A diabetes provoca infeções urinárias e quem mais sofre são as mulheres

Texto de Sara Dias Oliveira

A diabetes tipo 2 é frequentemente associada a várias infeções e, no caso das mulheres, as urinárias são as mais comuns, sobretudo por causa da fisionomia feminina. Mas a ligação que existe entre estas duas patologias relaciona-se, essencialmente, com os danos imunológicos causados pela diabetes e com um controlo incorreto da glicémia. O aumento da concentração de glicose na urina potencia o crescimento bacteriano. E os problemas manifestam-se.

A diabetes resulta da presença de excesso de açúcar no sangue e da falta do mecanismo da sua regulação. “Este excesso de açúcar no sangue provoca a médio/longo prazo a lesão de todos os órgãos do corpo. No caso da infeção urinária, a diabetes é um importante fator de risco não só porque diminui as defesas do nosso corpo contra qualquer infeção, como altera a sensibilidade da bexiga”, adianta à NM Nuno Domingues, médico urologista. “Em última instância, um doente diabético pode mesmo ter uma infeção urinária grave sem qualquer sintoma associado”, avisa.

Em Portugal, o número de diabéticos é superior a um milhão, mas apenas 700 mil pessoas estão diagnosticadas.

Um doente diabético tanto pode ter os sintomas habituais – dor, ardor, alteração da cor e cheiro de urina, aumento da frequência urinária, sensação de esvaziamento incompleto, perda de sangue na urina e até mesmo febre -, como não ter qualquer sintoma. E por que razão as mulheres são as principais afetadas? Por causa da sua anatomia. “A proximidade entre a vagina e a uretra feminina, assim como o facto de a uretra ser de pequena dimensão, leva a que qualquer micro-organismo que habite nesta zona facilmente chegue à bexiga. Daí a facilidade com que se desenvolve a infeção urinária na mulher”, explica o médico. O esvaziamento incompleto da bexiga desencadeado pela diabetes também pode ser responsável por este problema de saúde.

A prevenção nestes casos começa com um bom controlo da diabetes. Se a doença estiver controlada com a medicação prescrita pelo médico, tudo o resto fica melhor. Uma boa alimentação e uma prática de exercício físico regular fazem parte das boas medidas para manter a diabetes controlada. Nuno Domingues adianta que a ingestão de líquidos desempenha um papel decisivo relativamente à prevenção da infeção urinária, em caso de diabetes. “A melhor forma de avaliar a quantidade de líquidos necessários é através da cor da urina, quando a cor é da cor da água ou amarelo claro significa que estamos a ingerir os líquidos necessários”, especifica.

“No caso particular das mulheres em idade de menopausa, este é também um fator de risco importante. Dada a falta do ambiente hormonal que protege as mulheres, esta pode provocar a secura vaginal, ausência de lubrificação normal, situação frequente na mulher em menopausa. Esta ausência de lubrificação na vagina não protege a mulher contra as infeções urinárias”, refere o urologista. Nestas situações, as mulheres devem procurar o seu médico.

Uma alimentação saudável e hábitos regulares de exercício físico ajudam a controlar a diabetes.

Há a medicação, os antidiabéticos orais e a insulina, se necessário. “Neste campo é importante que o doente tenha acesso ao tratamento mais adequado às suas características e da sua doença”, diz o especialista. Quanto à infeção urinária a mensagem é a mesma: hábitos de vida saudável através da ingestão adequada de líquidos. “Para o tratamento propriamente dito, temos a medicação que atua ao nível dos sintomas, e temos a medicação para eliminar a infeção, os antibióticos”. E uma chamada de atenção. “Nem todos os doentes com sintomas urinários têm infeção urinária, daí que a mensagem seja, procure o aconselhamento do seu médico”.

Nos dias 15 e 16 de fevereiro, centenas de médicos reúnem-se num dos maiores encontros nacionais relacionados com a diabetes. As Jornadas de Diabetologia Prática para a Medicina Familiar têm lugar no Hotel Vila Galé, na Ericeira. Há vários assuntos em análise, as infeções urinárias e a diabetes e o que há de novo na monitorização da glicose. O encontro tem também espaço para a discussão de casos clínicos, para a análise das terapêuticas injetáveis, para a alimentação dos doentes e para a partilha de novos conceitos em torno da diabetes.