UNICEF diz com as letras todas: Supernanny viola direitos das crianças

Texto de Ricardo J. Rodrigues | Fotografia DR

É a própria Convenção dos Direitos das Crianças que está em causa, diz a UNICEF, num comunicado a que a Notícias Magazine teve acesso e que será distribuído hoje ao final da tarde às redações de todo o país.

«O conteúdo do programa televisivo Supernanny, transmitido ontem, dia 14 de Janeiro, pela SIC, vai contra o interesse superior das crianças, violando alguns dos seus direitos, nomeadamente o direito da criança a ser protegida contra intromissão na sua vida privada.»

Também o pedopsiquiatra Pedro Strecht condenou a exposição desnecessária de crianças nos meios mediáticos. «Isto pode criar rótulos na criança e na sua família que podem ter grande impacto no futuro.»

A delegação portuguesa do organismo das Nações Unidas para a proteção da criança apela ao Estado, nomeadamente à ERC, a tomar «as medidas necessárias para proteger as crianças e o seu bem estar.» Também pede aos meios de comunicação social para que assegurem sempre o superior interesse da criança, nomeadamente o seu bem-estar físico e mental em todos os canais e programas. «A exposição pública, nomeadamente dos comportamentos violentos retratados, poderá colocar em causa o bem-estar da criança e o seu desenvolvimento atual e futuro.»

Também o pedopsiquiatra Pedro Strecht condenou a exposição desnecessária de crianças nos meios mediáticos. «Isto pode criar rótulos na criança e na sua família que podem ter grande impacto no futuro.» Strecht, que não viu o programa, acredita que abordar os assuntos retratados por aquele formato televisivo «é útil se não for exibicionista».

E considera que «um programa passado em horário nobre e em competição com reality shows não só expõe desadequadamente as crianças como os seus pais, que muitas vezes estão desesperados e precisam de ajuda.»

Supernanny é um programa televisivo que nasceu em Inglaterra em 2004 e foi replicado em diversos países, dos EUA ao Brasil, da China a França, da Alemanha a Espanha. Em 2008, o Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas, num relatório de recomendações ao Reino Unido, referia que a participação da criança em reality shows televisivos pode constituir uma interferência ilícita à privacidade da criança.

A estreia da versão portuguesa, ontem, na SIC, tem provocado reações acesas. A Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens e a Ordem dos Psicólogos teceram já duras críticas à SIC por transmitir este programa, à qual mais tarde se juntou o Instituto de Apoio à Criança, que está a trabalhar a nível europeu numa diretiva que impeça os pais de terem acesso à imagem dos filhos. A Notícias Magazine contactou Luís Proença, diretor de programas do canal, que remeteu uma resposta para mais tarde.