Vasco Freitas: o cabeleireiro portuense que corre o mundo

Texto de Sara Oliveira

Corre o Mundo, onde tem lugar cativo nos bastidores das grandes marcas nas principais semanas de moda. No entanto, sempre que as luzes se apagam, regressa à Foz do Douro, no Porto, para recuperar energias e mimar as clientes habituais.

Na rua de Gondarém, Vasco Freitas exerce a profissão que escolheu depois de começar, por brincadeira, “a rapar o cabelo de amigos que iam para a tropa”. O pai até tinha uma barbearia, mas o agora “hair stylist” preferiu sempre o futebol. Até ao dia em que experimentou a arte e “o bichinho cresceu”. “Depois, já era o meu pai que dizia para eu estudar e eu a querer ser cabeleireiro”, conta, orgulhoso com o percurso trilhado.

O pai de Vasco Freitas tinha uma barbearia, mas o agora “hair stylist” preferiu sempre o futebol

Vasco Freitas abraçou a carreira há 19 anos. E nunca mais parou. “Comecei na Isabel Queiroz do Vale, onde estive cinco anos e fiz toda a aprendizagem. Depois, passei para o Miguel Viana e foi aí que me iniciei na moda, como seu assistente”, frisa.

Nessa altura, criou fortes ligações com diversos estilistas, como Nuno Baltazar, Luís Buchinho e Katty Xiomara, e acompanhou o surgimento de outros. Aliás, é precisamente por isso que continua a trabalhar em Portugal, apesar de ter cada vez mais solicitações internacionais.

A vontade de singrar além-fronteiras surgiu quando, “aos vinte e pouco anos”, já afirmado no meio nacional, decidiu desafiar-se. “Imprimi o meu portfólio, tirei uma semana de férias e fui para Paris bater à porta das agências menos cotadas.” Regressou desiludido. Mas não desistiu. “Um dia, pensei: ‘perdido por cem, perdido por mil’. E insisti.

“Imprimi o meu portfólio, tirei uma semana de férias e fui para Paris bater à porta das agências menos cotadas.”

Mandei um e-mail a grandes agências com o meu portfólio e o website meio caseiro”, recorda. A oportunidade surgiu no final da década de 2000, quando foi contactado pela reputada Art+Commerce: “Passado um mês, estava a trabalhar na Dolce & Gabbana em Milão”. Mas nem tudo foi fácil.

“Tive um mau momento em Paris. Não me dei bem e queria abandonar o barco. Tinha a opção da Givenchy, mas ninguém me respondia. Foi um desespero muito grande. Só queria voltar a Portugal, quando o [modelo] Tiago Severo me aconselhou a enviar um e-mail. Se recebesse o ‘não’, voltava ao Porto. Caso contrário, esperava pelo [desfile] da Chanel, no dia seguinte.” A resposta foi positiva. E foi aí que tudo mudou, pela mão do famoso “hair stylist” italiano Luigi Murenu, que o lançou definitivamente no circuito mundial.

Ao marcar presença em mais uma edição do Portugal Fashion, no Porto, a temporada de Vasco Freitas chegou agora ao fim. É a última página de um capítulo que arrancou com o Festival de Cinema de Veneza, no final de agosto, em que assinou os penteados de Cate Blanchett e de Sara Sampaio, seguindo-se a “Fashion Week” de Nova Iorque e Londres.

Após três dias no Porto, viajou para Milão e Paris. Nova passagem pela Invicta e mais uma viagem à capital francesa, antes de terminar em casa. Daqui a nada, tudo volta ao início. Outros capítulos, outras viagens, outros desafios. Aos 35 anos, nada lhe tira o fôlego.