Amor e trabalho no sudoeste alentejano

Bahtiyar e Ilonka Marinova estão juntos há quase dez anos. (Foto: Artur Machado/Global Imagens)

Há muito que o sudoeste alentejano se habituou aos extensos campos de estufas. Neles nascem as pequenas folhas verdes, os mirtilos e morangos. E colhem-se histórias de amor, resiliência e sucesso, de gente que vem de todo o Mundo.

Lábios pintados. Olhos claros realçados. Saltos altos. Naquele 21 de janeiro de 2010, Ilonka Marinova cruzou os portões da Sudoberry impecável. Primeiro dia de trabalho. Há que causar boa impressão. Quando lhe disseram que ia para o campo apanhar morangos começou a chorar. Sabia que era uma empresa de produção de frutos vermelhos, mas não achou que começaria logo por meter as mãos na terra. A decisão de rumar a Portugal não precisou de grande maturação.

A jovem, à época com 23 anos, vivia praticamente sozinha na Bulgária. Após completar o 12.º ano, e de conseguir apenas trabalhos mal pagos como empregada de mesa, Ilonka, tal como o resto da família, meteu-se num autocarro cheio de emigrantes, em busca de uma vida melhor. Dois dias depois de chegar a Odemira, apresentou-se no Brejão, na mesma empresa em que o pai, a mãe e o irmão trabalhavam. Andou um mês de cócoras. Quando o primeiro salário lhe caiu na conta quase chorou. De felicidade.

Hoje é manager da sala de embalar. E, no fim do mês, o ordenado continua a compensar. “Aqui, sim, é duro, mas levas dinheiro para fazer uma vida normal, para pagar contas.” Não foi só um pagamento justo que a búlgara encontrou no sudoeste alentejano. O amor veio atrelado. Chama-se Bahtiyar, mas todos o tratam por Barney. Também ele é búlgaro. Chegaram à Sudoberry no mesmo dia. De apanhar morangos, passou para os túneis, depois para motorista, até que chegou à sala de embalar. “Junto dela.”

E assim estão, há quase dez anos. Entretanto, compraram uma casa e têm duas meninas. “Aqui gosto de tudo. Do tempo, da tranquilidade. Da escola das crianças, dos professores. Não penso ir-me embora.” Contente porque, na verdade, construíram em Portugal tudo o que sempre quiseram. Principalmente, conseguiram a estabilidade que seria difícil ter na Bulgária. “Não sinto saudades. Tenho aqui os meus pais, a minha família, realizei todos os meus sonhos aqui. Não quero mais nada, não quero voltar lá”, afirma Ilonka.

Foto: Artur Machado/Global Imagens

Ionela Baidac, 29 anos, evoca argumentos idênticos para não deixar Portugal. “Gosto desta região porque é muito calma. E as pessoas são pacíficas.” Na Roménia deixou mãe, irmã e tio. Pelo telemóvel pedem-lhe, frequentemente, para voltar. É escusado. “Sabem que já tenho aqui a minha vida.” Companheiro, uma casa, dois filhos. Um destino feliz, a princípio precipitado pela necessidade. “Na Roménia era difícil encontrar trabalho.” Emigrou com amigos. Tinha 20 anos. Quando chegou à Sudoberry não gostou do trabalho, mas ficou.

“Foram sete ou oito meses a apanhar morangos. A doer costas. Era duro.” Agora, está no departamento da qualidade de fruta e é melhor. Pelo meio, conheceu o namorado. Um ucraniano. Sasha. Para trás, ficaram dias complicados. É ele quem conta. “As primeiras vezes que falámos foi difícil.” A romena aventurava-se no espanhol. O ucraniano no português. O que vale é que o amor é um idioma universal. E quer um quer outro não são de desistir.

