Terráqueos sem Terra

Notícias Magazine

Não tenho dúvidas de que existe vida para lá da Terra, mas duvido que a espécie humana seja mesmo de cá.

Tememos invasores extraterrestres que nos venham roubar o planeta e os recursos vitais e, no entanto, comportamo-nos como a espécie invasora.

Se fôssemos mesmo daqui, saberíamos viver em harmonia com a Natureza que nos sustenta e com os outros animais. Diz-se que já soubemos fazê-lo e abdicámos disso para nos lançarmos à descoberta daquilo que o nosso intelecto nos permitiria alcançar.

A avaliar pelo resultado, o intelecto humano é um pouco tonto. Quer alcançar o infinito comprometendo o finito, sabendo bem que sem o sustento da Terra, não há infinito nenhum a alcançar, a não ser o da extinção.

Dizem que a definição de louco é aquele que teima em obter um resultado diferente optando sempre pelo mesmo caminho. Seremos todos loucos, à espera de que o caminho em que estamos não nos leve à destruição, enquanto vamos destruindo a terra em redor.

Aniquilamos a única casa em que sabemos poder viver como se isso fosse algo natural e expectável, mas tememos o perigo intergaláctico que espreita da estrela cadente mais próxima. Ou pior: procuramos outro planeta parecido com o nosso, para onde possamos ir, quando este der o berro. É a política da Terra queimada. Quando destruirmos tudo à volta, partimos para o próximo poiso.

Nesse poiso irão estar uns seres de nariz no ar à espera que cheguemos e lhes conquistemos o planeta. Mas se lá chegarmos, talvez encontremos aquela terra usada e abusada, sem retorno e teremos pena de uma espécie assim, maldita e danada.

A guerra que declarámos à natureza é uma guerra contra nós. Teimosos, achamos que não pertencemos a nada, mas que tudo isto nos pertence. Que o intelecto nos vai salvar. Vai inventar umas máquinas que criam o Sol, a chuva, as abelhas e as sementes. Ou um humano que não precise de Sol, nem de chuva, nem de abelhas ou sementes.

Não será humano, esse ser. Será outra coisa que habitará outro mundo. O mundo que deixaremos depois da destruição. O ser destituído, num mundo destruído. Resolução de ano novo: não ter medo de extraterrestres, mas sim dos terráqueos que mordem a mão de quem lhes dá vida.