot, André Michelin ou Édouard Vaillant -, apaixonado desde adolescente pelos automóveis.
“A ‘petrol head’ eager to share his automotive & motorsport vision!”, assume no Facebook. “Petrol Heads” ou aqueles que passam horas a ver e a rever vídeos de recordes e corridas, em garagens, à volta dos objetos de estimação, obsessivamente apaixonados por carbono e alumínio.
Em 1981, acabado o curso, inicia o percurso profissional na Renault. Ascensão veloz: quatro anos depois já era responsável pelo desenvolvimento de suspensões para todos os veículos da marca, cabendo-lhe desenhar, mais tarde, a plataforma da segunda geração do Clio e conceber toda a gama do Megane II, a mais importante da marca francesa.
Mas a paixão vai mais longe: à estrada, em ralis (Portugal, Monte Carlo) e à pista (F3 Classic, não tivesse ele uma particular afeição por carros antigos). “Um gentleman driver”, diz Carlos Barbosa, presidente do Automóvel Clube de Portugal. Nos carros aprecia, revela o próprio Carlos Tavares, “o rigor e o trabalho de equipa”. Sabe bem que depende da máquina, “mas a máquina depende da equipa”.
Rigor é palavra querida. Domingos Piedade, amigo de há 30 anos, conta: “Se marcarmos um jantar para as 19.30 horas, é certinho que às 19.29 manda uma SMS a dizer que chegou”. Nos negócios, lembra ainda o amigo, o “gentleman driver” transforma-se. “Faz o que tiver de ser feito. Com rigor, mas o que tiver de ser feito. Por isso é o melhor de todos. O número um.”
Carlos Barbosa releva a “simpatia e a afabilidade sem caganças”. Um condutor muito razoável – “melhor do que eu” – que marcha contra a corrente.
Carlos Tavares não vai em modernices, dizem amigos. E adversários, tendo em conta a desconfiança do gestor relativamente aos carros elétricos, vistos por muitos como o futuro.
Pergunta: onde estará daqui a dez anos? “Não faço ideia. Não sei o que será a Europa, Portugal ou como estará então a minha saúde. A reforma está equacionada para ser em Portugal, mas não há data fixada.” Tem hoje uma “vida simples, o mais simples possível”, vai dizendo.
Entendido em vinho, do cultivo à mesa, tem propriedades no Douro. E manteve a casa de Lisboa e a do Algarve. Gosta de Portugal, dizem os amigos. Lembram que corre com a Cruz de Cristo no capacete.
Cargo: CEO do grupo francês PSA, fabricante da Peugeot Citroën
Nascimento: 14/08/1958 (61 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)