Ao contrário de Ionela, que só tem o 12.º ano, Sasha é licenciado em Agronomia. Foi assim que em 2008 veio cá parar. Um intercâmbio universitário que se transformou num contrato de seis meses. Começou do zero, como todos. “Subi, subi, até chegar a responsável pela sala de embalar.” Coordena à volta de 60 pessoas. “Gosto do que faço.” Outro que não pensa abandonar Portugal.

“Não sinto saudades. Tenho aqui os meus pais, a minha família, realizei todos os meus sonhos aqui. Não quero mais nada, não quero voltar à Roménia”
Ilonka Marinova

O Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) abrange parte dos concelhos de Sines, Odemira, Aljezur e Vila do Bispo. Uma área protegida, no perímetro de Rega do Mira, que beneficia de condições climatéricas únicas. Neste enclave, a que muitos chamam a Califórnia portuguesa, a brisa atlântica confere às produções hortícolas e frutícolas características excelentes. É possível produzir o ano inteiro, graças aos verões frescos e aos invernos amenos. Mas essa agricultura intensiva também tem colecionado críticas.

É público que movimentos cívicos, associações de defesa do ambiente e diversos moradores têm revelado várias preocupações, nomeadamente na preservação da biodiversidade no PNSACV. Em março deste ano, André Silva, deputado do PAN, levou o assunto ao Parlamento, falando em “impactos avassaladores na água, no ar, no solo e na biodiversidade”. Na altura, o primeiro-ministro, António Costa, considerou que o modelo agrícola nessas zonas é “um bom exemplo” do equilíbrio necessário entre a valorização da capacidade de produção e a preservação do território.

O nepalês Gobind Sharma cursou Gestão de Negócios em Inglaterra. Quando chegou, começou por fazer os trabalhos mais básicos, mas as suas evidentes capacidades levaram-nos a ser hoje responsável por muitos pés de plantas (Foto: Artur Machado/Global Imagens)

Há aproximadamente 30 anos, o empresário francês Thierry Roussel, apercebendo-se das potencialidades da região, comprou cerca de 550 hectares no Brejão, a sul de Odemira. O objetivo seria produzir hortícolas para os principais mercados europeus. Por isso, cobriu os campos de estufas. Recorreu à utilização maciça de fertilizantes químicos e pesticidas. Recrutou mão de obra barata. Mas o projeto apoiado e subsidiado pelo Governo português, Caixa Geral de Depósitos e União Europeia faliu, por má gestão.

Em 1994, sobraram as dívidas e um mar de plástico ao abandono. Nos finais dos anos 1990, as estufas começaram a ser recuperadas por empresas espanholas, inglesas, alemãs, holandesas e algumas, poucas, portuguesas. Para produzir framboesas, amoras, mirtilos, morangos, flores, alfaces e produtos hortofrutícolas.

No começo, a produção era relativamente pequena e os constrangimentos de mão de obra não foram evidentes. À medida que a agricultura começou a ganhar expressão, nomeadamente nos últimos 10/15 anos, a escassez era gritante. Agravada pelo evidente inverno demográfico do sudoeste alentejano. Os jovens partiam, permaneciam os velhos. Após esgotar os braços que existiam à disposição na região, e também no território nacional, as empresas viraram-se para o estrangeiro. Chegaram os búlgaros, como Ilonka e Barney. Os ucranianos, como Sasha, os romenos como Ionela. E outros. Moldavos, marroquinos, etc. Alguns fixaram-se. Outros partiram. Não correu bem. Foi necessário procurar noutras geografias.

Gobind Sharma tem 31 anos e é nepalês. Chegou em 2016 para trabalhar na Hall Hunter, uma empresa britânica que, há três anos, investiu na produção de framboesas e de mirtilos no Alentejo. Antes tinha vivido em Inglaterra, onde se formou em Gestão de Negócios. Também passou algum tempo na Holanda, na Bélgica e na Índia. Em Portugal, as suas qualidades foram rapidamente reconhecidas.

