“Até sugeri que o caso fosse atribuído à minha ex-mulher”

Notícias Magazine

Esta semana, nas entrevistas que nunca fiz, temos um convidado conhecido por ser um juiz a quem atribuíram casos em que é, realmente, especialista, um juiz tão especializado em corrupção que é acusado de já ter sido suspeito de participar em casos de corrupção. Olá, juiz Rangel, obrigado por estar hoje aqui sem lhe termos de pagar nada.
Não tem de quê, eu também gosto de dar umas borlas. Temos de ser uns para aos outros como faz o meu clube quando me arranja uns convites para ir ver jogos para a bancada.

Eu estou impressionado com a justiça portuguesa, é realmente de um profissionalismo raro. Vão buscar um juiz que é tão conhecedor do tema – corrupção – que até, supostamente, já participou nela. É como ir buscar o violador de Telheiras para decidir sobre casos de violação.
Isso é um bocado injusto, o Ministério Público já tinha pedido o meu afastamento como juiz do recurso relacionado com a Operação Marquês. Nesta terça-feira, eu pedi que o processo fosse entregue a outro juiz. Eu até sugeri que o caso fosse atribuído à juíza Fátima Galamba.

Mas a Fátima Galamba é sua ex-mulher…
Por isso mesmo, as acusações do Ministério Público deviam ser atribuídas ao casal. Num fim de semana, eu ficava com as acusações da Operação Marquês; no outro, ficava ela.

Mas isso não pode ser considerado como fazer parte das Máfias de Sangue?
Não, nós não somos da mesma família, só podíamos ser considerados máfias de sangue se eu lhe desse uma carga de pancada.

Segundo sei, o senhor é um dos arguidos no processo Operação Lex, por suspeitas de corrupção e tráfico de influências, tendo estado suspenso preventivamente das funções no Tribunal da Relação de Lisboa.
Cá está, Tribunal da Relação, mas eu já não tenho relação com a minha ex.

Mas não é um bocadinho estranho um juiz acusado de corrupção e tráfico de influências continuar a ter a capacidade de decidir naquilo de que é acusado?
Não acho. A justiça é suposto ser cega, eu sou capaz de ser míope em tudo o que tem a ver com corrupção.

Eu percebo a sua lógica. Mas não era preferível atribuir-lhe casos sem ter que recorrer à MultiOpticas?
Eu percebo a sua lógica, mas eu posso ser um bom juiz se me atribuírem casos para a ver ao longe. Para a ver ao perto e casos que me digam respeito tenho uma certa dificuldade.

Mas não acha que este tipo de decisões pode pôr em causa a capacidade que os portugueses têm em confiar na Justiça?
Mas os portugueses ainda confiam na Justiça?! Raios partam, sendo assim, vou dedicar-me à política.