Por hora, três portugueses sofrem um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Um não sobrevive. Continua a ser a principal causa de morte no nosso país.
Não avisa e pode ser leve, moderado ou grave. Pode afetar uma zona pequena do cérebro, como pode causar morte súbita. Um AVC é um problema de saúde repentino e os efeitos no corpo são imediatos. Em qualquer situação, há sempre uma parte do cérebro que morre, pequena ou grande. É um défice neurológico súbito motivado por duas razões: ou uma artéria que entope ou uma artéria que rompe.
A área do cérebro irrigada ou nutrida pela artéria acaba por deixar de existir. “Há sempre uma parte que morre por mais pequena que seja”, adianta à NM João Lopes Delgado, médico especialista em Medicina Interna e coordenador da Unidade de Cuidados Intermédios do Hospital de Egas Moniz, em Lisboa.
Os sintomas estão diretamente relacionados com a parte do corpo que o cérebro comanda. Pode ser uma fraqueza ou paralisia do braço, perna ou face de um lado do corpo. Um desvio da face, com a boca ao lado. Dificuldade de falar ou de perceber o que se escuta. Diminuição do equilíbrio, perda de visão, dor de cabeça intensa, súbita e incomum.
O sintoma manifesta-se, percebe-se que é um AVC, deve-se ligar imediatamente para o 112, nunca ir pelos próprios meios para o hospital. Com a chamada, a Via Verde do AVC é acionada e logo que o doente entra na unidade hospitalar, tem uma equipa devidamente preparada à sua espera. “O importante é ligar para o 112 e manter a calma”, diz o especialista. Nada de aspirinas, nada de pânico. Sossegar e estar o mais confortável possível. Em caso de perda de consciência, quem estiver por perto, deve deitar o doente, mas sempre de lado, para evitar a aspiração do próprio vómito.
Um AVC acontece por uma deficiente irrigação sanguínea ou por uma hemorragia no cérebro
O AVC continua a ser a principal causa de morte em Portugal e uma dos mais importantes motivos de hospitalização, incapacidade, bem como de morbilidade e de potenciais anos de vida perdidos no conjunto das doenças cardiovasculares. É responsável pelo internamento de mais de 25 mil doentes por ano e por provocar incapacidade permanente em 50% dos sobreviventes.
Um AVC não tem hora marcada e pode acontecer a qualquer pessoa. Mas há fatores de risco que, se controlados, diminuem a probabilidade desse acidente cerebral. “É uma doença que, em larga medida, prevenível com ações para controlar esses fatores de risco”, sublinha João Lopes Delgado. Hipertensão, colesterol elevado, diabetes, e determinadas arritmias, estão na lista negra.
Gordura no sangue em níveis elevados, obesidade, hipertensão, arritmias e tabagismo são fatores de risco
Há vários caminhos para controlar o que é um perigo para a saúde. Reduzir o consumo de alimentos ricos em gorduras saturadas e colesterol. Praticar exercício físico de forma regular. Deixar de fumar. Tomar a medicação prescrita pelo médico. Os AVC não são todos iguais. Há AVC que se manifestam com toda a força, há AVC ligeiros, de pequenos vasos, que só num exame posterior se percebe o que se passou.
“O espetro clínico do AVC é muito vasto”, refere o médico. Quando a artéria entope ou rompe, há uma área, a zona de penumbra, que pode recuperar. “Essas zonas ficam ‘atordoadas’ e com o tempo podem ser salvas.” Há também procedimentos a ter em termos médicos, mas com pouca margem de manobra em termos de tempo. Administrar no doente um medicamento no limite máximo de três horas depois do AVC para dissolver coágulos. Até às seis horas, no máximo, colocar um cateter dentro da artéria para aspirar o coágulo. “Um AVC é um problema de saúde muito complicado, mas não é uma fatalidade”, remata o coordenador da Unidade de Cuidados Intermédios do Hospital de Egas Moniz.