“Sempre me foram dadas oportunidades para crescer.” Aproveitou. “Comecei a dar ideias”, que foram aceites. Hoje, é coordenador de campo e monitoriza o desenvolvimento das plantas. “Adoro o meu trabalho.” Tanto quanto a terra que lhe mudou a vida. “O clima é ótimo, as pessoas também.” Para já, divide casa na Longueira, em Odemira, com outros dois trabalhadores. No entanto, os planos passam por encontrar “a pessoa certa” e casar.

Tal como Baljeet Singh, indiano de 28 anos. Estudou em Singapura, trabalhou na Malásia, Tailândia, Indonésia e no Cambodja. Tudo antes de vir para Portugal, em 2017. Saltou da Amazing Promise para a The Summer Berry Company. No início deste ano, começou a trabalhar no Controlo de Qualidade e há pouco tempo assumiu a função de supervisor da sala de embalar. Abrem-se as perpetivas, crescem os sonhos. Mais rápidos do que aprender português. “Só sei dizer ‘bom dia, boa tarde e tudo bem?’.” No horizonte um desejo: trazer os pais para viver em Portugal. “Um país diferente.” E porque por cá se pode “pensar em futuro”.

O indiano Baljeet Singh pertence à última vaga de imigrantes do sudoeste asiático que veio para trabalhar nos campos de Odemira. Agora, o seu grande sonho é conseguir trazer os pais para Portugal, país que lhe ofereceu um futuro (Foto: Artur Machado/Global Imagens)

O de João Alves era, até há três anos, bastante negro. O português, de 31 anos, brinca: “Somos quase uma minoria por estas bandas”. É licenciado em Biologia e Geologia, pela Universidade do Minho. Mestre em Ecologia Marinha, pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde ainda trabalhou no laboratório, antes de ir para os EUA. Regressou à base em plena crise, 2011/2012. Trabalhou dois anos num call center da PT.

Insatisfeito, voltou a estudar, Engenharia Agrónoma. Seguiu-se um estágio do IEFP. Voltou ao desemprego. E de repente tudo mudou, quando respondeu, sem expectativa, a um anúncio que viu num portal online. “Empresa líder na produção de pequenos frutos no Reino Unido procura engenheiro agrónomo para novo projeto no Sudoeste Alentejano.” Concorreu e chamaram-no para entrevista na Hall Hunter.

Ao ser contratado, mudou-se de malas e bagagens para o sudoeste alentejano, no final de 2016. Por coincidência, a mulher, que nessa altura estava a acabar o doutoramento, teve uma oportunidade de trabalho numa empresa a dois minutos de Vila Nova de Milfontes. Mais. “Por uma sorte danada, havia uma vaga na creche, também em Vila Nova de Milfontes, para a nossa filha.”

“Houve quem começasse com pequenos trabalhos de rega e hoje esteja a gerir vários hectares, com milhares de euros nas mãos. E todos temos total confiança neles”
João Alves

João, que faz questão de dizer que não gosta de falsas modéstias, admite que as coisas correm bem também por mérito próprio. Mas não só. “Somos o mais próximo que eu já vi de uma meritocracia. Acaba por não importar muito o que aprendemos antes de aqui chegarmos. Se mostrarmos valor e ambicionarmos mais, acabamos por conseguir alcançar os objetivos, sem que olhem à nossa origem.” Dá exemplos. “Houve quem começasse com pequenos trabalhos de rega e hoje esteja a gerir vários hectares, com milhares de euros nas mãos. E todos temos total confiança neles.”

No princípio, não foi fácil entenderem-se. Sasha, ucraniano, falava português. Ionela, romena, falava espanhol. O amor entre os dois nasceu a quilómetros de distância de onde imigraram para Portugal (Foto: Artur Machado/Global Imagens)

Nos campos de estufas do sudoeste alentejano, coabitam múltiplas nacionalidades. Há tailandeses, nepaleses, bengalis, vietnamitas, paquistaneses, cambojanos, ucranianos, bielorrussos, búlgaros, romenos, moldavos. A lista não tem fim. Mas, nos últimos cinco anos, o número de estrangeiros residentes no distrito de Beja, a que pertence Odemira, aumentou 29,8% – de acordo com o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras). Só em 2018 foram registadas 9 731 pessoas. Mais 2 901 do que em 2014.

