Cancro da bexiga: Há sinais de alarme que não devem ser ignorados

Texto Sara Dias Oliveira

Uma gota sangue na sanita é sinal de que nem tudo está bem dentro do corpo. E há outros sinais de alarme que não devem ser ignorados quando aumentam as idas à casa de banho. Até porque o cancro da bexiga pode expressar-se de várias formas.

Sangue na urina é o sintoma mais comum e, muitas vezes, não há outra sintomatologia associada. Há também sintomas que se confundem com uma infeção urinária sem gravidade. Daniel Romeira, oncologista no Hospital Lusíadas de Lisboa, avisa que “pode ocorrer desconforto associado à perda de sangue em casos de obstrução das vias urinárias por coágulos e em tumores localmente avançados. Podem também surgir sintomas de irritação e esvaziamento, como a frequência urinária (aumento do número de micções), a urgência urinária e o ardor a urinar.”

O risco de desenvolver cancro da bexiga é maior nos homens do que nas mulheres e aumenta a partir dos 70 anos.

Em casos avançados da doença, há outros sintomas como a perda de peso e de apetite, febre, sudorese, cansaço, dor e edema. O tabaco é o perigo maior. Os fumadores têm três vezes mais risco de desenvolver esta condição. “Há uma correlação clara entre a quantidade de cigarros fumados e o risco de cancro da bexiga”, garante Daniel Romeira.

Há mais perigos à espreita. “Estão também descritos alguns agentes químicos que aumentam o risco de cancro da bexiga, nomeadamente em funcionários da indústria da borracha, têxtil, tintas e corantes capilares, devido à elevada exposição a uma família de compostos químicos denominados arilaminas”, revela o oncologista. Após esta descoberta, tenta-se neste momento diminuir o uso desses compostos.

Terapêuticas clássicas e estratégias inovadoras
A ciência continua a investigar este tipo de cancro e sabe-se que um aumento na quantidade de líquidos ingeridos, sobretudo água, pode ajudar a diminuir o risco de cancro da bexiga. Em relação à alimentação, a evidência ainda não está bem definida. “Contudo, alguns estudos apontam para que uma dieta rica em frutos e vegetais possa ajudar à diminuição do risco de cancro da bexiga. Em geral, apostar num estilo de vida saudável, com uma alimentação saudável e exercício físico, ajuda também na prevenção de outros tipos de cancro”, sublinha Daniel Romeira.

O uso abusivo de analgésicos, sobretudo contendo fenacetina, um familiar do paracetamol, pode também aumentar o risco de cancro da bexiga.

Há estratégias de tratamento mais clássicas como a cirurgia, a quimioterapia ou a radioterapia. Mais recentemente surgiram outras abordagens muito promissoras, como a imunoterapia. De qualquer forma, a terapêutica deve ser discutida com uma equipa médica multidisciplinar que terá em conta a idade, o estado funcional do doente, a fase de diagnóstico do tumor, se é tratável ou não, e outras doenças associadas.

“As terapêuticas, que são chamadas de imunoterapia, vieram trazer importantes melhorias de sobrevivência, não só após a quimioterapia como também, em casos selecionados, em alternativa à própria quimioterapia”, refere Paulo Cortes, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia.

Cirurgia, quimioterapia e radioterapia são as formas de tratamento mais tradicionais. A imunoterapia é uma abordagem promissora.

A investigação tem aumentado à volta deste tipo de cancro, com terapêuticas mais convencionais e estratégias mais inovadoras. Segundo Paulo Cortes, estão disponíveis em Portugal vários ensaios clínicos que “investigam a utilização de imunoterapia e de novas moléculas dirigidas a subtipos moleculares específicos de tumores da bexiga”.

“Este boom de investigação no cancro da bexiga promete, num futuro breve, novas opções terapêuticas numa doença que, até há pouco tempo, não apresentava grandes alternativas de tratamento”, sublinha o presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia.