Texto de Sara Dias Oliveira | Fotos: Artur Machado/Global Imagens
É uma imagem de postal que surge do lado direito de quem sobe e entra na pequena vila de Unhais da Serra, Covilhã, depois de curvas e contracurvas. O edifício envidraçado paredes-meias com o parque natural da Serra da Estrela, com vista para o vale glaciar de Alforfa, com cinco pisos desnivelados, destaca-se no alto da paisagem.
Ali estão as Termas de Unhais da Serra, remodeladas e reinauguradas em agosto de 2009, com água sulfúrea recomendada para as vias respiratórias, reumatismos, sistema locomotor, doenças do aparelho circulatório e digestivo.
Lá dentro, está o H2otel, hotel de montanha que abriu no final de 2008 com 90 quartos, 15 são suítes, dois espaços duplex com áreas de estar comuns e quartos separados. No edifício com uma zona lúdica semelhante a uma gruta artificial, com cascatas e repuxos, e uma piscina interior e exterior ao mesmo tempo, passam cerca de 50 mil pessoas por ano, 690 são exclusivamente termalistas.
O visual é luxuoso, o ambiente descontraído. Há hóspedes de robe e cabelo molhado pelo hotel que se interliga com os ginásios, os espaços termais, as áreas de massagens e terapias alternativas, sessões de acupuntura, consultas de medicina tradicional chinesa, tratamentos de corpo e rosto, rituais para casais.
Há ainda uma área de eventos para casamentos e congressos e um programa diário de animação para todas as idades, com cinema infantil, jogos de tabuleiro, hidroginástica, música ao vivo, caminhadas. São 100 serviços e um espaço pouco comum no país pela sua complementaridade e interligação numa oferta pensada para quatro gerações.
O Medical Spa é um exemplo dessa interligação. Acompanhamento personalizado, plano alimentar, exercício físico, tratamentos termais, fisioterapia, massagens, o que for necessário, à medida do cliente.
Segunda-feira passada, a nutricionista Odete Oliveira acompanhava uma pessoa que trabalha em diferentes partes do Mundo. Fez um plano alimentar, acompanhou a preparação do pequeno-almoço, caminhou pela serra. Depois do almoço, a hóspede repousa antes dos tratamentos definidos e com os técnicos da especialidade. Num dia, a nutricionista passa por vários lugares, cozinha, consultório médico, espaço termal, spa, onde for necessário.
“Apostamos sobretudo na reeducação personalizada na saúde e quase todos os planos têm acompanhamento termal”, explica. Dá indicações de refeições simples e exequíveis, receitas fáceis de fazer em casa. O trabalho continua depois do check-out, as conversas esticam-se depois da estada. Letícia Ortega, coordenadora do Medical Spa, articula a informação entre os técnicos envolvidos. “Aconselhamos sete dias no mínimo para termos margem de manobra para reajustar o programa”, diz.
“As termas de Unhais são a âncora deste projeto e quebram a sazonalidade do próprio hotel”, adianta João Paulo Duarte, diretor termal, que recusa desmembrar espaços e serviços porque ali, avisa, tudo funciona de forma articulada. Mas é a água mineral natural, que nasce a 38 graus e é canalizada para a piscina e salas de tratamentos termais, o elemento diferenciador de todo o negócio que envolveu um investimento a rondar os 15 milhões de euros.
Sem a água termal, não havia o resto, o hotel e a fisioterapia em ambiente aquático, por exemplo. “As termas são, acima de tudo, um espaço de promoção de saúde. Aqui podem utilizar uma estância termal e usufruir de todas as mais-valias de um spa. Damos respostas até quatro gerações diferentes.” Os programas também se interligam. Onze noites no hotel com o mínimo de tratamentos termais, pequeno-almoço incluído, rondam os 1300 euros por pessoa em quarto single, em duplo desce para os 850.
O impacto é visível na vila de 1 200 habitantes com casas de pedra pelas encostas da serra. O complexo turístico é o segundo maior empregador, com cerca de 80 funcionários, a seguir ao setor têxtil.
José António Guerreiro, presidente da Junta de Freguesia de Unhais da Serra, confirma os benefícios para a terra. Até porque 44 mil hóspedes todos os anos são 50 vezes a população da vila. “Unhais é conhecida internacionalmente devido à qualidade do hotel e as termas sempre tiveram muita gente”, comenta. O autarca fala ainda dos quatro restaurantes que trabalham em permanência e as lojas de artesanato que acabam por ter mais clientela.
Comparticipação suspensa, quebra de 30%
As termas do país viveram tempos complicados nos últimos sete anos e meio, depois de o Estado ter deixado de comparticipar os tratamentos termais aos utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS), mantendo o apoio aos beneficiários da ADSE. A quebra rondou os 30% na procura e consequentemente na faturação dos espaços termais.
Este ano, as comparticipações estão de volta com apoio até 35% num montante máximo de 95 euros por pessoa. A decisão tem várias razões. Raquel Duarte, secretária de Estado da Saúde, destaca à “Notícias Magazine” as principais.
“O termalismo encontra-se alinhado com o Plano Nacional de Saúde; os tratamentos podem contribuir para o tratamento e prevenção de patologias crónicas, bem como para uma eventual redução da despesa em meios complementares de diagnóstico e terapêutica e em medicamentos, para além da diminuição do absentismo laboral, aumento da produtividade e melhoria da qualidade de vida.”
Em 2019, os utentes da ADSE e do SNS voltam a estar em pé de igualdade. “Ainda que o financiamento dos tratamentos termais se possa ter mantido para os beneficiários dos subsistemas públicos como a ADSE, os benefícios atribuídos pelos subsistemas são definidos pelos próprios”, observa a secretária de Estado da Saúde.
Para o diretor termal de Unhais da Serra, a comparticipação estatal para os utentes do SNS “é uma questão de justiça social” e que coloca um ponto final num certo contrassenso estatal de, por um lado, retirar as comparticipações termais e, por outro, aumentar as comparticipações na medicação, sobretudo para doenças crónicas.
“O retorno da comparticipação vai aumentar a ligação dos médicos de cuidados de saúde primários com as termas, mas também de outras especialidades médicas, tendo como principais beneficiários os termalistas não só no seu quadro clínico mas potencialmente na diminuição de toma de medicação, com benefício indireto do SNS na diminuição dessa despesa.”
Antes do moderno e inovador complexo de Unhais da Serra abrir, em 2004, houve um clique, um momento de viragem com a lei de bases do termalismo. De um conceito de doença passou-se para uma abordagem de saúde e bem-estar. “As termas continuam a ser termas. O conceito de termalismo é que tem evoluído muito nas últimas décadas”, afirma João Pinto Barbosa, secretário-geral da Associação das Termas de Portugal (ATP).
“As termas são hoje em dia destinos de promoção de saúde e de estilos de vida saudável, que incluem propostas de programas também de saúde e de natureza turística e lúdica. Sempre em ligação aos atrativos turísticos e histórico-culturais, materiais e imateriais dos territórios onde se localizam, constituindo um produto compósito de saúde e turismo”, sublinha. Essa abordagem impregnou-se em quase todo o lado.
“Direito à saúde”
É o que acontece nas Termas de São Pedro do Sul, o maior centro termal da Península Ibérica e um dos maiores da Europa, com cerca de 17 mil termalistas por ano, 35% de fatia do termalismo nacional, com uma faturação de cerca de quatro milhões de euros, com dois mil anos de história. São a imagem do termalismo clássico que acompanha os novos tempos e as vontades dos clientes.
Vera Leal e a avó Maria de Lurdes chegaram há três dias das Caldas da Rainha para tratamentos termais. Vera, 30 anos, operada aos dois pés, faz termas pela primeira vez. Anda sem apoio, mas muito devagarinho, e passou a manhã com os pés em água bem quente. Não pode parar, tem de mexer as articulações. São dez dias de tratamento.
“Nunca tinha feito termas e estou a gostar.” A avó conhece bem o ambiente termal, ainda não tinha 40 anos quando começou a fazer termas por prescrição médica para que os ossos não deixassem de lhe obedecer. “Fazia termas duas vezes por ano, em março e outubro, e precisava disso para andar bem, para conseguir trabalhar”, recorda Maria de Lurdes, 74 anos.
