Cancro do colo do útero é silencioso e lento. Como dar com ele?

É responsável pela morte de uma mulher por dia. Trata-se do segundo tumor ginecológico maligno mais frequente nas mulheres portuguesas com menos de 50 anos.

É difícil dar com ele. Os sintomas do cancro do colo do útero só surgem quando a doença já está numa fase avançada. Perda de sangue fora da altura do período menstrual e nas relações sexuais, corrimento vaginal com sangue ou cheiro intenso e dores pélvicas constantes. São esses os sinais de alarme que devem ser analisados pelo médico assistente.

É um cancro silencioso e tem uma evolução muito lenta. “Começa com uma infeção persistente provocada pelo HPV (o vírus responsável pelo cancro), que, passados anos, pode evoluir e levar ao aparecimento de células malignas. Durante esse longo período de tempo, é possível identificar células precursoras (que ainda não são cancro) e tratar as lesões associadas, impedindo a progressão para cancro”, refere à NM Paula Ambrósio, ginecologista especialista em Patologia do Colo, do Hospital Reynaldo dos Santos, Vila Franca de Xira.

As mulheres entre os 25 e os 65 anos representam o grupo de maior risco. Aconselha-se um exame ginecológico regular para assegurar um diagnóstico atempado

A consulta regular com o médico assistente e a realização de rastreios permitem impedir a evolução desse cancro, já que identificam as lesões iniciais passíveis de tratamento. “Estão também disponíveis vacinas profiláticas contra os principais tipos de HPV. Essas vacinas evitam a infeção persistente contra os tipos de HPV contidos em cada uma das vacinas e é a medida de prevenção primária mais eficaz contra esse cancro. Estão indicadas para todas as mulheres, sem limite de idade.”

O cancro do colo do útero é causado por uma infeção persistente do Vírus do Papiloma Humano (HPV), que poderá provocar lesões

Como se trata de uma doença causada por um vírus, todas as medidas que melhorem o estado geral de saúde da mulher são importantes para ajudar o sistema imunitário a combater a infeção naturalmente. Paula Ambrósio adianta alguns cuidados a ter. “Não fumar e ter um estilo de vida saudável, com a ingestão adequada de frutas e legumes (com todos os antioxidantes que contêm), juntamente com a prática regular de exercício físico são aspetos muito importantes que não devem ser descurados”, sublinha.

O rastreio é uma arma poderosa contra o cancro, ou seja, identificar a doença numa fase inicial, em que o prognóstico é melhor. “No caso do cancro do colo do útero, foi possível baixar a incidência do cancro em 80% (o maior resultado de prevenção secundária alguma vez observado), apenas com a implementação de um rastreio que consistia na análise ao microscópio das células do colo do útero”, adianta a ginecologista. Atualmente recomenda-se a realização de tipagem do HPV (ou seja, a pesquisa do HPV) nas mulheres a partir dos 30 anos de idade e a citologia (o conhecido Papanicolau) nas mulheres entre os 25 e os 30 anos. “Com os avanços atuais, é hoje possível identificar as mulheres que estão em risco de vir a desenvolver, no futuro, um cancro do colo do útero”, acrescenta.

Em Portugal, a incidência é de cerca de 720 novos casos por ano, sendo que 390 acabam por ser fatais

Apesar de tudo, o balanço da evolução e tratamento do cancro do colo do útero é positivo. Menos casos nos últimos anos, identificação mais precoce. Segundo Paula Ambrósio, Portugal tem estado na linha da frente no tratamento desse tipo de cancro, tem disponíveis todas as modalidades terapêuticas (quimioterapia, radioterapia) e uma grande diferenciação cirúrgica.

“Em centros especializados, e em casos selecionados, já é possível realizarem-se cirurgias minimamente invasivas (por laparoscopia ou com a ajuda de um robô cirúrgico) que se associam a uma recuperação mais rápida e poucas cicatrizes”, afirma a médica.”Penso que a evolução do tratamento do cancro do colo do útero tem sido muito favorável na última década e, continuando-se a apostar no rastreio e na educação da população, só pode melhorar.”