Poderá Trump sair da Casa Branca por problemas de saúde mental?

Texto Ricardo J. Rodrigues Fotografia D.R.

«Por acaso, ao longo da vida, as minhas duas maiores vantagens têm sido ser emocionalmente estável e, tipo, verdadeiramente esperto. Fui de empresário MUITO bem sucedido a estrela de TV de topo e daí a presidente dos Estados Unidos (à primeira tentativa). Acho que isso não me qualifica como esperto mas sim como génio. Um génio muito estável.»

Foi com estas palavras que Donald Trump respondeu no Twitter, a 6 de janeiro, a quem diz que o presidente norte-americano tem problemas de saúde mental e pode vir a ser destituído do cargo.

O discurso sobre a alegada demência de Trump tem subido de tom nas últimas semanas, com a publicação de um artigo de capa na revista The Atlantic, e com a publicação de Fire and Fury, o livro de Michael Wolff que mostra o caos da sua candidatura e da sua vitória nas eleições.

«Estes comentários fazem parte de um padrão mais alargado de comportamentos muitas vezes alarmantes para a pessoa que ocupa o mais alto cargo da nação.»

Segundo a Atlantic, há evidências cada vez maiores da decadência mental do presidente. O artigo começa por falar no tweet que o presidente escreveu gabando-se do tamanho do seu botão nuclear em comparação com o do presidente da Coreia do Norte. «Estes comentários fazem parte de um padrão mais alargado de comportamentos estranhos e muitas vezes alarmantes para uma pessoa que ocupa o mais alto cargo da nação», escreve o jornalista James Hamblin.

Semanas antes, uma série de pequenos episódios tinham sido classificados pelo neurocirurgião Sanjay Gupta, uma das maiores autoridades do país nos estudos do cérebro, como claras «anomalias».

Em duas ocasiões, Trump interrompeu discursos para beber água e segurou o copo e a garrafa com as duas mãos, como se fossem uma caneca, ou como se não tivesse total controlo sobre os seus movimentos.

E depois houve o discurso a anunciar a mudança da embaixada norte-americana em Israel de Telavive para Jerusalém, que denunciava algumas dificuldades fonéticas do presidente norte-americano. A Atlantic usou isso para investigar discursos do passado de Trump e compará-los com o presente – e concluiu que as suas faculdades de raciocínio estão em queda livre.

O livro de Michael Wolff, saído esta semana, também não tem ajudado Trump. Fire and Fury, que deverá chegar às livrarias portuguesas em fevereiro, é um retrato visto de dentro da campanha e da eleição do republicano. E mostra-o como homem sozinho, sem capacidade de governar – coisa em que até os seus colaboradores mais próximos concordam.

Donald nega os conteúdos do livro como nega as notícias – tudo é fake. Mas não se livra do debate que se está a criar ao fim de um ano de presidência. Terá o chefe de Estado problemas de saúde mental? E, se sim, estará ele capaz de governar?

A questão tem posto milhares de pessoas a consultarem a Constituição americana. Mais concretamente a 25ª Emenda, que define que um presidente possa ser destituído caso o vice-presidente, a maioria do seu Executivo e a maioria do Congresso concordarem que ele não está apto para conseguir executar as suas funções nem exercer os seus poderes.

Trump só pode ser destituído com o acordo do seu vice-presidente, da maioria do seu executivo e com a maioria do Congresso.

Este debate já aconteceu no passado, quando Franklin D. Roosevelt, que sofria de poliomielite, tentou esconder nos anos trinta a necessidade de se deslocar de cadeira de rodas.

Na altura, a imprensa perguntou-se se ele estaria apto a cumprir o papel. Mas a sua base de apoio era demasiado forte e a destituição nunca viria a acontecer.

Trump, pelo contrário, é um homem de que nem os seus mais próximos parecem certos de estar em condições de fazer o trabalho. Mas, como diz T.H. Frank, jornalista da Vanity Fair, um golpe de estado pode já estar em marcha, mesmo que não se traduza necessariamente numa destituição.

«Ainda não se pode falar de um largo consenso em relação à demência de Trump. Mas o gabinete parece já estar a retirar-lhe poderes, aprovando medidas que não passam por ele.»

Então há esta circunstância de não interessar tanto se o presidente tem ou não problemas de saúde mental. Porque, segundo Frank, já não é ele que manda. E isso não é nem um milímetro menos perigoso.