Assim foi até aos 65, ano da reforma do trabalho numa fábrica de cerâmica. “A reforma não dá para fazer face às despesas e foi por isso que parei com as termas.” Só que o corpo não se calou e deu sinais. “Sem as termas, não consigo andar.” A bengala dá uma ajuda, mas não a suficiente. E o regresso das comparticipações é bem-vindo. “Nunca devia ter deixado de ser comparticipado. É um direito que temos à saúde.”
A água termal de São Pedro do Sul, que sai das profundezas da terra a 68,7 graus, 17 litros por segundo, é recomendada sobretudo para as vias respiratórias e para as doenças dos ossos, reumáticas. D. Afonso Henriques, que ali recuperou da perna partida na batalha de Badajoz, e D. Amélia, que vinha a São Pedro do Sul tratar as maleitas reumáticas, ficaram para sempre associados às termas.
Na mesma rua, de um lado está o balneário clássico Rainha D. Amélia, edifício do século XIX, com os tratamentos de balneoterapia, serviço de bem-estar e um núcleo museológico com peças e fotografias antigas; do outro, o renovado balneário D. Afonso Henriques, de 1987 e reaberto depois de remodelado em 2008, com tratamentos termais e serviço de fisioterapia conciliado com água termal, tratamento personalizado e adaptado a cada situação, com terapeuta dentro de uma piscina com água termal. Na época baixa, 14 dias de tratamento, com consulta médica e inscrição clínica incluídas, podem ficar por 174 euros para problemas respiratórios e 237 no caso de patologias osteoarticulares.
Victor Leal, diretor das Termas de São Pedro do Sul e presidente da Associação das Termas de Portugal (ATP), revela que a suspensão da comparticipação estatal em 2011 levou a uma quebra de 7% do número de utentes. O regresso do apoio é recebido com “extremo agrado” e como um “incentivo para a procura desta possibilidade de tratamento, não só pelos quase inexistentes efeitos colaterais (contrariamente ao que acontece com o uso sistemático dos fármacos), como pela inquestionável qualidade de vida que proporciona a quem dela faz uso.”
Na sua maioria, pessoas com mais de 60 anos. “No entanto, essa tendência tem vindo a inverter-se de forma significativa e, cada vez mais, as águas termais são procuradas por pessoas com intervalos etários entre os 30 e os 50 anos, nomeadamente por uma questão preventiva, pois, apesar de ainda não terem nenhum problema de saúde diagnosticado, querem atrasar o aparecimento dos problemas reumatismais e de desgaste das articulações que, inevitavelmente, surgem com a idade”.
As Termas de São Pedro do Sul estão atentas ao mercado, ao que os clientes precisam. Não são termas velhas para gente velha, são um espaço termal que investe para estar no mapa não só como um destino de saúde, mas também como um lugar de bem-estar. Se há flutuações no termalismo terapêutico, compensa-se noutras áreas de negócio, ou seja, no bem-estar termal e na dermocosmética.
As termas lançaram a primeira linha de dermocosmética com água termal. Reforça-se a competitividade, diversifica-se a oferta. O termalismo júnior também é uma aposta e porque, cada vez mais, as termas querem ser um destino de férias em família, há um programa de animação de acesso livre e gratuito com muitas atividades, desde caminhadas, ioga do riso, dança, culinária. “Procuramos, ainda, e porque crescer e evoluir assim o ditam, promover o nosso destino internacionalmente, em países como o Luxemburgo e a França, por exemplo”, assinala o responsável.
Victor Leal fala numa mudança de paradigma. “O conceito de termas, como o conhecíamos, em pouco se assemelha à realidade atual. Temos que nos manter alinhados com as tendências do setor a nível europeu e, até, mundial. As termas são procuradas por pessoas com uma multiplicidade cultural, social e económica notória e, consequentemente, com perspetivas bastante diferenciadas no que se refere à sua estada. Temos de procurar corresponder e dar respostas distintas a essas várias realidades.”
Janeiro é mês de poucos termalistas. As lojas de artesanato, as mercearias, alguns cafés e pastelarias, cabeleireiros, aproveitam para gozar as férias porque a economia gravita em torno da estância termal do distrito de Viseu, com uma ampla oferta hoteleira com, no total, 1 500 camas. Há hotéis, pensões, turismo rural, alojamento local e ainda um luxuoso palácio-hotel dos anos 30, agora do Inatel. O comércio vive encavalitado nas termas que são o motor da economia local. Respira quando elas respiram. Na época alta, chega a empregar 220 funcionários, é um dos maiores empregadores do concelho.
