Ana Abrunhosa: Regras são regras

Fotografia: Maria João Gala/Global Imagens

Texto de Alexandra Tavares-Teles

A escolha de António Costa não foi surpresa para amigos, colegas, ex-alunos de Ana Abrunhosa. Com trabalho académico publicado nas áreas do desenvolvimento regional, e ação conhecida desde 2014 na presidência da Conselho de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) – foi a gestora dos 2,2 mil milhões de euros dos fundos comunitários do Centro 2020, essenciais para a região se reerguer dos incêndios -, a competência da recém-nomeada ministra da Coesão Territorial nas matérias que vai tutelar é reconhecida.

“Foi uma magnifica escolha”, diz João Sousa Andrade, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Trabalhou de perto com Ana Abrunhosa, ele como regente, ela como assistente, de duas cadeiras “de choque” – Introdução à Economia e Microeconomia.

Sabe bem, por isso, o que podem esperar da colega. Desde logo, os pares do Governo: “A Ana é de uma solidariedade total. Sempre que um colega precisou foi total a sua disponibilidade, quer para ler provas, quer para acompanhar os alunos”. Mas, também, os interlocutores negociais, que terão de lidar com a ministra: “Contem com determinação, com muita exigência e com enorme sentido de justiça”.

A tarefa não será fácil. “Terá de defrontar dinossauros, e aprendizes de dinossauros, alguns com contacto direto com o primeiro-ministro, e por isso vai ter a vida complicada”, lembra o professor. Ainda mais, acrescenta, “num Governo que aumentou a componente política”. Porém, não é de ceder perante a pressão. “Reagirá com calma, sem nunca disparatar, mas segura.” Espere-se uma “ministra de ouvir”, mas sempre “muito bem preparada”. Uma mulher “racional, muito determinada, muito exigente consigo e com os outros”.

De regras. “Com ela são para cumprir e os alunos que o digam.” Dá um exemplo: “Ao contrário de mim, que fechava os olhos desde que mascassem discretamente, a Ana nunca permitiu pastilhas elásticas nas aulas. Era implacável e os alunos sempre acataram”.

Luís Aguiar-Conraria recorda uma professora simpática, “com aulas cheias”. Foi aluno de Ana Abrunhosa na cadeira de Economia Regional, corria o ano letivo 1996/97. “Os alunos gostavam muito dela. Era simpática e dava boas aulas.” A assistente tinha apenas 26 anos, mas “explicava a matéria claramente”. Também ele não ficou surpreendido com a nomeação. “Tenho seguido o percurso de Ana Abrunhosa e já me parecia normal que estivesse no Governo anterior”, refere o comentador e economista.

Raramente perde as estribeiras, recorre sempre ao bom senso. Aprecia – “quem não aprecia?”, pergunta Sousa Andrade – uma palavra de apreço de colegas e alunos pelo esforço e pela amizade. Crê na máxima “o que não nos mata fortalece-nos”, enunciada no dia em que saiu absolvida do Tribunal de Coimbra (maio de 2019), ao fim de “quatro anos de grande sofrimento”, acusada pelo Ministério Público dos crimes de difamação. “Claro que ela sentiu, e sente, e sofre. Mas mostra muito pouco. Não deixa passar as suas angústias”, frisa João Sousa Andrade.

Ser ministra era uma meta? “Investe muito em todos os cargos que ocupa. Por isso, não ficaria desiludida se não tivesse chegado ao Governo.” Que marca deixará no Ministério? “A da equidade e da justiça”.