No concelho de Odemira, com cerca de 30 mil habitantes, estima-se que os imigrantes representem 20% a 25% da população. Na freguesia de São Teotónio, já devem ser quase metade. Valores bastante acima da média nacional, que não vai além de 4%. O movimento é tanto que o CLAIM (Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes) de Odemira, financiado por fundos europeus, pela Autarquia e por empresas agrícolas e de trabalho temporário que atuam na região, não tem mãos a medir para, por exemplo, fazer pontes entre estes imigrantes e as instituições, como a Segurança Social, os centros de saúde e as Finanças.

Nuno Pereira, presidente da Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur, conquistou uma importante vitória – a construção de alojamentos temporários nas quintas para os trabalhadores (Foto: Artur Machado/Global Imagens)

No período de um ano, entre julho de 2018 e junho de 2019, o CLAIM atendeu 4 567 estrangeiros, praticamente o mesmo número dos dois anos anteriores somados. Na esmagadora maioria, os que chegam são homens (86%), originários do Nepal (43%) e da Índia (41%). “Mas cada vez mais temos também imigrantes do sexo feminino e as respetivas famílias (mãe, pai, filhos)”, garante Nuno Pereira, presidente da AHSA (Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur). Fala por um grupo de 27 empresas, que agrega quatro mil postos de trabalho, na época alta. Perto de dois mil em permanência.

O CLAIM confirma. Tem recebido mais pedidos de reagrupamento familiar e, desde o ano passado, começaram a chegar mais mulheres e filhos. De resto, os próprios dados do SEF refletem essa realidade. Em 2018, só no concelho de Odemira, foram concedidos 59 pedidos de reagrupamento familiar. E os números provisórios deste ano apontam para que tenham duplicado.

Quem vem tem, à partida, grandes dificuldades económicas no país de origem. Nas explorações hortofrutícolas do sudoeste alentejano – que só em termos de AHSA faturam, anualmente, cerca de 220 milhões de euros, sendo que 80% da produção é exportada para mercados do norte da Europa – encontram um meio de melhorar as suas condições de vida e das suas famílias.

A presença dessas comunidades, oriundas de contextos culturais muito diferentes (língua, costumes, religião, gastronomia), e que Nuno Pereira assegura ser atualmente “excessiva para as necessidades da região”, está a transformar a realidade sociocultural alentejana. Por um lado, é uma mais-valia para o desenvolvimento da região. No combate à desertificação e no desenvolvimento económico. Por outro, revela problemas: falta de preparação e condições para integrar povos tão diferentes, e inexistência de alojamento condigno e a preços sustentáveis.

O bracarense, João Alves andou anos a perseguir a Biologia. Um dia, respondeu a um anúncio online da Hall Hunter. Pediam um engenheiro agrónomo. Acabou contratado. E realizado num modelo de meritocracia (Foto: Artur Machado/Global Imagens)

Uma proposta, recentemente aprovada pelo Governo, que poderá contornar essa questão fraturante é o enquadramento do alojamento temporário para trabalhadores dentro das quintas. Contentores, alguns construídos à revelia, passam a ser legais por períodos de cinco anos, mais cinco, improrrogáveis. Após dez anos, as autarquias têm de arranjar uma solução nos perímetros urbanos. “Este documento está muito coerente e abrangente. Muito conciliatório entre as várias dimensões do problema, a laboral, a responsabilidade social e a questão ambiental”, defende Nuno Pereira.