Hotel num palácio e casas na floresta
O primeiro impacto é um imponente palácio que o rei D. Carlos I mandou construir como estância termal de luxo para a realeza e aristocracia portuguesa e europeia no início do século XX, e que hoje é um hotel de cinco estrelas, o Vidago Palace com 70 quartos, salão nobre digno do mais majestoso banquete ou baile, uma bela escadaria de madeira. É tudo muito bonito e luxuoso, dos azulejos e tapeçarias no chão, aos corredores de paredes trabalhadas.
Do lado direito da entrada do parque, que tem 150 hectares, três fontes, um lago, um campo de golfe com 18 buracos, está o antigo balneário termal que hoje é um espaço para congressos, conferências, encontros empresariais. O balneário termal funciona agora nas traseiras do hotel, ligado por um corredor, que faz a transposição do antigo para o moderno, para um espaço de Siza Vieira, de mármores claras janelas generosas, vistas para flores e árvores, piscina interior e exterior.
Em 2002, o Super Bock Group comprou o espaço à Jerónimo Martins, juntamente com o parque de Pedras Salgadas, para aumentar o negócio de bebidas com águas minerais de gás natural, engarrafando a Vidago e as Pedras Salgadas, estas últimas líderes de mercado. De 2006 a 2010, o grupo investiu 80 milhões na recuperação dos dois espaços separados por dez minutos de carro, um no concelho de Chaves, outro no concelho de Vila Pouca de Aguiar.
Cem anos depois da primeira inauguração do palácio, a 6 de outubro de 1910, um dia depois da queda da monarquia, o hotel voltou a abrir as portas, a 6 de outubro de 2010. O alojamento representa 45% da faturação, que não é revelada, as termas com 7,5%, a mesma percentagem do golfe, e menos do que os 40% da restauração e eventos. Uma noite pode custar 160 euros na época baixa ou 350 na alta. Uma semana de alojamento com tratamento termal pode ficar por 1 500 euros por pessoa.
Jorge Machado de Almeida, responsável pelo setor de turismo do Super Bock Group, e diretor-geral do hotel, garante que o spa termal com água gasocarbónica, com gás natural, ajuda a complementar a ocupação do hotel fora da época alta. A água Vidago cresce numa nascente protegida por um edifício antigo que se assemelha a um lugar de culto. Conceição é a senhora que explica as propriedades da água e como bebê-la. Um pequeno gole, pausa, e no segundo travo, o sabor a ferro desaparece. Recomendada para o aparelho digestivo, músculoesquelético, vias respiratórias.
Vidago tem muita oferta, além das termas, tem duas casas de cortiça que são o Kids Club, muito bem apetrechado para crianças e jovens, junto a uma piscina e a um pequeno parque de diversões. E tem vários prémios nacionais e internacionais no alojamento, no golfe, no destino de casamentos. Numa das pontas do hotel, está uma garrafeira com 260 referências diferentes, pratos regionais, aberta ao jantar para hóspedes e não hóspedes.
Maria Palmira trabalhou na fábrica das águas no parque de Vidago durante mais de três décadas. A fábrica fechou há uma dúzia de anos e ela, nova para a reforma, tomou conta de uma mercearia no centro da vila, quase em frente a um edifício que foi um hotel e que agora está abandonado, à espera que alguém o compre. Antes era diferente, hotéis cheios, muito movimento nas ruas.
“No verão, era um mar de gente. Agora, os mais velhos não vão e os mais novos querem praia. Dantes, fazia-se um pé-de-meia durante o ano para os 15 dias de tratamentos nas termas. Agora, a classe média não tem dinheiro para fazer termas”, realça.
O regresso das comparticipações também é bem-vindo em Vidago. “É uma boa notícia para os espaços termais que temos em Portugal, trará mais clientes que necessitam de fazer tratamentos que, por razões económicas, não conseguiam aceder.” “Espero que o mercado português cresça no espaço termal”, deseja Jorge Almeida.
