Um porto seguro para doentes com leucemia e famílias

Texto Sara Dias Oliveira

É um grande desafio. Um projeto que permitirá a doentes hemato-oncológicos deslocados e com carência económica, e respetivos familiares, ficarem alojados num local onde poderão receber todo o apoio que necessitam, durante o período de tratamentos necessário à recuperação. A Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL) vai colocar mãos à obra para a construção da Casa Porto Seguro. A empreitada arrancará no primeiro semestre do próximo ano e deverá ficar concluída um ano depois.

A casa nascerá na rua Dom Luís de Noronha, num edifício cedido pela Câmara de Lisboa, a um quilómetro do Instituto Português de Oncologia e a dois quilómetros do Hospital de Santa Maria, as duas unidades de transplante de medula óssea da capital. O objetivo é albergar 16 pessoas, oito famílias, de cada vez.

Terá oito quartos com casa de banho individual, sala de jantar comum, sala de estar também comum com espaço dedicado às crianças, uma cozinha, zona de lavandaria, jardim e espaço de lazer, onde doentes e familiares possam relaxar e conviver com a natureza.

Todos os anos aparecem 60 a 100 novos casos de leucemia por cada milhão de indivíduos, 90% dos quais em adultos.

Muitos doentes com leucemia necessitam de tratamentos que só podem ser feitos em hospitais centrais de Lisboa. O que obriga a muitas deslocações e, por vezes, precisam de permanecer meses, sobretudo quando submetidos a transplante. Muitos não têm familiares ou amigos com quem possam ficar quando têm alta. Nestes casos, a casa da APCL permitirá acolher o doente e um acompanhante, com conforto e dignidade, contribuindo assim para amenizar um período difícil.

A ideia da Casa Porto Seguro vem desde 2002, início da criação da APCL. “Fomos, ao longo dos anos, recebendo alertas de doentes, cuidadores e profissionais de saúde sobre o quão importante seria que a casa de acolhimento para doentes hemato-oncológicos e familiares se tornasse uma realidade”, adianta Carlos Horta e Costa, vice-presidente da APCL.

Um lar para partilhar expectativas

“O objetivo é dar qualidade de vida aos doentes e familiares que se encontram deslocados das suas zonas de residência, retirando-lhes a preocupação de procurar uma casa com as condições necessárias a acolher um doente hemato-oncológico e dando-lhe um ‘lar’ onde poderão partilhar com outras famílias as dúvidas, expectativas e experiências”, explica o responsável.

Esses doentes deslocados podem ter períodos curtos de alta que não lhes permite regressar a casa. “Além disso, acreditamos também que um doente mais focado na sua terapia, ou seja com menos problemas que o perturbem, é um doente com mais probabilidades de adesão à mesma”, sublinha.

As solicitações serão feitas pelos serviços sociais dos hospitais e as condições socioeconómicas de cada doente serão tidas em consideração.

Que consequências podem ter as leucemias e linfomas na saúde dos doentes? Mais tarde ou mais cedo, consoante a gravidade do caso, vão precisar de tratamento feito com recurso a quimioterapia, que pode ser associada a outros medicamentos mais recentes e com diferentes mecanismos de ação.

“Seja qual for a modalidade, irão interferir com as defesas do organismo e tornar os doentes mais suscetíveis a infeções. Daí a necessidade de um acompanhamento médico regular, com análises e consultas, situação que se pode prolongar por vários meses, ou mesmo anos”, refere Manuel Abecasis, presidente da APCL e diretor do Departamento de Hematologia do IPO de Lisboa e do Programa de Transplantação de Medula Óssea.

“As atividades da vida diária, desde os cuidados pessoais como no trabalho, ficarão mais ou menos limitadas, necessitando com frequência do apoio de familiares e amigos”, refere o presidente da APCL.