À espera do primeiro filho? Saiba o que vai mudar na sua vida sexual

Para muitos casais, o nascimento do primeiro filho representa o ponto mais marcante do relacionamento. Mas, se a chegada da parentalidade é um momento de grande alegria, também provoca uma mudança drástica na relação a dois. E em particular na vida sexual do casal. Menos sexo? Provavelmente. Acima de tudo, convém que saiba com o que pode contar.

Antes de mais, há que ter em conta que, nisto do sexo depois do primeiro filho, não há fórmulas universais. Se há casais que, meses depois, já quase voltaram à normalidade, noutros casos chegam a passar-se anos até que a intimidade volte a ser como era. No pior dos cenários, há mesmo casais em que as coisas não mais voltam ao “estado original”.

“O nascimento de um filho tem um impacto relevante no relacionamento de um casal. Isso depende de um conjunto variado de circunstâncias: duração da relação, filho desejado ou indesejado, qualidade da relação, fase das vidas profissionais do casal, eventuais problemas de fertilidade, etc. Mesmo que a maior parte dos nascimentos de um primeiro filho sejam altamente desejados, isso não significa que um acontecimento ‘positivo’ não tenha consequências, mais ou menos inesperadas, que são indesejadas”, começa por explicar José Pacheco, psicólogo clínico e sexólogo.

A vida do casal sofre uma mudança drástica e, como noutras alterações relevantes, é preciso que haja uma reestruturação familiar, para que tudo volte a fluir com naturalidade. “Tem de haver uma adaptação ao ‘trio’. Mas essa reestruturação pode ser difícil, até porque implica um impacto grande na vida social”, destaca Ana Carvalheira, doutorada em Psicologia da Sexualidade.

“Tem de haver uma adaptação ao ‘trio’. Mas essa reestruturação pode ser difícil, até porque implica um impacto grande na vida social”
Ana Carvalheira
doutorada em Psicologia da Sexualidade

Um impacto que, com frequência, se traduz na degradação da vida sexual. Mesmo que a parentalidade, por vezes, tenha as costas demasiado largas. “Quase todos os estudos que analisaram a questão indicam que os casais diminuem a frequência de relações sexuais depois do nascimento de um filho. Mas não nos iludamos: uma grande parte já tinha diminuído essa frequência durante o último trimestre da gravidez e outra fatia relevante, sobretudo nas relações mais longas, já a tinha diminuído ainda antes da gravidez”, avisa José Pacheco.

Mas vamos por partes. Tudo começa com o puerpério, o período que vai desde a expulsão da placenta até seis a oito semanas após o parto. Neste período, o corpo da mulher passa por profundas modificações para voltar ao estado pré-gravidez. As alterações ocorrem tanto a nível emocional como físico, com a expulsão dos tecidos remanescentes e a regeneração uterina. Por esse motivo, durante o período de puerpério, também chamado de quarentena, o sexo vaginal está proibido.

“Cada casal vai ter a sua história, o seu ritmo e o seu tempo. Para alguns casais, o regresso às relações sexuais acontece logo no segundo mês. Para outros, só ao sexto. Depende de muitas circunstâncias. Até do parto. Se houve cesariana ou parto natural. Seja como for, é importante encontrar um período em que haja um encontro sexual entre o casal. Não tem que terminar no coito vaginal”, sugere Ana Carvalheira.

“Cada casal vai ter a sua história, o seu ritmo e o seu tempo. Para alguns casais, o regresso às relações sexuais acontece logo no segundo mês. Para outros, só ao sexto. Depende de muitas circunstâncias. Até do parto”
Ana Carvalheira

Até porque também há que ter em conta as alterações do foro biológico. “Se a mulher está a amamentar, há uma subida da ocitocina, que pode fazer com que haja uma diminuição do desejo sexual”, alerta a sexóloga. Além do cansaço natural, que advém das muitas noites mal dormidas.

Por isso, Ana Carvalheira sugere uma “reestruturação do quotidiano”: “É muito importante que a esfera do casal, a esfera do nós, esteja bem diferenciada dos outros subsistemas familiares. Para além de terem nascido como pais, continuam a ser um casal. E tem de haver uma diferenciação do papel parental.”

Soluções? Lá está, não há fórmulas universais. “A questão sobre as estratégias para remediar a menor frequência de relações sexuais é a que podia valer um milhão. A questão assume que isso é um problema, mas, para uma parte dos casais, não o é. Para outros, se elencarmos uma série de hipóteses de solução, todas serão descartadas porque quase sempre envolvem separar-se do bebé para criar um cenário mais privado e romântico entre o casal. Por isso, entendemos que o melhor é cada casal encarar essa dificuldade de frente e encontrar uma solução consensual para ambos. Mas tratem do assunto o mais depressa possível, antes que crie ressentimentos vários que ainda tornarão o problema maior. Se sentirem que pode ajudar, peçam ajuda a um especialista em sexologia ou terapia de casal, conforme os casos”, recomenda José Pacheco.