André Almeida Rodrigues: Realizador por conta própria

"O meu cinema mostra a realidade", diz André Almeida Rodrigues. Foto: Artur Machado/Global Imagens

Texto de Sara Dias Oliveira

Na escola primária dizia que queria ser ator. Aos 14 anos estava no Grupo Dramático e Musical Flor de Infesta, em São Mamede de Infesta. André Almeida Rodrigues fez de tudo no teatro amador. Foi ator, técnico de luz, de som, escritor de peças. “A Fábula aos Esses” foi a sua estreia em cima do palco e na arte da dramaturgia. Terminou o secundário, entrou em teatro na faculdade, desistiu, descobriu o amor pelo cinema num workshop de verão em Lisboa, entrou no curso de Cinema e Audiovisual na Escola Superior Artística do Porto. Parou um pouco, a paixão pela imagem confirmou-se numa partilha de ideias no Rivoli, voltou a estudar no mestrado de Som e Imagem na Universidade Católica.

Tornou-se cineasta, repórter de imagem e editor no meio audiovisual. Este ano, o seu primeiro videoclipe, filmado na comunidade piscatória de Angeiras, Matosinhos, para o single “Break, Break, Break” dos Bookkeeppers, banda de rock poético de Santa Maria da Feira, foi o melhor do género no FestMedallo – Festival Internacional de Cine de Medellín, na Colômbia, e no 12.º Months Film Festival, na Roménia.

O seu trabalho gira pelo Mundo. Em 2016, filmou “O Barbeiro Guitarrista” que conta a vida e obra de Álvaro Martins, um dos grandes nomes da guitarra portuguesa, do Padrão da Légua, falecido em 2003. Um documentário, a preto e branco, com 30 exibições em 19 países e a conquista do galardão de melhor curta-metragem no Prémio Latino em Espanha. A Assembleia Municipal de Matosinhos atribuiu-lhe um voto de louvor pela visibilidade que deu à história.

No projeto final de mestrado, no ano passado, instalou-se em Alfaião durante nove dias para retratar o quotidiano daquela aldeia de Bragança. Não tinha rede de internet, apanhou a maior inundação dos últimos 50 anos, sentiu a geada transmontana, foi recebido de braços abertos. E mostrou a simplicidade do lugar: ovelhas a pastar, toques de bola dos miúdos, jogos de sueca no café, o amassa pão, sestas à lareira. Chamou-lhe “retrato contemplativo”. “É uma aldeia genuína, participei em almoços comunitários, tenho uma placa de agradecimento por ter levado o nome de Alfaião pelo Mundo fora.” O documentário conta com 77 exibições, em 28 países, e nove prémios em vários festivais europeus e da América Latina.

“O meu cinema mostra a realidade”, diz o realizador freelancer, de 31 anos, natural de Leça do Balio, Matosinhos. O seu último trabalho, “Histórias de Embalar Sabonetes”, gravado com o telemóvel na antiga fábrica da Castelbel, na Maia, ainda não estreou. “Só fiz filmes de escola e filmes sem orçamento. Gostava de me relançar no cinema com os meus trabalhos e assumir a distribuição”, refere.

Atitude positiva e resiliência são dois dos seus atributos. “Adoro ser desafiado e luto por aquilo que quero e por aquilo em que acredito.” Anda interessado em filmar a comunidade ligada ao fado do Porto, garante que muitos dos grandes fadistas são da Invicta. “Gostava de dar voz a esta comunidade que sente que não a tem.” Vontade não lhe falta.