Carla Oliveira: A bióloga das doenças raras

Foto: Rui Oliveira/Global Imagens

Texto de Sara Dias Oliveira

Aos cinco anos sonhava ser astrónoma, aos sete queria ser médica e não mudou de ideias até aos 18. Decidiu ser cientista e hoje, aos 45, continua a querer ser o que é. Os seus dias são passados a investigar os genomas dos tumores para tentar prevenir o cancro.

A investigadora do Instituto de Investigação e Inovação da Universidade do Porto (i3S) lidera uma equipa que está concentrada no cancro gástrico hereditário difuso e integra um projeto europeu que tenta resolver o que não está resolvido em doenças raras. Está na linha da frente do único grupo português dessa parceria internacional que envolve mais de 20 instituições de nove países.

Perceber as predisposições para certas doenças, explorar os genes das células, encontrar as causas das doenças ligadas ao estômago. Antecipar-se à doença. São esses mistérios que a fascinam ontem como hoje. “É encontrar o desconhecido, encontrar zonas que não foram estudadas”, conta.

Gosta de literatura e de história e confessa que na sua vida há poucos cinzentos. Ou é ou não. E as perguntas têm de ter respostas. “Para trabalhar, tinha de ser nas ciências exatas e nas perguntas da vida.” Há mais de 20 anos ligada à genética humana, concentrada nas patologias associadas ao estômago, nos cancros que surgem perto do final da vida e nos que se manifestam muito cedo em pessoas que nascem com um gene maldito.

Por um lado, encontrar marcadores que indicam se o cancro vai ser muito agressivo; por outro, entrar num insondável mundo dos genes para encontrar soluções de diagnóstico para situações ainda não resolvidas. O objetivo é, explica, “perceber a mutação do gene” e, dessa forma, prevenir a doença.

Carla continua embrenhada num universo de três biliões de pares de nucleotídeos do genoma de células cancerígenas e a estudar os defeitos que fazem evoluir um tumor que pode não ter cura. “Tudo o que faço é para prevenir. Encontrar um gene, perceber o que faz, qual a sua função.” Perceber como tudo acontece, saber quais os mecanismos que dão início a uma patologia. A bem da saúde.

É natural de Tondela (Viseu), licenciou-se em Bioquímica na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, doutorou-se em Biologia Básica e Aplicada na Universidade do Porto e passou por várias instituições – Faculdade de Medicina do Porto, Instituto de Patologia e Imunologia Molecular (Ipatimup) e ainda pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

O pós-doutoramento foi feito com um pé no Ipatimup e outro em Vancouver, no Canadá. É secretária-geral adjunta da comissão executiva da Sociedade Europeia de Genética Humana, com sede em Viena de Áustria. Em 2011, voltou ao Porto e formou o seu próprio grupo de investigação que não gosta de estar parado porque ainda há muito para descobrir.