O pé diabético pode ser uma infeção ou uma ulceração que revela a destruição de tecidos profundos, associada a alterações neurológicas ou a uma doença vascular periférica dos membros inferiores de quem tem diabetes. É, portanto, um pé frágil, uma situação crónica que precisa de vigilância constante. Só em 2016 foram feitas 1 037 amputações por esse motivo. Por isso, defende-se um sistema que responda às diferentes fases de evolução do pé diabético: prevenção, diagnóstico precoce, tratamento da úlcera e da isquemia e reabilitação.
O pé diabético acontece por duas doenças principais: a neuropatia e a aterosclerose. “A polineuropatia diabética é responsável pela insensibilidade do pé e pela deformação, a aterosclerose pela doença arterial periférica dos membros inferiores. Para o aparecimento da úlcera, atribui-se a presença de uma tríade de fatores que inclui a polineuropatia diabética, o trauma e a deformação, em que a doença arterial periférica é implicada na dificuldade de cicatrização. A infeção muitas vezes presente contribui como fator de agravamento da lesão ulcerativa”, refere à NM Ana Luísa Costa, médica na Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP).
Estima-se que 20 a 25% das admissões hospitalares de pessoas com diabetes acontecem devido ao pé.
Segundo a especialista, os mecanismos que levam ao pé diabético são “lentos e insidiosos.” Nesse sentido, os rastreios são importantes para identificar e estratificar pessoas com diabetes em risco de desenvolver uma úlcera no pé. A prevenção também é essencial através de um bom controlo glicémico, atividade física regular, muita atenção aos fatores de risco cardiovasculares, deixar de fumar, se for o caso.
Os cuidados variam de acordo com o grau de risco do pé diabético. “Mas, de uma maneira geral, deve evitar-se andar descalço, evitar fontes de calor, lavar e secar os pés cuidadosamente todos os dias, inspecionar os pés diariamente, manter a pele hidratada, escolher meias de fibras naturais e sapatos que respeitem a anatomia e dimensões do pé. O corte das unhas para as pessoas com alto risco para úlcera deve ser desbastado, utilizando limas de cartão”, adianta a médica.
Cerca de 85% das amputações são precedidas por uma úlcera no pé
Quem tem diabetes não terá forçosamente um pé diabético. “A prevenção das lesões do pé nas pessoas com diabetes, assim como das amputações, são medidas que estrategicamente incluem a educação da pessoa com diabetes e seus familiares, no que diz respeito ao autocuidado com os pés, assim como a formação dos profissionais de saúde e a organização de cuidados de saúde multidisciplinares e integrados a fim de reduzir o risco de aparecimento e progressão das lesões no pé.”
A amputação evita-se prevenindo a úlcera. O que deve ser feito? Um rastreio que inclui exame neurológico, exame vascular, inspeção das deformações do pé, avaliação do calçado. “Deve fazer parte uma educação estruturada e orientada, atribuída a cada nível de risco, no sentido de evitar os traumatismos do dia-a-dia num pé afetado pela neuropatia.” Esta avaliação permite determinar uma categoria de risco clínico para a úlcera do pé, implementar estratégias para redução do risco de lesão, bem como orientar e sistematizar os cuidados e vigilância atribuídos a cada nível.
Os doentes não devem andar descalços, devem lavar e secar os pés todos os dias, e calçar meias de fibras naturais
“A criação de equipas multidisciplinares na abordagem do pé diabético, em qualquer nível de prestação de cuidados de saúde, unidades dos cuidados de saúde primários assim como cuidados hospitalares, tem revelado reduções superiores a 50% das amputações dos membros inferiores na comunidade de pessoas com diabetes a quem se dirige”, revela Ana Luísa Costa.
A APDP tem a consulta de pé diabético e um projeto de visitas domiciliárias na cidade de Lisboa, que leva enfermeiros especializados a casa dos doentes com apoio da uma equipa multidisciplinar na retaguarda. Em 2017, nesta intervenção, foi dada assistência a 43 pessoas, fizeram-se 213 visitas em 42 dias, e não houve qualquer amputação.