O vírus que provoca o cancro do colo do útero está em todo o lado

O Papilomavírus Humano (HPV) é o principal responsável pelo cancro do colo do útero. É a infeção sexual mais frequente no mundo e qualquer pessoa sexualmente ativa, ou que já tenha tido relações sexuais, pode já ter contraído esta infeção por HPV – considerado o segundo carcinogéneo mais relevante a seguir ao tabaco. Este vírus não é esquisito: não escolhe idades e não escolhe géneros.

Não há muitos sinais numa fase inicial e, portanto, não há queixas. Mas um exame ginecológico simples, que analisa o colo do útero com um espéculo vaginal, ajuda a detetar alterações. “Antes de as células do colo se transformarem em malignas, passam por modificações que podem ser facilmente detetadas na citologia, o chamado Papanicolau, ou, mais recentemente, através da presença de infeções por HPV. Se as mulheres fizerem o rastreio, é possível identificar e tratar as lesões precursoras e, deste modo, nunca chegar à fase de cancro”, adianta Paula Ambrósio, especialista em ginecologia e obstetrícia no Hospital Vila Franca de Xira.

Todos os anos, na Europa, surgem 60 mil casos de cancro do colo do útero, 30 mil são fatais

A situação pode, contudo, piorar. “Quando as células já são invasivas, os sintomas mais frequentes são a hemorragia vaginal anormal (por exemplo, quando surge entre os dias normais do período menstrual, nas mulheres que ainda menstruam ou após as relações sexuais), o corrimento vaginal com odor intenso e sangue, e, em casos mais avançados, as dores na região pélvica e lombar”, diz a especialista.

Não existem grupos de risco específicos para esta infeção, ao contrário das outras infeções sexualmente transmissíveis. E como é um vírus que está em todo o lado e que afeta praticamente todas as pessoas sexualmente ativas, explica médica, a sua incidência é muito elevada.

Cerca de 70 a 90% das pessoas será infetada ao longo da sua vida, desde que iniciam a sua atividade sexual. Atualmente, cerca de 20% das mulheres portuguesas, entre os 18 e os 64 anos, estão infetadas pelo HPV.

“Se as mulheres fizerem o rastreio, é possível identificar e tratar as lesões precursoras e, deste modo, nunca chegar à fase de cancro”. (Paula Ambrósio, especialista em ginecologia e obstetrícia)

“Este vírus transmite-se com muita facilidade através do contacto entre pele e mucosas, e o preservativo apenas protege a sua transmissão em cerca de 70% dos casos. Deste modo, a única forma de prevenir a infeção por HPV é fazer a vacina, pois esta permite adquirir imunidade contra o vírus e, assim, combater a infeção.”

O cancro do colo do útero, dependendo da fase em que é diagnosticado, pode ser tratado por cirurgia, por quimioterapia associada a radioterapia, ou apenas por radioterapia.

“A idade da doente, a fase da doença e os riscos e benefícios associados são os aspetos mais importantes na tomada de decisões,” adianta a especialista

“Quando as células neoplásicas ainda não são invasivas, ou seja, quando ainda estão confinadas ao colo do útero e sem capacidade de se espalharem para outros órgãos, a conização é o tratamento mais eficaz”. É uma pequena cirurgia para remover a porção do colo do útero em que se encontram as células alteradas e, habitualmente, é realizada sob anestesia local por um ginecologista especializado neste tipo de procedimento.