A nicotina é cruel e o tabaco entra nas veias. Como deixar de fumar?

O tabagismo é uma doença crónica com altos e baixos e, em média, um fumador faz quatro a cinco tentativas para deixar de fumar até conseguir de uma vez por todas. Seis dicas para deixar de fumar.

Os fumadores têm, em média, menos dez anos de vida do que os não fumadores e o tabaco é responsável por 25 a 30% da totalidade de cancros, por 80% das doenças pulmonares crónicas obstrutivas e por 90% dos cancros do pulmão. Os cigarros matam mais de sete milhões de pessoas por ano e, segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de mortes devido ao tabaco aumentou em três milhões desde o início deste século. Só na Europa, o tabaco é responsável pela morte de 1,2 milhões de pessoas a cada ano que passa. 31 de maio é mais um dia para relembrar o que o tabaco faz à saúde. E não faz nada bem.

“O fumo do cigarro é uma mistura tóxica de mais de 7000 produtos químicos entre os quais a nicotina, a única substância do cigarro que causa dependência e, importa referir, que está também presente nos novos produtos de tabaco (cigarro eletrónico, tabaco aquecido) desencadeando os mesmos efeitos que o cigarro”, adianta à NM Susana Simões, pneumologista do Centro Clínico da Fundação Champalimaud.

O tabaco deixa marcas no organismo e elas acumulam-se – é possível o aparecimento de um cancro do pulmão mesmo 20 anos depois de deixar de fumar. A mistura tóxica chega rapidamente aos pulmões, quando o fumo é inalado, e passa para a corrente sanguínea e para os tecidos celulares. E as lesões manifestam-se. “O tabagismo causa lesão em quase todos os órgãos originando várias doenças e reduzindo o estado global de saúde dos fumadores.” É responsável por cerca de 15% das doenças oncológicas.

Entre 80 a 90% dos casos de cancro do pulmão são atribuídos ao tabagismo. Não fumar é a melhor forma de prevenção

Os avisos são constantes e surgem de quase todos os lados. Fumar faz mal à saúde. Está provado e comprovado. “Quando comparado com não fumadores, os homens fumadores têm um risco 23 vezes superior de desenvolver este tipo de tumor [cancro do pulmão] e as mulheres fumadoras cerca de 13 vezes superior. O cancro do pulmão é a doença oncológica com maior número de novos casos diagnosticados e a que tem taxa de mortalidade mais elevada”, adianta a especialista em pneumologia oncológica que avisa que o tabagismo causa, anualmente, mais mortes do que o conjunto das seguintes doenças e circunstâncias: vírus de imunodeficiência humana, uso ilegal de drogas, alcoolismo, acidentes de viação e acidentes com armas de fogo.

A nicotina que está nos cigarros atua sem dó nem piedade. É um produto psicoativo, movimenta-se bem no sistema nervoso central e condiciona a libertação de substâncias que conferem uma sensação de prazer, relaxamento e bem-estar. Causa dependência e, dessa forma, a paragem do seu consumo leva ao aparecimento de sintomas de privação, como a necessidade imperiosa de fumar, ansiedade, irritabilidade, dores de cabeça, insónia. São tão mais intensos quanto maior a dependência. “Estas queixas são as responsáveis pela dificuldade em deixar de fumar, pois o fumador em cessação sabe que ao voltar a fumar os sintomas desaparecem dado que coloca novamente nicotina no seu organismo, aumentando os seus níveis no sangue”, sustenta.

“O tabagismo é causa de morte, doença e empobrecimento. A epidemia do tabaco é uma das principais ameaças à saúde pública”
Susana Simões
pneumologista do Centro Clínico da Fundação Champalimaud

O Mundo já sabe que a exposição passiva ao fumo de tabaco também é causa de doença. “O fumo ambiental dos restaurantes, locais de trabalho e outros espaços fechados, conhecido por correntes secundária e terciária do fumo do tabaco, resulta do fumo que é produzido enquanto os fumadores queimam os cigarros, cigarrilhas e charutos, e corresponde a mais de 4000 constituintes químicos do fumo do tabaco dos quais pelo menos 250 são conhecidos por causarem lesões e mais de 50 são carcinogénicos.” E o fumador passivo não tem qualquer proteção.

Nos adultos, o fumo do tabaco dos outros pode causar doenças cardiovasculares e respiratórias graves. Nas crianças, pode ser causa de morte súbita. Nas grávidas, pode causar complicações da gravidez e baixo peso do recém-nascido. Susana Simões lembra que o tabagismo passivo é responsável por aproximadamente 1,2 milhões de mortes prematuras todos os anos e cerca de 65 mil crianças morrem anualmente de doença relacionada com exposição passiva ao fumo do tabaco.

“Qualquer pessoa tem direito a inalar ar livre de fumo de tabaco e as políticas relativas a este tema que protegem a saúde dos não fumadores são populares, não prejudicam os negócios e encorajam os fumadores a cessar os seus hábitos tabágicos. Em todo o Mundo, 1,4 mil milhões de pessoas, ou seja, cerca de 20% da população mundial, estão protegidas por leis nacionais abrangentes contra o fumo”, sublinha.

Os novos produtos de tabaco não são isentos de risco para a saúde. Esses dispositivos também contêm nicotina, substância altamente aditiva que existe no tabaco

Neste momento, não existe evidência que demonstre que os novos dispositivos são menos prejudiciais do que o cigarro convencional. “Afirmar que os novos produtos são menos tóxicos não significa que se reduza o risco de doença. Por permitirem imitar o comportamento dos fumadores de cigarro convencional, podem condicionar o risco de os fumadores de cigarros alterarem os seus hábitos para estes novos produtos em vez de tentarem parar de fumar”, refere Susana Simões, acrescentando que, atualmente, a experimentação e uso de cigarros eletrónicos e outros produtos de tabaco pelos adolescentes e jovens “está a sofrer um crescimento exponencial e já se demonstrou que aumenta o risco de iniciação também no cigarro convencional e noutras drogas”.

Cada vez que se tenta deixar de fumar, a possibilidade de o conseguir é maior. O recurso ao médico assistente ou a consultas especializadas em cessação tabágica aumenta o sucesso da tentativa. E é preciso ter noção que só a medicação não é suficiente, também é necessário ter motivação. Muita motivação. Muita força de vontade. E persistência.