À procura do corpo perfeito em 3, 2, 1…

Foto: Nuno Pinto Fernandes/Global Imagens

Texto de Cláudia Pinto

Os primeiros meses do ano são os mais adequados para quem procura ter o corpo desejado no verão ou o mais importante é mesmo praticar algum tipo de atividade física independentemente da motivação?

Hugo Gonçalves é personal trainer (PT) no Grande Real Villa Itália Hotel & Spa e tem experiência de vários anos em algumas cadeias de ginásios em Portugal. Começa por contar que é comum haver uma maior afluência em janeiro até para compensar os excessos cometidos na época de Natal e de passagem de ano.

“Há sempre pessoas que têm como resolução de final de ano aquele pensamento de ‘agora é que é, vou mudar e fazer exercício’ mas, pela minha experiência, essas decisões repentinas não duram mais do que três meses”, observa.

Dependendo dos objetivos de cada um, o PT não nota grande diferença nos vários meses do ano, mas garante que “existe uma faixa etária, que vai da adolescência aos 25 anos, que se preocupa mais com a estética e a nível corporal”.

Para Ângela Cardoso, sócia-gerente do The Factory – Fitness & Health, em Guimarães, existe alguma flutuação nos 12 meses do ano, sendo os primeiros seis os que apresentam maior afluência, seguindo-se uma diminuição nos seguintes. “Em abril/maio as inscrições e idas ao ginásio voltam a aumentar, pela busca de uma condição física favorável para o verão que se avizinha. Voltamos a sentir um decréscimo ligeiro a partir de junho, atingindo o seu pico em agosto”, sublinha Nuno Machado, também sócio-gerente do The Factory.

Julho e agosto são meses mais calmos, o que normalmente se justifica pelas férias ou pelo excesso de trabalho. “Em setembro e novembro volta a haver um boom, que acompanha o regresso às aulas e ao trabalho”, explicam os responsáveis. Já o mês com menor afluência é tendencialmente dezembro.

Apesar de haver o desejo de ter um corpo mais tonificado no verão através da perda de peso, por exemplo, que é uma das grandes motivações para a prática de exercício físico, o The Factory – Fitness & Health continua a registar um aumento do número de inscrições por motivos de saúde. Hugo Gonçalves também sublinha essa tendência, sobretudo a partir dos 35 anos. “Recebo alunos em pânico porque foram ao médico e foi-lhes recomendada a prática de exercício físico depois de fazerem um checkup e de terem acesso a resultados preocupantes.”

Os profissionais de saúde acabam por ter um papel importante na decisão de iniciar a prática de exercício físico. “É preciso incentivar muito os portugueses porque a maioria das pessoas não manifesta essa predisposição, não aprecia, nem tem um real conhecimento dos potenciais benefícios para a saúde”, resume Salomé Cardoso, especialista em Medicina Geral e Familiar na USF Longara Vida, em Felgueiras.

Foto: Nuno Pinto Fernandes/Global Imagens

Nas suas consultas, a maior dificuldade que sente é trabalhar a motivação de forma a alterar comportamentos. “Não é nada fácil”, assegura. “Eu até posso querer muito que o meu doente se torne mais ativo e perca peso mas se ele não quiser tanto como eu, ganha-me, ainda que saia a perder. A chave passa por lutar contra todas as ‘desculpas’ que o doente irá lançar para justificar a sua inatividade física e ajudá-lo a encontrar a alternativa viável para si.”

Afinal, o que motiva a começar?

Hugo Gonçalves explica que a preocupação em ter um corpo perfeito no verão atinge mais as mulheres, embora os homens também a manifestem. No entanto, consoante os géneros, as motivações são distintas.

“As mulheres preocupam-se mais com a zona de pernas e glúteos, e os homens com o abdómen e a parte superior do corpo. Isso é claramente assumido nos treinos.” A partir de outra idade, e dependendo da faixa etária, as mulheres também se começam a preocupar com os braços porque não gostam tanto de se ver com algum tipo de roupa.

Mais do que receber pessoas preocupadas com as idas à praia, o PT dá treinos personalizados a quem não se sente confortável com o seu corpo. “Nestes casos, as pessoas querem mesmo mudar, o que ajuda a reforçar o empenho.”

A Direção-Geral da Saúde (DGS) criou o Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física (PNPAF) em 2016, com o objetivo de reduzir o sedentarismo e promover um estilo de vida saudável, “perspetivando o exercício como um medicamento”, refere Salomé Cardoso.

Os resultados de vários estudos, todavia, não demonstram grande sucesso. O sedentarismo prevalece em Portugal, conforme indica o Relatório Anual do PNPAF, divulgado em janeiro, que indica que apenas 5% dos portugueses faz desporto de forma regular. O mesmo documento coloca ainda Portugal como o 11.º país mais sedentário do Mundo.

Independentemente dos fatores que levam a praticar exercício – seja ter um corpo em forma no verão ou por questões de saúde -, Salomé Cardoso é apologista do equilíbrio entre o objetivo e os meios para o alcançar. “Se há ‘medicamento’ abrangente na sua área de atuação esse é, porventura, a prática de exercício físico regular. E as vantagens são notórias, consoante a faixa etária, as condições física e clínica do indivíduo: previne a obesidade infantil, os eventos cerebrocardiovasculares no adulto (principal causa de morte em Portugal), a osteoporose na mulher pós-menopáusica, e atrasa o processo demencial nos idosos, por exemplo.”

Conciliar as necessidades nutricionais com a prática de atividade física “é talvez a chave de tudo”, destaca a nutricionista Natália Costa. Em primeiro lugar, há que traçar objetivos, e depois de tudo estar bem definido, a avaliação nutricional andará de mãos dadas com a avaliação física, de forma a ser delineado um plano de treino para aquela pessoa, com necessidades particulares.

Na opinião de Natália, a alimentação saudável, a ingestão de água e a prática de exercício físico são três pilares essenciais à vida. “Se praticamos exercícios de maior intensidade, vamos necessitar de um maior aporte calórico e de maior ingestão de líquidos”, remata.

CUIDADOS CENTRAIS

• Recomenda-se um início moderado, com progresso gradual para níveis mais intensivos. “É errado praticar exercício três vezes por semana, uma hora, logo no início. Podemos começar uma vez por semana, durante 30 minutos, até que o corpo e a mente se habituem à prática”, sugere o personal trainer Hugo Gonçalves.

• Para iniciar uma atividade física de intensidade leve a moderada não é obrigatória uma avaliação médica prévia, explica Salomé Cardoso. “Como médica de família, prefiro que o meu doente me comunique na consulta que já iniciou a prática do que me venha pedir exames porque está a pensar iniciá-la. O risco é mínimo, pois a maioria da população inativa adota a estratégia ‘start low, go slow’ ao iniciar a prática.”

• “Os doentes com alguma patologia osteoarticular ou cardiorrespiratória devem solicitar aconselhamento prévio ao médico de família para uma orientação ajustada às suas limitações e necessidades”, sugere Salomé Cardoso.

• Hugo Gonçalves prefere ter conhecimento das patologias preexistentes antes de iniciar um treino personalizado de forma a ajustar o tipo de exercício, a regularidade e a intensidade consoante o aluno.

• Para quem quer seguir uma alimentação cuidada, mudar hábitos e estilos de vida, é fundamental procurar ajuda profissional. “Vivemos numa era do digital em que somos inundados diariamente por imagens de corpos bonitos e trabalhados, nas quais os protagonistas têm tanto de nutricionista como de personal trainer”, alerta Natália Costa, ela própria nutricionista.