
Texto por Marisa Silva
O tecido serve de tela para a imaginação e o giz molda a camisa consoante os tamanhos registados pela fita métrica. No negócio da roupa por medida não se corta a eito. A tesoura adequa os movimentos às curvas do cliente. É um mercado em ascensão, mas o luxo está ao alcance de poucas carteiras. Cada vez mais procuradas, as camisas por medida custam entre os 70 e os 500 euros, dependendo das exigências de quem compra. Entre agulhas, tesouras e dedais, não falta quem vista os outros por medida. No momento da prova final, a indumentária deverá assentar como uma luva no corpo do cliente.
No número 22 da Praça D. Filipa de Lencastre, no coração do Porto, a alfaiataria passa de geração em geração. Ayres Gonçalo herdou a arte do avô, eternizando no tempo a marca Ayres. Com apenas cinco anos, o filho, Infante da Paz, segue-lhes as pisadas e já tem uma etiqueta com a sua alcunha: Pazzi. Nas camisas, que vestem pais e filhos de igual, vai um sorriso. É o logótipo.

“Criei a Pazzi para que o meu filho a desenvolva quando atingir a idade adulta. É uma brincadeira que me permite dar asas à imaginação. Não posso vender uma camisa com coelhos da Ayres porque não se identifica com a marca”, explica Ayres Gonçalo, que veste uma camisa azul claro com coelhos estampados. É apenas um dos exemplos. Também há com peixes e elefantes. E se no mercado não houver ao gosto do cliente, Ayres Gonçalo manda estampar o padrão no tecido.
As camisas da Pazzi têm um preço fixo de 100 euros. Já as da Ayres variam entre os 150 e os 500 euros. Produzem-se cerca de 400 por ano. Para eles e para elas. Vindos de Itália, os tecidos são 100% de algodão. Já os botões, gravados com o nome Ayres, são de madrepérola.

“Os homens procuram camisas azuis ou brancas para conjugar com gravata. Para o fim de semana preferem uma para vestir com jeans ou calças de sarja. As mulheres optam mais por uma camisa ao estilo masculino para usar com o fato no trabalho”, desvenda o alfaiate. No seu ateliê não há desperdício. Das sobras das camisas fazem-se individuais para a mesa de jantar. O atendimento é feito por marcação. Tiram-se medidas, apalpam-se os tecidos nos catálogos e escolhem-se os padrões. Não faltam clientes.
Venda online
Em direção a sul o cenário é semelhante. Na D’Autor, sediada em Almada, cosem-se duas camisas personalizadas por dia. Com a queda da camisaria em série, a fábrica de Patrício Matos voltou-se para quem aprecia a roupa

com o tamanho certo. No que toca à idade, os clientes vão dos 20 aos 70. O mercado nacional lidera a procura, mas também se exporta para África do Sul, Espanha e França.
Para poupar tempo aos clientes e captar os mais jovens, a D’Autor e a marca Labrador aventuraram-se no mundo digital. Para encomendar, há que aceder aos sites, decidir a cor, escolher o tecido e os padrões. Na D’Autor, as medidas são fornecidas online pelo cliente ou tiradas em loja. Em média, as camisas custam 70 euros.


“As nossas camisas vão diretas para casa. Normalmente, o cliente dá feedback e, caso seja necessário, no próximo pedido retoco as medidas. Mas na maioria das vezes o produto chega impecável”, garante Patrício Matos, 69 anos. No ramo há quase meio século, foi a experiência que trouxe o saber.
Já na Labrador, todas as medições são feitas em loja por um alfaiate, ficando registadas online, na área do cliente, para facilitar uma próxima compra. Os preços começam nos 95 euros. O serviço, só para homens, ultrapassa fronteiras. “Demos este ano o primeiro passo para a internacionalização em Nova Iorque. Foi um sucesso tremendo. As nossas exportações são para os Estados Unidos”, refere José Luís Pinto Basto, CEO da marca.
