As novas experiências dos tecidos orgânicos

Peças de roupa mais resistentes às lavagens e que ajudam a regular a temperatura do corpo. Naturais, biológicos, há materiais confortáveis e bonitos que podem minimizar alguns problemas, como as alergias.

Reduzir a quantidade de água e de químicos utilizados na produção de roupa é uma preocupação crescente na indústria têxtil. O caminho da moda sustentável passa, entre outras coisas, pela intemporalidade das coleções e pelo uso de tecidos biológicos e orgânicos que sejam mais resistentes e menos agressivos às peles sensíveis.

Como explica o dermatologista Osvaldo Correia – diretor clínico do Centro de Dermatologia Epidermis, do Instituto CUF no Porto e professor afiliado da Faculdade de Medicina do Porto – os tecidos das nossas roupas podem ser produzidos à base de fibras naturais (algodão, linho, lã e seda) ou artificiais e sintéticas (poliéster, acrílico, elastano, poliamida, nylon, licra, viscose ou acetato).

“Cada uma delas tem vantagens e desvantagens”, que vão do “conforto e possibilidade de respirar, que ocorre nas naturais, à capacidade de resistência e não deformação nas sintéticas”. O especialista refere ainda que, hoje em dia, a incorporação de substâncias nocivas e a impregnação de tintas na roupa “obedece a exigências legais que minimizam o risco de alergias”. Além disso, a introdução da biotecnologia “dotou os tecidos de um potencial de capacidades terapêuticas, além de conforto e proteção”. Características que, “à luz da legislação atual, têm que necessariamente ser testadas e demonstradas”.

Em Portugal, o Laboratório Têxtil do CITEVE, em Famalicão, “é reconhecido internacionalmente pela experiência na demonstração de funcionalidades e existência de substâncias nocivas, atribuindo diferentes etiquetagens que garantem a qualidade dos tecidos”. Por esse motivo, alerta Osvaldo Correia, “devemos estar atentos à composição dos tecidos e, cada vez mais, à existência de etiquetagem de certificação da qualidade”. Principalmente pessoas com “pele sensível, seca ou de tendência atópica”. Nesta página vai encontrar alguns exemplos de tecidos naturais e sustentáveis que podem ser usados por quase todas as pessoas.

Byssus

Também conhecido como seda do mar, o tecido de byssus é feito dos longos micro-filamentos expelidos da extremidade de moluscos como as amêijoas e os mexilhões para se prenderem a superfícies duras. Embora a sua produção tenha praticamente desaparecido, os artesãos da ilha italiana da Sardenha mantêm viva a arte milenar. Este tecido extremamente leve é castanho em espaços escuros e brilhante quando visto à luz.

QMilch

O tecido fabricado a partir de fibras de proteína do leite é extraído do produto que não atende aos padrões de higiene. Feito sem químicos, este material contém 18 aminoácidos benéficos, antibacterianos, antienvelhecimento e capazes de regular a circulação sanguínea e a temperatura corporal.

Seda de Aranha

Fabricada a partir de seda fiada por aranhas douradas. Há apenas um pedaço de pano feito desta fibra no Mundo. No entanto, os cientistas estão a desenvolver métodos para replicar a seda de aranha, de aparência brilhante, macia, extremamente elástica e com elevada resistência à tração.

Couro de peixe

Produz-se a partir dos resíduos da indústria alimentar, de peles de peixes não ameaçados como bacalhau, salmão, carpa, esturjão, peixe-gato, peixe-lobo e poleiro. Semelhante ao couro, é muito resistente e tem a aparência da pele dos répteis. Pode ser usado para fazer bolsas, cintos, roupas e sapatos, e até para decoração de interiores.

Cânhamo

Criado com base nas fibras internas do caule da planta do cânhamo, uma das variantes da canábis sativa. Não requer pesticidas ou produtos químicos tóxicos quando cultivado. É um tecido respirável, quente, absorve a humidade, é antibacteriano e pode ser misturado com outras fibras naturais, do algodão à lã, para um composto mais macio e durável.

Pelo de Camelo

É obtido do camelo-bactriano, que reside nas estepes da Ásia Central e Oriental. O pelo de camelo é retirado à mão e depois classificado de acordo com a cor e a finura da fibra. Trata-se de um material extremamente forte, leve, flexível e com excelentes propriedades de regulação da temperatura. Estão entre as melhores fibras naturais do Mundo.

Algodão Orgânico

Nasce do algodão cultivado a partir de sementes que não são geneticamente modificadas, sem uso de produtos químicos nocivos, pesticidas ou herbicidas. Este método de cultivo apoia a biodiversidade e ecossistemas saudáveis, melhora a qualidade do solo e utiliza menos água do que o cultivo de algodão convencional.

Seda de Abacaxi

As fibras das folhas de abacaxi são processadas e tecidas à mão. O tecido resultante é brilhante, um pouco rígido, respirável, mais macio que o cânhamo, com melhor qualidade do que a seda crua e excelentes propriedades de arrefecimento. A fibra absorve bem os corantes naturais e a superfície brilhante do material elimina a necessidade de tratamento químico.

Quitina

Estes tecidos são feitos geralmente de uma mistura de viscose e quitina, substâncias encontrada nas conchas de caranguejos e outros animais artrópodes, como as moscas. O uso de quitina, biodegradável, cria um tecido antibacteriano e hipoalergénico. A quitina para produção de tecidos é mais frequentemente obtida como subproduto da indústria de alimentos, o que significa, por exemplo, que, no caso dos crustáceos, eles não são sacrificados apenas para fins de produção de tecidos.

Juta

Planta da Índia que contém fibras grossas geralmente usadas para produtos como sacos de café, cordas, tapetes e solas de sapatos como as alpargatas. As fibras mais finas da juta são tecidas com algodão para criar um material forte, usado em vestuário e têxteis para o lar.

Lã de Alpaca

Também conhecida como fibra dos deuses, foi usada para fazer roupa para a realeza. É feita a partir do pelo da alpaca da América do Sul. Geralmente mais macias do que a lã de ovelha, estas fibras não precisam de tratamento com pesticidas. Repelem a água, são suaves, duráveis, quentes e não espinhosas, o que as torna um material hipoalergénico.