Uma polémica que passou ao lado de Carino Rocha, cabo-verdiano de 32 anos, que trabalha na Vitacress. Vindo de uma “família pobre”, com 11 irmãos. “Gajo aventureiro”, sempre teve “aquele sonho de estudar e de ser alguém da vida”. Um dia, lá conseguiu a sua oportunidade. Ofereceram-lhe, lá na Ilha da Boavista, um curso na Escola Profissional de Odemira. “É pá, Portugal? Europa? É pá, eu alinho. E como é?”, perguntou. “‘Não tens de te preocupar com nada, só com o bilhete de avião. Lá terás escola, casa e comida paga. Bolsa completa’.” Foi a uma agência de viagens. “‘Carino fica em 550 euros, só para ir’. Ui, onde vou arranjar esse dinheiro?” Foi pedir aos amigos. “30 eurinhos aqui, 20 eurinhos acolá. Num instante tive o bilhete na mão.”

Chegou em 2006. O curso técnico de Contabilidade durou três anos. Depois, procurou um estágio. Encontrou lugar na Sudoberry. “Acordava às seis da manhã para apanhar morangos, mas valeu a pena.” Fizeram-lhe um contrato de trabalho, que apresentou no SEF. E ficou legal. Em 2010 ligaram-lhe da Vitacress. “E aqui estou. O contrato de um ano passou a dois, depois a cinco. E agora já estou há nove e tenho a nacionalidade portuguesa, graças à Vitacress.” Como não estar feliz? “Jogo à bola, tenho carro, trabalho, muitos amigos. Tudo o que quero, sou um homem realizado.” E Cabo Verde? “Ah, isso só nas férias de verão.”

Uma parceria entre o Estabelecimento Prisional de Odemira e a produtora de folhas baby Vitacress, uma das fábricas mais antigas na região, permitiu que Fátima Feio, 39 anos, fosse contratada, em 2018, ainda durante o cumprimento da pena de cinco anos e seis meses, após envolver-se com um consumidor e traficante de droga. A adaptação aos colegas não foi difícil.

“Claro que compreendo que algumas pessoas estivessem de pé atrás. Que houvesse preconceito e curiosidade em saber a minha história.” Mais complicado foi o trabalho em si. Formada em Contabilidade, sempre tinha trabalhado em escritórios. “De repente, vejo-me dentro de uma fábrica. Eu conhecia algumas ervas, mas de as comer.” Com o conhecimento dos produtos começou a interessar-se. “E as pessoas foram-se habituando a mim. Não tenho razão de queixa.” Pelo contrário.

Fátima ainda cumpria pena no Estabelecimento Prisional de Odemira quando começou a trabalhar na Vitacress. Carino, cabo-verdiano, encontrou na mesma empresa uma segunda casa e a quem deve a nacionalidade portuguesa (Foto: Artur Machado/Global Imagens)

Antes de sair em liberdade, perguntaram-lhe qual era o seu plano de vida. “Disse que gostava de ficar por aqui, a trabalhar na empresa.” Pediu apoio. Foram as colegas que a ajudaram a alugar a casa onde mora. “No primeiro dia, uma foi buscar lençóis, outra copos. Trouxeram-me o básico para começar de novo.” Depois, conta com graça, faltava um edredão. “Era fevereiro e fazia frio. E lá foi o senhor Pacheco, um dos funcionários mais velhos da Vitacress, comprar um. ‘Pronto, também já cá tem o edredão'”, tenta Fátima imitar, com voz grossa. Retribui o acolhimento com profissionalismo e sempre que pode ajuda os outros, como os imigrantes. Que, como ela, também não são de Odemira. “As pessoas daqui têm mais dificuldade em se dar com eles. E eu tenho a facilidade de falar inglês.”

Mesmo quando não são do setor dela, procuram-na e Fátima lá os encaminha para quem os pode ajudar. Às vezes, vêm os chefes. “Ó Fátima, sabes quem é fulano de tal?” Nem sempre os conhece. “Vai lá espreitar às cuvetes, a ver se está tudo bem com ele, se precisa de algo.” Sorri. “É uma empresa grande, mas, dentro dos possíveis, conseguem ajudar as pessoas. E fazem a diferença.” Ela que o diga.