Bússola: o norte é sempre magnético

Texto de Pedro Emanuel Santos

Uma pedra e uma concha. Estávamos na China da Dinastia Qin (200 anos Antes de Cristo) e assim, tão simples, nascia a fonte daquela que viria a ser eternizada como a bússola. A técnica foi-se aperfeiçoando e com a descoberta de que agulhas podiam seguir o poder de atração magnética da Terra, tornando assim a orientação mais precisa, o sistema desenvolveu novos capítulos. Cascas de tartaruga servindo de base a um ponteiro moldado a partir de bambu foram o passo seguinte na evolução.

Depois dos chineses, os árabes, poucos séculos mais tarde, pegaram na ideia e desenvolveram-na. A razão principal foi a religião e a procura por Meca, a cidade mais sagrada dos muçulmanos e para onde os crentes se viram na hora das várias orações diárias. A bússola permitiu-lhes que deixasse de haver dúvidas sobre a localização exata da terra santa, que assim ficava à curta distância de um pequeno ponteiro indicativo da sua direção exata.

O ponteiro único da bússola, quase sempre a vermelho carregado, aponta o sentido do norte magnético do Planeta. E porquê o norte? Porque a Terra é um enorme polo de atração que segue precisamente essa direção, explica a ciência.

Além das magnéticas, existem também, embora menos utilizadas, as bússolas solares. Tal como o nome indica, têm como ponto de referência o poente e o nascente do sol.

Foi preciso chegar ao século XIV para um inventor europeu aperfeiçoar mais ainda o conceito. Chamava-se Flavio Gioia, era italiano e, no fundo, aprofundou o que fora pensado pelos chineses e pelos árabes ao colocar uma agulha suspensa no interior de uma pequena caixa em forma de flor de lis, fechada com um vidro espesso e seguro. Nos últimos anos, Gioia tem sido motivo de intensa discussão em Itália, com várias correntes a defenderem que ele não foi senão um mito urbano, tese que tem valido páginas de acalorada discussão entre historiadores (sem que se tenha chegado a conclusões claras, aliás).

A rosa dos ventos, indicadora de todos os pontos cardeais, é imprescindível em bússola que se preze. Como o ponto aponta sempre o norte magnético, a rosa dos ventos vai dando indicações claras sobre os pontos de localização e orientação procurados.

Os Descobrimentos, nos séculos XV e XVI, teriam sido impossíveis sem a bússola. Apesar de os navegadores portugueses terem sido auxiliados por instrumentos decisivos para a orientação em alto mar, como o sextante e o astrolábio, sem ela teria sido tarefa ingrata desbravar o desconhecido e dar novos mundos ao Mundo.

Com a evolução tecnológica, o papel da bússola tornou-se gradualmente mais secundário. O século XXI trouxe a massificação do GPS, o que a encostou a um canto quase de museu. Mas sem retirar o reconhecimento histórico a este pequeno aparelho que muito contribuiu para a evolução do saber.