“As prisões não estão tão sobrelotadas se compararmos com Lisboa e os turistas”

Notícias Magazine

Esta semana, nas entrevistas que nunca fiz, o nosso convidado é o diretor-geral dos Serviços Prisionais, Rómulo Mateus, pessoa discreta mas que tem dado que falar devido a um filme que circula nas redes sociais…
Não me diga que é aquele das minhas férias em Formentera…

Não. Estava a falar do vídeo da festa de aniversário na prisão de Paços de Ferreira…
Ah! Ufa. Em relação a esse assunto, já foi instaurado “um inquérito interno, a cargo do Serviço de Auditoria e Inspeção, e coordenado por um procurador”. Temos de saber entre outras coisas a razão para a ausência de guardas prisionais.

Ilustração: Mafalda Neves

Se calhar não foram convidados. Isso não me escandaliza. Para mim esta festa de aniversário na cadeia de Paços de Ferreira, pior que não ter guardas prisionais é não haver mulheres. Parece as minha festas de adolescente. Só que na altura eu não filmei porque não tinha telemóvel.
Também estamos a averiguar como foi introduzido um telemóvel na Ala A de uma cadeia de alta segurança que recebe reclusos considerados perigosos.

Eu imagino como. Depois foi lavado e puseram-no a secar em arroz. Apesar de tudo acho que há aspetos positivos a tirar daquelas imagens. Por exemplo, não estão a ouvir reggaeton. O que pode levar a pensar que são pessoas que se vão reintegrar melhor na sociedade.
Não deixa de ser preocupante, porque apenas se encontravam dois guardas de serviço na ala A, onde estão 400 reclusos.

Então já percebo por que não se vê nenhum guarda prisional. Isso dá uma média de duzentos para um. Eu também não punha lá os pés. Dá-me a sensação, corrija-me se estou enganado, que os estabelecimentos prisionais estão sobrelotados.
…sim, estão, mas acho que , por exemplo, não estão tão mal se compararmos com Lisboa e os turistas.

Acho que a nossa sorte é a justiça funcionar como funciona. Se calha a justiça, em Portugal, conseguir prender tudo o que são corruptos então é que era uma tragédia. Tinham que os empilhar nas celas.
Precisamos de construir mais estabelecimentos prisionais com melhores condições.

Realmente aquilo não parece ter grandes condições, parece um hospital público. Mas, apesar de toda a balbúrdia nos estabelecimentos prisionais, tenho de lhe dizer que há uma coisa que aprecio.
Os chuveiros?

Não. Estava a ver o Armando Vara a ir-se entregar e gosto muito do pormenor de tocarem à campainha da prisão. Imagino o diálogo via intercomunicador. – “Venho entregar-me”. – “Hum…tem a certeza que não é uma testemunha de Jeová.” – “Juro, pode abrir que venho entregar-me para ser preso.” – “Hum, isso que traz debaixo do braço não é a revista ‘Sentinela’.” – “Não, é uma revista de senhoras nuas.”