João Pinto Barbosa, secretário-geral da ATP, também espera que assim seja. A suspensão das comparticipações complicou a vida ao setor. Menos procura, mais problemas económicos, desemprego. E não só. Portugal ficou numa situação desvantajosa no cenário europeu.
“Passamos a ser o único país da Europa em que a terapêutica termal é tutelada por autoridades de saúde e reconhecida pelo SNS, sem comparticipações.” Beliscou a credibilidade internacional da terapêutica termal portuguesa, dificultou o processo de internacionalização, colocou, sublinha, “uma barreira incontornável à competitividade do setor fechando as Termas de Portugal aos movimentos de livre circulação de doentes no âmbito da Diretiva Europeia de Cuidados de Saúde Transfronteiriços”.
O regresso das comparticipações termais é, em seu entender, uma decisão que “peca por ser tardia” e que se espera poder repor a normalidade. “Para além do efeito óbvio que terá na maior procura das termas, no efeito extraordinariamente importante que terá ao nível de tratamentos de patologias crónicas para populações mais carenciadas, tem efeitos importantíssimos sobre o reforço da credibilização da terapêutica termal junto da opinião pública e da classe médica prescritora”, realça o secretário-geral da ATP.
Vidago é luxo, Pedras Salgadas é natureza com um balneário num edifício antigo, do século XIX, preservado na sua traça, com toques de Siza Vieira nas 14 salas de tratamentos, áreas de massagem e de relaxamento, piscina interior com corredor de marcha, sauna, banho turco, duche Vichy, ginásio.
Dois conceitos distintos, sob a chancela do mesmo grupo que engarrafa as águas. Pedras Salgadas tem 14 ecohouses e duas casas nas árvores no meio da floresta, com capacidade máxima para 165 pessoas. Tem casa de chá que é um restaurante, uma biblioteca, um antigo casino que é um espaço de eventos e um hotel que aguarda destino.
O novo conceito abriu em 2012 com sete camas, a procura entretanto superou as expectativas, o que permitiu subir o preço sete vezes no primeiro ano, e a fase seguinte do projeto acabaria por ser antecipada em três anos. Os preços do alojamento duplo andam pelos 160 euros a noite na época baixa e 350 euros na época alta. Há fins de semana com lotação máxima e uma ocupação anual nos 52%.
Maria José David, manager do parque Pedras Salgadas, destaca essa componente de promoção de saúde num conceito de natureza que pisca o olho a famílias, a casais, a gente mais jovem. As águas das Pedras têm muita fama e na questão termal são recomendadas para o aparelho digestivo, muscoloesquelético e problemas respiratórios. A balança pende mais para os tratamentos de bem-estar – 90% da procura e 10% para as curas termais -, num universo de cerca de quatro mil pessoas.
A comparticipação estatal é uma lufada de ar fresco e, para Maria José David, uma forma de restituir credibilidade ao sistema baseado em estudos médicos que comprovam os benefícios das águas termais. “Este regresso da comparticipação vem impulsionar o regresso do público.” Depois dos tempos áureos das termas, dos anos 1920 aos anos 1970, depois da descoberta do biquíni, do Algarve e das praias, abriu-se um novo tempo para as termas e com outras exigências. No virar do século XX para o XXI, o parque termal português renovou-se.
“Temos espaços bonitos, modernos, com outras terapias complementares que começam a dar outro ânimo.” E, na sua opinião, o setor está a crescer e tem elementos para que assim seja. “As pessoas preocupam-se, cada vez mais, com a saúde em termos de prevenção.”
Bornes de Aguiar, freguesia onde fica o parque de Pedras Salgadas, não tem bancos, não tem correios, não tem GNR. Vai vivendo sobretudo dos trabalhos na construção civil. Alfredo Costa, taxista, lembra-se de outros tempos. “Era um luxo, os de Vila Real vinham aqui à discoteca há mais de 30 anos.” E as termas eram um chamariz.
“Era uma procissão de gente, na época de verão, estava tudo cheio.” Agora não vê nada disso. “Dizem que querem repovoar o interior, mas tiram tudo. O que é que vêm para cá fazer? Só se vierem para cá cavar os lameiros”, atira. Jaime Santos concorda. “Esses tempos já não voltam mais”, desabafa. No seu restaurante tem fotografias do parque e das termas. Mas são a preto e branco.