António Catarino: o provador do ouvinte

Texto de Pedro Emanuel Santos

Quando na TSF, e não só, havia quem tivesse dúvidas sobre onde encontrar um bom restaurante, a tradição era ligar ao repórter António Catarino. Muitos anos de estrada em busca da notícia – fosse no fim do Mundo ou no fim da rua, como dita o lema da rádio fundada por Emídio Rangel – calejaram-no na arte de encontrar os melhores lugares para se comer. Fosse onde fosse, em grandes cidades ou em aldeias quase inacessíveis.

Em 2014, Paulo Baldaia, então diretor da emissora, desafiou-o a transformar esta panóplia de conhecimentos gastronómicos numa rubrica diária. “Fui a Lisboa reunir com ele e no regresso ao Porto, de comboio, já tinha organizado o esboço do que viria a ser o ‘TSF à Mesa'”, revela António Catarino, 63 anos, alentejano de Cuba, portuense de adoção, jornalista com quatro décadas de currículo, voz conhecida de anos e anos a acompanhar o desporto automóvel para a RTP, Rádio Renascença e, claro, TSF.

Em setembro desse 2014 estava no ar o primeiro “TSF à Mesa”, entretanto transformado em cinco anos de aventuras gastronómicas traduzidas em linguagem radiofónica e que já vai para a milésima emissão. Um marco que foi assinalado na passada quinta-feira, 28, com ementa especial escolhida pelo chef Rui Paula no seu restaurante DOP, no Porto. Quis o calendário que quase coincidisse com o aniversário da TSF, nascida a 29 de fevereiro do ano bissexto de 1988.

De segunda a sexta-feira, às 12.25 e às 19.15 horas, António Catarino revela locais de peregrinação gastronómica quase obrigatórios. Pode ser um restaurante de luxo, uma tasca, um espaço de características familiares. O que “verdadeiramente interessa é a qualidade”. Tanto assim que Artur Carvalho, também da TSF, um dia o batizou de “provador do ouvinte”.

As descrições que António Catarino encontra para cada um dos restaurantes que leva à antena revelam pormenores tão característicos e ricos que, perdoe-se o trocadilho fácil, deixam água na boca. “Procuro agradar a todas as bolsas. E posso garantir que nunca repeti um só restaurante ao longo destas mil emissões.” Pormenor importante: as visitas aos estabelecimentos são realizadas de forma anónima.

A ideia linear tem sido a de dar a conhecer um Portugal “que tem na gastronomia uma das suas maiores e mais variadas riquezas”. E demonstrar que é possível comer com qualidade sem olhar “aos lugares do mainstream”, numa espécie de “fórmula intocável e inalterável” que capte o interesse e o deleite sensorial dos ouvintes. Porque a diversidade da cozinha portuguesa “nunca se vai perder” e é preciso deixar claro que esta é uma “marca de afirmação e identidade do país”.