Em busca da melhor alimentação para cães e gatos

Texto de Fátima Mariano

Uma das maiores preocupações de muitos tutores de cães e gatos é garantir que estes tenham uma boa alimentação. No entanto, perante a variedade de dietas – ração convencional, comida caseira, alimentos crus, dieta vegetariana, etc. -, a dúvida por vezes coloca-se: o que deve o meu animal comer?

Para Ana Lourenço, docente e investigadora do Departamento de Zootecnia da Universidade de Trás-os-Montes e especialista em Nutrição Veterinária pelo Colégio Veterinário Europeu, “uma boa alimentação é aquela que contribui para uma vida longa e saudável, permitindo alcançar um nível máximo de bem-estar em todos os períodos da vida do animal”.

Esta especialista considera que todos os tipos de alimentação “têm vantagens e desvantagens”, mas alguns oferecem riscos elevados com vantagens diminutas. Por exemplo, a formulação de dietas vegetarianas, à base de vegetais e cereais, “exige conhecimentos mais extensos na área da nutrição de animais de companhia do que todas as outras”. No entanto, “nem todas as empresas possuem este nível de conhecimentos entre os membros dos seus quadros”, explica.

Este tipo de dieta é particularmente arriscado em gatos, que possuem necessidades em nutrientes só obtidos em alimentos de origem animal, como a taurina ou o ácido araquidónico. Contudo, “qualquer dieta, independentemente do seu tipo, representa um risco grave quando mal formulada”, sublinha.

Em relação às dietas de alimentos crus, o grande problema reside no facto de, por regra, não serem bem elaboradas e, portanto, revelarem-se incompletas e desequilibradas. Apresentam ainda um risco biológico grave, não só para os animais que as ingerem, mas também para as pessoas – em particular, as que têm o sistema imunitário debilitado. Estas dietas, pelo facto de não incluírem fontes de hidratos de carbono, também não são adequadas a animais com quadros clínicos particulares, como situações de pancreatite ou insuficiência renal crónica.

Ana Lourenço recorda que os cães e os gatos já não vivem na natureza, “agora dormem connosco na cama”, e esta alteração do estilo de vida acarreta consequências a todos os níveis, incluindo o alimentar. Por isso, aconselha, os tutores devem procurar informar-se bem sobre as reais vantagens e desvantagens das suas opções, para que as façam de forma consciente e informada.

Alimentação natural crua
Embora já não vivam na natureza, há quem defenda que a dieta mais adequada a cães e gatos é aquela que se aproxima da alimentação que os seus antepassados tinham no estado selvagem, como é o caso da dieta BARF (sigla em inglês para Alimentação Crua Biologicamente Apropriada).

Em 2010, a médica veterinária Catarina Luz decidiu investir nesta dieta. Uns anos antes, a sua cadela Lara Croft começou a ter muitos problemas de alergias. “Descontente com as dietas comerciais, pesquisei na internet, falei com médicos veterinários que já defendiam esta dieta e comecei a preparar a comida em casa. As manifestações de alergia desapareceram e a Lara rejuvenesceu”, recorda.

Os resultados convenceram-na. Despediu-se do hospital veterinário onde trabalhava e fundou a Dogs’ Wish, que, entre outros serviços, produz e vende comida BARF. Catarina Luz diz que ao início foi muito difícil divulgar a ideia porque as pessoas, habituadas a dar ração, não entendiam o porquê de uma alimentação natural crua para cães e gatos.

“A dieta BARF não consiste apenas em carne crua porque o cão não é 100% carnívoro”, realça. Além da carne de várias espécies, as receitas da Dogs’ Wish incluem vísceras, frutas e legumes. “Podem também ter outros ingredientes, como vinagre de cidra ou óleo de salmão”, acrescenta. “E deve ter sempre osso. No nosso caso, trituramos, mas não é obrigatório.”

Embora inicialmente o projeto só se dirigisse a cães, a Dogs’ Wish também já tem alimentação BARF para gatos. “No caso dos gatos, não se deve dar uma alimentação com excesso de cereais e legumes, porque eles são carnívoros estritos”, esclarece Catarina Luz.

Dieta vegetariana
Cristina Rodrigues, presidente do Centro Vegetariano, tem outra opinião: “No caso dos gatos, é ainda mais importante dar sobretudo ração vegetariana.” Embora necessitem de taurina, vitamina A pré-formada e ácido araquidónico, “que uma alimentação exclusivamente vegetal não fornece”, Cristina Rodrigues diz que “as rações vegetarianas para gatos incluem esses nutrientes sintéticos de origem vegetal”.

Ao argumento de que os gatos são naturalmente carnívoros, responde: “Ter um animal domesticado em casa já não é de si o mais natural. Estes animais já não têm o seu habitat natural e já fazemos muitas coisas que não seriam o mais natural: ir ao veterinário, dar banho, andar de trela. E o próprio ato de dar ração não é natural. Nenhum animal comeria ração na natureza.”

Animais com uma dieta vegetariana têm habitualmente tutores que também a seguem. A cadela de Cristina Rodrigues, Luna, de 14 anos, começou por comer ração convencional quando foi adotada. A partir dos nove meses passou a alimentar-se apenas de ração vegetariana. “Decidimos dar-lhe uma alimentação vegetariana por se adequar mais com os nossos valores enquanto vegetarianos. Informámo-nos e percebemos que as rações vegetarianas são igualmente equilibradas, com uma análise nutricional semelhante e percebemos que para um animal ‘ração é ração’, independentemente de ter carne ou ser vegetal”, diz. “O cão não sabe se está ou não a comer carne.”

Alimentos a evitar

Alho e cebola

Os compostos sulfurados presentes nestes alimentos provocam anemias graves.

Uva e uva passa

A sua ingestão, mesmo em doses relativamente reduzidas no caso dos animais mais sensíveis, pode causar alterações gastrointestinais e neurológicas e insuficiência renal aguda. A uva passa é particularmente perigosa.

Chocolate

Contém metilxantinas, como a teobromina e a cafeína, que provocam alterações no sistema nervoso central e periférico e na contração muscular.

Café e chá

As metilxantinas (cafeína e teofilina) provocam alterações ao nível do sistema nervoso.

Noz de macadâmia

Embora por regra não seja letal, a sua ingestão pode provocar sinais clínicos, como atitude deprimida, fraqueza muscular, desequilíbrio e desorientação, vómito e aumento de temperatura.

Bebidas alcoólicas

As vias de metabolização do álcool estão menos desenvolvidas nestes animais, pelo que as consequências da sua ingestão estão aumentadas.